Mulheres contam por que preferem sexo casual: 'Sem rodeios'
Colaboração para Universa*
05/01/2025 19h00
"É uma energia tão grande que gasto com os 'rodeios', 'cortejos', que comecei a refletir sobre sexo casual. Prefiro falar a real: só quero transar. E, de vez em quando, se o cara for legal, ter um dia ou um fim de semana de casalzinho", relata Giovana*, 30, que prefere não se identificar.
Ela, que trabalha na área de eventos, diz que perdeu a conta de quantos aplicativos de paquera já baixou. "Antigamente, tinha esperança de encontrar um namorado e ter um relacionamento estável. Porém, na pandemia, a gente foi forçada a parar e refletir sobre o futuro. Nesse processo, revi meus valores, a maneira como eu enxergava meu poder de escolha dentro desse jogo. Entendi que poderia escolher só o sexo casual e que isso não acabaria com os meus planos de encontrar um companheiro e ser mãe, por exemplo."
Giovana* diz que, a partir da mudança de pensamento, se viu como uma nova mulher, mais conectada com seus desejos sexuais. "Agora, prefiro ser mais direta e, se rolar algo depois, é um bônus", afirma.
Ela diz, ainda, que até seus critérios para escolher com quem vai apenas transar mudaram. "Se o cara começa a sumir por um tempo ou fala alguma coisa que não me agrada tanto, já está fora. Preciso estar bem para me satisfazer sexualmente", fala.
"Quando percebo que o cara quer namorar, já espanto"
A veterinária Nicole foi casada por oito anos e, depois do divórcio, namorou duas vezes. No entanto, se sentiu cansada de relacionamentos sérios. "Fiquei de saco cheio desse vai e vem e costumo brincar que me casei com a minha profissão. Porém, sinto falta do sexo e, há uns oito meses, entrei para os aplicativos de relacionamentos em busca dos 'contatinhos', caras legais para transar e trocar uma ideia", afirma ela.
Nicole diz que não quer um compromisso agora, até mesmo por causa da profissão, que conta com longos plantões noturnos. "Minha rotina é maluca, e eu abraço isso. Meu trabalho tem uma enorme importância, ainda mais com tudo que construí. Quando estou mais tranquila, aproveito para ver se tem alguém legal para transar nos aplicativos. Porém, quando percebo que o cara quer namorar, eu já espanto", enfatiza.
Segundo conclusões do artigo "Settling Down: Romance in the Era of Gen Z" (ou "Constituindo Família: o Romance na Era da Geração Z", em tradução livre), publicado no jornal universitário Yale Daily News em fevereiro de 2020, as gerações mais novas não estão procurando a estabilidade de uma relação. Segundo o estudo, a geração Z, nascida entre 1995 e 2010, tende a levar mais tempo para se casar, pois preferem aproveitar a vida antes. É como se a relação romântica sempre se apresentasse cercada de limitações, especialmente para as mulheres, que lutam incansavelmente por sua liberdade em diversos setores sociais.
Incômodo do outro lado e o longo caminho até a igualdade
Alguns homens têm notado esse perfil de mulheres que preferem relações casuais e admite: há um desconforto no ar. "Acho importante abrir o diálogo. Existe um histórico imenso de machismo e outras atitudes tenebrosas que a maioria dos homens comete. Porém, em qualquer situação, seja um sexo casual ou um relacionamento sério, penso que precisamos ser mais transparentes. Estamos falando de responsabilidade emocional para os dois lados", diz João*, 32, que prefere não se identificar.
No entanto, não dá para afirmar que as mulheres estão caminhando rumo a uma trilha de igualdade com os homens no que diz respeito a uma abertura para o sexo. No geral, muitas aprenderam a ter medo de sexo e entenderam que a expressão da própria sexualidade pode acabar com a vida ao engravidar, por exemplo. Não são fornecidas informações de qualidade a respeito do prazer feminino e do funcionamento do corpo, assim como não é dada atenção o suficiente aos aspectos psicossociais de uma vida sexual ativa.
Em suma, apenas quando as mulheres tiverem a oportunidade de colocar suas condições de maneira consciente, bem informadas, priorizando sua saúde física, mental e sexual, expressando seus limites sem se preocupar em desagradar o próximo, é que será possível falar em liberdade sexual.
Olhar global
O autoconhecimento mental e corporal, além do empoderamento das mulheres e as conquistas feministas, têm forte conexão com o aumento do desejo e com as descobertas sexuais. Por isso, é importante esse olhar global para a saúde feminina. Hoje, falar abertamente sobre libido, masturbação e prazer é muito mais comum do que há alguns anos, e isso pode ser considerado uma conquista.
A mulher aprendeu e está aprendendo a se conhecer, conhecer o seu corpo, saber o que faz bem, saber o que ela quer na cama e dizer ao seu parceiro ou parceira.
Novos arranjos para os relacionamentos
Hoje, há muitas pessoas que encontraram novas formas de se relacionar afetiva e sexualmente a partir da tecnologia. O uso dos aplicativos de relacionamento, por exemplo, acaba por criar espaços mais seguros para que desejos sejam expressados sem tanta repressão.
É possível que a multiplicidade de composições possíveis entre sexualidade e tecnologia, junto com a curiosidade e o desejo, possa favorecer novos tipos de relação em que as expectativas ocupem outros lugares.
Fontes: Gabriela Cabral, psicóloga clínica e mestre em Sociologia com ênfase em Antropologia pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro); e Mauricio Abrão, ginecologista
*Com matéria publicada em 05/02/2022