Sem vontade de fazer sexo? Entenda como machismo e estresse afetam libido
Uma mulher que acorda cedo, "esquece" o café da manhã para ter tempo de colocar a roupa na máquina de lavar, se estressa no trabalho, almoça de qualquer jeito porque tem que comer na rua e em pouco tempo, passa o dia na frente da tela, pega trânsito ou metrô, quando chega em casa à noite está só o pó e ainda precisa planejar o dia seguinte. Dificilmente ela vai querer transar, certo? Esta é uma queixa bastante comum entre as mulheres, por isso, é possível que você tenha se identificado.
Não há pesquisas recentes sobre isso, mas um estudo de 2013, feito pelo Cresex (Centro de Referência e Especialização em Sexologia) do Hospital Pérola Byington, mostra que a falta de tesão é a queixa mais frequente entre as mulheres: 48% delas relataram diminuição ou inexistência de desejo sexual.
Nos últimos anos, com a pandemia, mulheres viram aumentar a carga de tarefas domésticas e foram as que mais sofreram com sobrecarga mental e com a Síndrome de Burnout, o que leva à suposição de que, agora, esse índice seja ainda maior. Embora também seja feita por homens, essa é uma queixa prevalente entre mulheres.
Multitarefa
Por conta de uma rotina cada vez mais atribulada, que muitas vezes exige da mulher conciliar trabalho e estudos com tarefas domésticas e cuidados com familiares —tarefas que recaem majoritariamente sobre elas — elas tendem a "esquecer" a sexualidade.
Para além do erótico, é importante lembrar que a libido é, na realidade, uma energia vital. Nessa sobrecarga que impacta especialmente mulheres pelo excesso de tarefas e falta de tempo, a gente acaba dirigindo toda essa energia para outras coisas, enquanto nossa energia libidinal fica esquecida.
Esse "esquecimento" da libido pode se dar de duas formas: a primeira, positiva, acontece quando encontramos prazer em outra coisa e isso diminui nosso desejo sexual; a segunda, negativa, quando há tamanha sobrecarga psíquica que toda a nossa energia é direcionada para cumprir tarefas, resolver problemas, que não sobra para o desejo erótico.
Problema é tipicamente feminino
Segundo especialistas e pesquisas, esse é um problema tipicamente feminino, mas nada disso tem a ver com a biologia ou com a ideia — errada — de que mulheres sentem menos tesão do que os homens. São fatores sociais e culturais que aumentam a prevalência da sexualidade hipoativa entre elas: a maioria das mulheres tem a sexualidade reprimida desde muito cedo; assim, não aprende sobre o próprio corpo, se toca menos e, em geral, não fala abertamente sobre sexo.
Com isso, a mulher demora para perceber que deixou a energia sexual de lado. Por todos esses fatores, e também por uma falsa ideia de que a mulher não gosta de transar ou gosta menos do que o homem, ela vai "empurrando" esse desejo para debaixo do tapete em meio a tantas tarefas diárias. Quando se está em uma relação, geralmente é o parceiro ou a parceira que notam a mudança. Já entre as solteiras, é comum que, depois de algum tempo sem uma conexão com a própria sexualidade, com a masturbação, elas percebam.
Neste cenário, tornam-se comuns queixas de disfunções como dispareunia (dor genital relacionada ao sexo) e vaginismo (contração involuntária que causa dor durante a penetração). Muitas mulheres desenvolvem essas questões justamente por ceder ao sexo por hábito, mesmo sem tesão.
Machismo também ajuda a acabar com o tesão
Parte da falta de tesão entre as mulheres sobrecarregadas tem uma razão ainda mais direta: a divisão bastante desigual das tarefas domésticas —ou melhor: o machismo que leva à ideia de que as mulheres devem ser responsáveis pelo trabalho dentro de casa e com a família.
As duas sexólogas ouvidas para esta reportagem contam que, uma vez que os afazeres da casa não são igualmente divididos, a mulher não só fica mais cansada como também perde a admiração pelo marido, mesmo sem perceber, e esse é um fator essencial para o tesão. Mas como resolver o problema?
Driblar o problema da falta de tesão por conta da sobrecarga mental é um processo "profundo" e que se resolve "a médio prazo". Passa por entender a própria sexualidade e encontrar em meio à rotina atribulada tempo para momentos de prazer, e não necessariamente sexual.
O primeiro passo é se observar a rotina para entender quanto tempo é gasto com cada coisa e do que sente falta no dia a dia, e não só no campo erótico. Pode ser uma noite de risada com amigas, dez minutos sozinha tomando um bom café, qualquer coisa que seja uma pausa e que dê uma sensação de prazer. A partir da redescoberta do prazer em outras atividades que não são necessariamente sexuais, fica mais fácil encontrar espaço para fazer essa reconexão com a libido.
Fontes: Claudia Renzi, terapeuta sexual; e Michelle Sampaio, sexóloga
*Com matéria publicada em 21/04/2022
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.