'Meu ex me traiu com minha mãe, a perdoei e o traí com o meu atual marido'

A empresária Maria*, hoje com 43 anos, começou sua primeira história de amor aos 16. Em Volta Redonda (RJ), conheceu um rapaz e, no dia seguinte, já estavam namorando.

Quatro anos depois, casaram-se e começaram a construir uma vida juntos. "Eu sentia gratidão por ele e pela família dele, que me acolheu como filha, já que cresci sem meus pais, em condições muito humildes", conta Maria.

Apesar de enxergar amor em cada conquista que dividiam —casa própria, carro, estabilidade—, ela reconhece hoje que seu envolvimento era mais sobre carência e a busca por uma família do que sobre paixão verdadeira.

'Bebiam juntos'

No início, a maior dificuldade enfrentada pelo casal era o consumo excessivo de álcool pelo marido, um problema que parecia resolvido quando ambos entraram na igreja evangélica.

Ele largou a bebida, e o período foi marcado por paz e a chegada da filha.

No entanto, desentendimentos com membros da igreja acabaram afastando-os da congregação. Com isso, o marido voltou a beber, e o consumo descontrolado tornou-se uma rotina novamente.

Foi nesse contexto que a mãe de Maria começou a frequentar mais a casa da filha. Recém-separada, a mulher buscava curtir a neta e "recuperar o tempo perdido".

Minha mãe era muito próxima, nos tratávamos como amigas, e ela chamava meu ex de 'meu filho'. Eles bebiam juntos, riam e conversavam sobre assuntos que eu evitava, já que ela tinha um passado complicado e histórias que me incomodavam.

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'Senti mundo desabar'

A amizade entre sua mãe e seu marido parecia inocente até que, um dia, a verdade veio à tona.

"Ela me contou que, em uma dessas tardes, a bebida não foi suficiente. Eles usaram cocaína e foram para um motel próximo." A mãe disse a Maria que o arrependimento foi imediato, mas a filha ficou devastada.

"Senti meu mundo desabar. Minhas pernas anestesiaram, e caí no chão. Tudo o que eu pensava era na minha filha. Como ela lidaria com isso? Como eu conseguiria dar estabilidade para ela?"

Sem recursos, morando de aluguel e com o dinheiro investido em obras inacabadas, ela decidiu esconder a traição. "Engoli o sapo inteiro e segui até onde consegui", lembra.

Perdão e traição com atual marido

Apesar da dor, Maria começou a tomar as rédeas de sua vida. Arrumou um emprego, apesar da resistência do marido, que a humilhava dizendo que seu salário não fazia diferença.

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Aos poucos, ela começou a enxergar o comportamento abusivo do marido e a recuperar sua autoestima.

Nesse período, conheceu um homem, funcionário público e pai de uma criança que estudava na mesma escola que sua filha. O interesse começou como uma espécie de vingança, mas logo se transformou em algo mais profundo.

Eu só queria me sentir mulher novamente, mas acabei me apaixonando perdidamente. Ele juntou os cacos que o meu ex e minha mãe deixaram. Ele é meu bálsamo.

Embora tenha reconstruído sua vida, Maria sabia que precisava lidar com o passado. Decidiu perdoar a mãe, um processo doloroso, mas libertador.

"Foi uma decisão. Primeiro, gritei sozinha que a perdoava e, depois, disse a ela. Não apenas pela traição, mas por todo o abandono e as marcas que carreguei da infância", lembra.

A mãe morreu nove anos depois, em 2009, ainda sem conseguir se perdoar —de acordo com Maria. "Ela levava isso nos olhos, uma tristeza que nunca foi embora", conta.

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Quanto ao ex-marido, Maria o perdoou pelo bem da filha, mas admite que o relacionamento entre ele e a menina foi prejudicado pela raiva dele em vê-la feliz.

Ele nunca admitiu a traição, mas transferiu toda a frustração para nossa filha. Isso foi o mais doloroso.
Maria

"Meu marido atual é o pai que sonhei para minhas filhas, meu porto seguro. Nunca me diz para não chorar, apenas me abraça e me ajuda a superar", diz ela.

A dor das traições ainda aparece de vez em quando, mas Maria encontrou sua rota definitiva.

Perdoar foi a chave para minha libertação. Não pelo outro, mas por mim. Hoje, sei que minha vergonha nunca foi minha. Foi uma das lições mais difíceis, mas também mais transformadoras da minha vida.
Maria

*O nome completo foi omitido

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