Como doula, enfermeira obstétrica, terapeuta e consultora ajudam no gestar?

Nada exclui a participação do obstetra em todo o restante: entre outras coisas, você precisa de liberação dele para muitas coisas, como aderir a uma atividade física. Então, é essencial confiar no profissional escolhido e, se for preciso, escolher outro.

Do início: como escolher o obstetra

Como saber se você está nas mãos do melhor obstetra para você?

"Pelo diálogo, tem que conversar, mostrar suas ideias e ver se são recebidas ou rechaçadas. Tem essa coisa subjetiva também, às vezes você está com o profissional que tem os requisitos que você buscava, mas algo não bateu. Ninguém é unanimidade, é normal essa experimentação, e a única maneira de saber é entendendo como o outro pensa e se faz sentido pra você", responde a ginecologista obstetra Julia Freitas.

Não se culpe se quiser trocar de médico no meio do caminho, o importante é estar confortável com a sua escolha, mesmo que seja nas últimas semanas de gestação. E nada garante nada: você pode realizar todo o pré-natal com um especialista e escolher realizar o parto com um médico plantonista. Vida que segue.

Além dele, você pode sentir a necessidade ou o desejo de ter acompanhamento de outros profissionais, como terapeuta perinatal, doula, enfermeira obstétrica, fisioterapeuta pélvica, consultora de amamentação. Por onde começar?

Antes de tudo, pense em como você imagina o nascimento do seu bebê e, a partir daí, busque profissionais que dialoguem com isso.Ana Luiza Zapponi, enfermeira obstétrica, com atuação em pré-natal, consultoria de amamentação e de sono

Já ouviu falar de enfermeira obstétrica?

Ela é outra profissional especializada em oferecer atenção integral à mulher durante o pré-natal, parto e pós-parto, analisando cada paciente e respeitando o protagonismo da mulher. E, sim, a enfermeira obstétrica pode realizar partos. De acordo com a resolução COFEN nº 0477/2015, em seu Art.1º, a enfermeira obstétrica pode conduzir o parto, desde que ele seja natural e sem distocia, isto é, dificuldades. Se houver qualquer complicação ou evolução para um caso de risco entra em sala a equipe médica.

A enfermeira obstétrica atua no planejamento, organização, coordenação e avaliação dos serviços de assistência de enfermagem na área de obstetrícia, podendo realizar consulta de enfermagem obstétrica, prescrição de assistência de enfermagem obstétrica e outros cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica, que exijam conhecimentos de base científica e capacidade de tomar decisões imediatas.

Cabe ainda a essa profissional promover o bem-estar da parturiente durante o trabalho de parto, com exercícios de respiração, massagem, banho morno, oferta de posições? Ficou parecido com o que faz uma doula? Nem tanto.

Também existe o trabalho das doulas

Doulas não fazem parto, e sim ajudam com conhecimentos diversificados - também acompanhando da gestação ao parto, ajudando inclusive a escolher o restante dos profissionais que irão te acompanhar nessa jornada.

"A doula é isenta de qualquer vínculo com a equipe, então traz luz sobre os profissionais pelos quais aquela família está sendo assistida, entendendo qual é o perfil dos pais e ajudando a direcionar para os profissionais adequados a eles", explica Viviane Bon Campos, doula e instrutora Gentle Birth (parto respeitoso).

Além de ajudar a parturiente com exercícios e outras técnicas durante o parto, o papel da doula é auxiliar a grávida a organizar as ideias durante toda a gravidez, e dar dicas de outros profissionais, como nutricionistas, profissionais que fazem bons ultrassons, fotógrafos, etc. "A mulher tem o direito de ter uma equipe multidisciplinar, ou seja, acesso a profissionais especializados em cada área", diz Viviane.

Há vários tipos de doula, as que só acompanham o pré-natal, as que só estão presentes na hora do parto, as doulas pós-parto e as doulas para famílias que estão adotando filhos. Um dos momentos emocionantes que faz parte do universo da doulagem: ela pode ajudar a realizar o carimbo da placenta (se for um desejo seu).

Essas três especialidades, juntas ou separadas, são as que podem te ajudar a desenhar o melhor plano de parto para você e seu bebê. Se você tiver uma equipe em que confie, é possível que o plano seja construído apenas através de conversas, mas é importante ter as informações por escrito, especialmente em caso de emergência (quando seu médico não pode comparecer para realizar o parto) ou quando você (por outras questões, inclusive financeiras) já sabe que fará o parto com uma equipe plantonista.

O plano de parto entra como um instrumento para você dialogar com uma pessoa que você nunca viu na vida.Julia Freitas, ginecologista obstetra, especializada em parto humanizado

O planejamento é como um guarda-chuva, que reúne debaixo dele as suas escolhas, mas vale dizer que é na hora que você e a equipe vão ver exatamente o que vai acontecer, a não ser que seja uma cesariana marcada.

