Por que a beleza de Nefertiti ainda inspira a humanidade após 3.000 anos?
Tendo seu busto exibido publicamente pela primeira vez há 100 anos, a rainha egípcia Nefertiti continua relevante, inspirando moda, beleza e debates culturais, mesmo três milênios após sua morte.
O que aconteceu
A descoberta do busto de Nefertiti em 1912 por arqueólogos alemães marcou um evento significativo para a compreensão da história egípcia. A peça foi exibida pela primeira vez ao público em 1924, no Neues Museum em Berlim, onde permanece até hoje. Sua descoberta e subsequente exposição mundial despertaram interesse global, como conta a CNN Internacional.
As características faciais representadas no busto de Nefertiti estabeleceram um padrão estético que persiste na atualidade. Seu maxilar definido, as maçãs do rosto altas e os olhos delineados a tornaram uma figura reconhecida.
Olhar da rainha expressa confiança e autossuficiência segundo especialista. A Dra. Cheryl Finley, professora de história da arte no Spelman College em Atlanta, disse: "o busto de Nefertiti é tão perfeito; ela é tão autossuficiente. É isso que realmente chama a atenção e a imaginação. É a confiança dela e o olhar, é claro. É algo que nos atrai a todos".
A exposição do busto influenciou a moda e a indústria da beleza. Sua imagem foi utilizada em publicidade e suas características serviram de inspiração para criações de estilistas como Paul Poiret, Lilly Daché e, posteriormente, John Galliano para Dior e Christian Louboutin. O "visual egípcio" tornou-se uma referência.
A influência de Nefertiti se manifesta na cultura contemporânea em diversas áreas. Sua presença é notada nas redes sociais, na cultura pop e em produtos variados, de tutoriais de maquiagem a peças de alta costura. Marcas de beleza e procedimentos estéticos, como o "Nefertiti Lift", fazem referência à rainha.
Apropriação e branqueamento
A representação de Nefertiti foi objeto de apropriação e de tentativas de branqueamento ao longo da história, sob perspectivas ocidentais. Tentativas de minimizar sua ancestralidade africana geraram críticas, como a reconstrução 3D de 2018 com tom de pele mais claro.
Nefertiti desafiou padrões ocidentais de beleza, por sua ascendência e cor de pele. Como aponta a professora Charmaine A. Nelson, da Universidade de Massachusetts Amherst, Nefertiti desafiou "grande parte da história da percepção ocidental de mulheres negras , (que) é como 'outro', como 'grotesco', como 'corpo não estético'". Ela acrescenta que "É realmente impressionante e provavelmente funciona a favor do olhar branco que seu cabelo esteja coberto", sugerindo que cabelos texturizados historicamente desafiaram os padrões eurocêntricos.
Nefertiti se tornou um símbolo de poder e resistência na cultura negra. Artistas como Beyoncé e Rihanna incorporam elementos de sua imagem em suas obras, reforçando esse simbolismo. Rihanna, inclusive, possui uma tatuagem do busto de Nefertiti.
A imagem de Nefertiti desperta interesse e identificação em diferentes públicos. Ela transcende o tempo e representa uma conexão com a história e a ancestralidade. "E por que você não quereria se parecer com ela? Tire a coroa, coloque-a em qualquer sociedade e ela pode se encaixar", diz a Dra. Elka Stevens, professora associada da Howard University.
As mulheres conseguem se ver projetadas no busto da rainha. Stevens acrescenta: "Vejo minha família quando olho para ela, e posso ver sua família. Por esta razão, vamos ser presenteados com contos de sua beleza até o fim dos tempos. Ela não vai a lugar nenhum — ela vai viver por meio de cada um de nós, e isso é a coisa mais emocionante."
A vida de Nefertiti, porém, apresenta lacunas e aspectos ainda não totalmente compreendidos pela historiografia. Sua trajetória política ao lado do faraó Akhenaton e seu desaparecimento dos registros históricos intrigam estudiosos. Seu legado, no entanto, permanece presente.
A presença do busto em Berlim gera discussões sobre sua repatriação para o Egito. Egiptólogos e autoridades egípcias defendem a devolução da peça, argumentando que sua remoção foi injustificada, conta a CNN. Uma petição recente liderada pelo egiptólogo Zahi Hawass reacendeu os apelos pela repatriação.
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