Tem receio de postar fotos dos filhos? O que considerar antes de publicar
Beatriz Zogaib
06/01/2025 05h30
Uma pesquisa de 2017 com 2 mil pais britânicos apontou que - só nos primeiros dois anos de vida - as crianças já tinham 390 fotos suas publicadas. Imagine hoje! Em uma pesquisa rápida no Instagram, a hashtag em português #bebê soma 5.3 milhões de publicações. Não por acaso, nasceu o termo sharenting - combinação, em inglês, das palavras share (compartilhar) e parenting (parentalidade). E se você quiser receber um conteúdo semanal para te ajudar durante a gestação, se inscreva na newsletter de Materna no box abaixo.
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Tudo começa na gestação. Além do acesso ao conhecimento, que agora pode ser encontrado em livros digitais, newsletters, blogs, vídeos, podcasts e até através de inteligência artificial, a era wireless traz novas formas de gestar e maternar. As redes sociais são como uma janela aberta esperando você aparecer, acenar e publicar conteúdo. Mas grávida ou com filhos, será que é preciso ser mais low profile? Ou vira blogueira de vez? Tudo depende.
Quando é hora de postar sobre a gravidez?
Seu perfil nas redes é público ou privado? Quem te segue? Amigos íntimos, familiares, colegas de trabalho, desconhecidos? Como se sentiria se essas pessoas soubessem da sua gestação? A dica é levar em conta a forma como você gosta de viver experiências pessoais. Sozinha? Com pouca gente sabendo delas? Sem filtro? Contar sobre a gestação nas redes sociais é simplesmente expor socialmente a notícia.
É natural compartilhar com o parceiro antes de tudo, que é uma pessoa que precisa saber de fato, e depois com a família, amigos próximos. Mas tem quem se sinta confortável em lidar coletivamente tanto com a alegria quanto com a frustração, caso o feto não se desenvolva. A questão é como é para você.
Michelle Occiuzzi, terapeuta integrativa, especialista em comportamento materno
O que muda é a amplitude da exposição e o timing - afinal, toda gravidez tem as tais doze semanas mais delicadas no início. Para além da esfera terapêutica - é essencial levar em conta o risco que o digital traz pela rapidez com que tudo acontece. Em poucos minutos, pessoas mal intencionadas podem copiar, perpetuar e dar o uso indevido até mesmo a conteúdos que desapareceriam com o tempo.
Lembre-se de que o que é postado na internet pode ficar acessível permanentemente. Mesmo que uma postagem seja excluída, ela pode ter sido vista e salva ou compartilhada por outros.
Cláudia Abdul Ahad Securato, advogada
Segundo Cláudia, é fundamental considerar a privacidade pessoal e familiar, observando o nível de detalhe e intimidade das informações compartilhadas. E é preciso observar potenciais impactos a longo prazo, ponderando quem será seu público, e o que pode ser feito com as imagens e conteúdos divulgados. Sabe aquela brincadeira que nos instiga a pensar no pior cenário? Ela pode ser bem-vinda aqui como um exercício de consciência.
Dicas de especialistas:
Fique atenta às políticas de privacidade e termos de uso das redes sociais, pois cada uma tem suas regras e os usuários devem segui-las, com postagens que estejam em conformidade com elas;
Caso tenha um perfil aberto, pense se não vale a pena restringir seu público, criando um grupo de melhores amigos, por exemplo;
Não publique foto do bebê nu ou seminu (tomando banho ou brincando na praia); pode ser inocente, mas também pode ser usada de forma negativa online;
Nunca exponha hábitos como ida à escolinha ou locais que a criança frequenta;
Evite divulgar a localização da família ou criança em tempo real;
Caso envie imagens em grupos íntimos de WhatsApp, lembre-se de pedir para os participantes não publicarem em suas próprias redes sociais;
Reflita se as informações podem ter impactos jurídicos, o que é especialmente delicado em situações nas quais a família passa por disputas envolvendo divórcio e a guarda dos filhos;
Esteja ciente de que, embora as leis de proteção de dados geralmente protejam informações pessoais contra o uso indevido por terceiros, optar por divulgar voluntariamente suas próprias informações pessoais pode reduzir sua proteção legal, e prejudicá-la em disputas futuras;
Reflita sobre a vida privada do seu filho desde bebê: o Estatuto da Criança e do Adolescente protege a privacidade, o respeito pela intimidade, direito à imagem e a vida privada das crianças e adolescentes contra a exposição indevida. E a LGPD, em vigor no país desde setembro de 2020, reforça que é ilegal compartilhar fotografias que podem gerar danos à formação e honra da criança.
Nasceu a vontade de compartilhar tudo
Se por um lado, algumas puérperas ficam mais introspectivas e não querem falar com muita gente, muitas sentem-se sozinhas e encontram no virtual a chance de interagir, conhecer mulheres que passam pelo mesmo momento e até de construir sua rede de apoio.
É saudável entender se você está postando demais e a razão disso. Quando as publicações são excessivas, muitas vezes, acontecem para preencher um vazio. "Uma oportunidade de se sentir amada, ganhar reconhecimento, fechar os olhos para o real. Tem que refletir se posta para preencher o vazio ou para ter uma recordação", analisa a terapeuta integrativa Michelle Occiuzzi.
Assim, tente se perguntar: para que estou postando? Quando meu filho for mais velho e encontrar essa publicação, ele vai gostar? O que estou expondo aqui nessa imagem? É algo que contribui com o desenvolvimento dele, com a auto estima dele e o futuro dele? Vale pensar que todas as publicações podem gerar sentimentos positivos ou negativos no seu filho e ter sensibilidade em relação a isso.
E uma sugestão para ajudar a evitar neuras é ajustar as configurações de privacidade dos seus perfis, limitando o acesso a dados pessoais e dificultando o uso indevido das imagens - se não fizer isso, informações e fotos podem ser usadas sem seu consentimento.
Quando o alerta fica mais sério
Uma campanha promovida em 2018 pela Child Rescue Coalition revelou números expressivos e orientações, na tentativa de conscientizar mães e pais dos Estados Unidos: aos 2 anos de idade, 90% das crianças já estão presentes nas redes sociais. Segundo a instituição norte-americana sem fins lucrativos - cuja missão é evitar a exploração sexual infantil, os "predadores de crianças" não só usam a Internet para distribuir pornografia, como para perseguí-las ou trocar informações e técnicas sobre como seduzí-las.
O guia Internet Segura Para Seus Filhos (disponível para download) reforça que o contexto familiar é privado, recomenda evitar postar mensagens com apelidos e convida a pensar que o que hoje pode parecer "bonitinho", com o passar do tempo, pode até ser usado para a prática de bullying contra a criança. E, conforme a criança crescer, vale envolvê-la na decisão sobre postagens em que aparece; ótima forma de educá-la sobre privacidade, consentimento e uso das redes.
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