"Como o bebê vai nascer? A gente não vai ter essa resposta antes. A mulher pode imaginar o que deseja, mas só vai entender o que quer na hora, se vai ter analgesia, se vai parir na banqueta ou em pé. E é bom que seja assim, mais instintivo e menos mecânico. Tem mulheres que querem banheira e na hora não querem nem olhar para a banheira", comenta a obstetra Júlia Freitas.

O importante é estar acompanhada de uma equipe que respeite as evidências científicas e a sua autonomia, com flexibilidade. E aí, se for equipe de plantão, seu plano pode ajudar a garantir isso.

Pré-natal psicológico para cuidar da saúde mental

Pensa que acabou? Não mesmo. Gerar uma nova vida é também abrir um leque com as mais diversas opções - para cuidar de si mesma e do seu bebê. Algumas ainda subestimadas, mas de alto valor.

Sabe aquela história de achar que não precisa ou não ter conhecimento e depois ficar sabendo que poderia ter vivido algo diferente, melhor? É interessante saber que existem outros especialistas em gestantes, para avaliar quais podem te ajudar. Cada mulher é única, cada gestação também - e só você saberá sentir e dizer o que precisa.

Além do pré-natal convencional, você pode aderir a um pré-natal psicológico, contando com ajuda de psicólogos ou terapeutas perinatais. A psicologia ou terapia perinatal vem para cuidar da mulher em período de gravidez, parto e puerpério, e tem ganhado cada vez mais espaço.

É uma área dedicada a cuidar de todas as questões emocionais e comportamentais ligadas ao nascer, e a ajudar a gestante ou recém-mãe a lidar com desconfortos físicos ou psíquicos. É essencial, porém, entender que há diversos tipos de terapia, diferentes abordagens para - aí sim - saber qual é a melhor no seu caso.

Há terapeutas que trazem técnicas como mindfullness e exercícios de respiração, outros que funcionam com uma boa sessão no divã mesmo. E há ainda profissionais que unem mais de uma técnica: peça indicação de outras gestantes, converse com sua doula, veja referências, escolha e experimente. Só assim saberá se funciona e o quê funciona para você.

Preparação com fisioterapia pélvica e consultoria de amamentação

Para quem quer um olhar mais físico para tudo o que está acontecendo aí dentro (e aí embaixo!), a dica é apostar em uma fisioterapia pélvica. Sim, ela existe e é outra especialidade que tem ganhado o coração e um espaço na agenda das grávidas.

Esta é uma área da fisioterapia que tem demonstrado resultados super positivos na melhoria da qualidade de vida, consciência corporal e educação sexual das mulheres. Não é exclusiva para gestantes, mas é especialmente bem-vinda durante a gestação e no pós-parto, pois ajuda a fortalecer o assoalho pélvico - região que reúne músculos essenciais para gestar, parir e continuar a vida com qualidade.

Além de prevenir incontinência urinária, ter o acompanhamento de uma fisioterapeuta pélvica ajuda a se preparar para o parto (independente da via escolhida), na recuperação pós-parto e ainda aumenta a lubrificação vaginal, muito bem-vinda no puerpério. Aliás, se já pariu e não fez fisioterapia pélvica, esse pode ser um bom momento também para começar.

Outra especialidade bem-vinda durante a gestação é a consultoria de amamentação. E, sim, você leu corretamente: durante. É comum se preocupar mais com o parto nesse momento, mas isso pode trazer percalços na hora que o bebê chegar. Quem nunca ouviu o relato de uma conhecida que sofreu para amamentar? Não precisa ser assim, mas pode ser - se você não tiver conhecimento adequado.

E é aí que pode entrar uma consultora de amamentação, principalmente se você já tiver alguma intervenção no seio (como próteses ou alguma cirurgia prévia). Ou se já tiver passado perrengues com outro filho. Você só saberá se o bebê terá alguma questão que impacta na amamentação após o nascimento, mas contar com essa intervenção precoce pode diminuir desconfortos e traumas no processo de aleitamento.

O papel da consultora em amamentação é avaliar, diagnosticar possíveis problemas e intervir na amamentação se preciso, para promover o aleitamento prazeroso e eficaz - respeitando sentimentos e decisões da mãe.

Pode esperar nascer? Pode. É possível contar com uma consultora no pós-parto imediato, após a apojadura (descida do leite), na volta ao trabalho (quando é necessário criar um estoque de leite) e até mesmo perto do desmame.

Mas nada impede de começar com uma consulta de pré-natal (que pode ser on-line ou presencial), na qual você já pode ir absorvendo informações de como é a pega correta do bebê no seio, quais utensílios são interessantes ter, como armazenar o leite e etc. A ajuda especializada para amamentação desde o pré-natal ajuda a alinhar expectativas, entender o que é normal acontecer, e já ter contatos para pedir ajuda se houver necessidade.