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Após ser mãe deu vontade de mudar de carreira? Como planejar a transição

A maternidade traz habilidades extremamente bem-vindas no mercado profissional Imagem: Getty Images

Beatriz Zogaib

10/01/2025 05h30

Não são apenas os hormônios que borbulham durante a gravidez, é comum ressignificar a vida, reavaliar escolhas, e se redescobrir a partir de uma gestação. Não raro, a mulher grávida pode, inclusive, repensar a carreira. Se quiser uma companhia para te acolher e informar durante esse período, se inscreva na newsletter semanal feita para gestantes, Materna. Basta completar o box abaixo.

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A espera de um filho é um dos momentos mais sensíveis na vida das mulheres, e cada uma vive essa experiência de um lugar diferente - envolvendo sua realidade, concepções, desejos, sintomas. Vale lembrar ainda que nem toda gravidez é planejada e que, enquanto algumas acontecem sem que haja estabilidade financeira, outras chegam quando se está no ápice profissional.

É natural que a mulher se sinta mais ansiosa, sensível e se encontre questionadora sobre sua realidade. Neste cenário, pode ser orgânico questionar também o espaço, importância, finalidade, propósito e significado do seu trabalho.

Um filho pode ser um gatilho de transformações na busca de carreiras mais significativas para as mulheres, incluindo a busca por empresas que sejam mais empáticas, flexíveis e com bons benefícios para a conciliação de filhos e carreira.Camila Antunes, especialista em inteligência emocional e parentalidade, co-fundadora da Filhos no Currículo

Segundo Camila, outro fator que provoca esses pensamentos são os dados que mostram que a evasão das mulheres das empresas, depois dos filhos, continua alta. "Essa mulher se questiona se ela será capaz de fazer diferente na sua vez. É isso que acontece também durante a licença-maternidade, um período solitário e vulnerável para a mulher com alteração hormonal, privação de sono e um bebê no colo", analisa.

Voltou da licença-maternidade e não se encontrou no trabalho?

Você já deve ter ouvido falar de transição de carreira após ter filhos. É aquela história: a recém mãe não se vê ou não consegue voltar ao antigo trabalho, e começa algo novo - para se sustentar ou se realizar. Entretanto, uma reflexão importante: realizar mudanças profissionais não significa precisar deixar o local de trabalho atual.

"Toda licença-maternidade é uma transição. Essa é uma premissa que empresas e pessoas poderiam ter em mente para cuidar dessa realidade. Ignorar esse fato pode estar provocando o adoecimento e a evasão de muitas mulheres do mercado de trabalho", sentencia Camila.

A verdade é que a transição é travessia - entre o que era antes do filho para o que se torna depois da sua chegada. E tudo começa já na gestação, com as dúvidas e angústias em relação a como dar conta de tudo. Em seguida, vem o período da licença-maternidade, que isola uma mulher ativa de suas atividades anteriores. A mãe se volta naturalmente para o bebê, mas - por consequência, falta de rede de apoio e vários fatores - ela fica sem contato com outros adultos, conversas sobre o trabalho, momentos em que se enxerga para além da nova mãe que se tornou.

"Neste tempo a mulher passa a refletir sobre sua importância e sobre a importância que o trabalho tem na sua vida. Manter-se ou não no trabalho precisa ser algo que tenha muito mais sentido e significado do que antes", explica Camila. Para as mulheres que podem fazer escolhas, esse movimento, muitas vezes, acontece durante a licença-maternidade. Mas há ainda quem seja forçada a adequar sua rota profissional, sendo recebida em seu retorno pós-licença com uma demissão.

Medo da demissão no retorno ao trabalho

Sim, mulheres ainda são demitidas quando voltam ao trabalho. Uma pesquisa da Empregos.com.br de 2023 mostra que 56% das mães já foram demitidas ou conhecem alguma mulher que passou por isso na volta da licença-maternidade. Entre outras razões para tal, Camila acredita que as empresas não sabem como cuidar desse período da vida da mulher.

Outra pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), de 2016, também anunciou algo nesse sentido, revelando que - após 24 meses - quase metade das mulheres que tiram licença-maternidade está fora do mercado de trabalho. Infelizmente, um padrão que se perpetua 47 meses após a licença e, na maior parte das vezes, sem justa causa e por iniciativa do empregador.

O que torna tudo mais complexo é que cada filho impõe uma nova transição. Ou seja, a mulher que já viveu a maternidade e não transitou por caminhos tortuosos, poderá se questionar na segunda gestação - reavaliando modelo de trabalho (presencial, híbrido, remoto), salário e outras questões.

Por isso, não basta apenas não demitir; é importante empresas e empregadores não ignorarem o impacto do primeiro, segundo, terceiro filho na carreira da colaboradora, e acolher suas necessidades.

Para quem pensa nessa mudança, uma sugestão é buscar contato com outras mulheres que já passaram pela experiência. Participar de grupos de networking, organizar o perfil do Linkedin, marcar cafés virtuais durante a licença-maternidade, fazer mentorias e coaching. Foque em estruturar essa transição de uma forma saudável, sustentável e respeitando as suas demandas individuais.

Mães são empreendedoras

Nem sempre é fácil se recolocar com filho pequeno no currículo, mas tudo pode ser possível - por mais desafiador que seja. É possível e comum se reinventar - seja por vontade própria ou por forças maiores. Pense em quantas mulheres que conhece que começaram um pequeno negócio depois de parir, muitas vezes que não têm nada a ver com o que faziam antes. Não são poucas, certo?

Olhar para seus dons pode ser uma alternativa para refazer suas escolhas profissionais Imagem: Getty Images

Nem sempre é preciso um grande investimento. Há quem olhe para um antigo hobby, como fazer bolos, e passe a rentabilizá-lo. Às vezes em um ato de desespero, às vezes numa profunda reconexão com o que gosta. Não desanime.

Olhe para seus talentos, para o que está aprendendo agora, sendo mãe, e enxergue possibilidades. E, se a sua rota for mais corporativa, saiba que - para além das demissões de mães - vemos um lindo movimento de mulheres que batem no peito e colocam sua maternidade, literalmente, no currículo. Você pode até ter sido demitida por ser mãe, mas pode ser contratada pela mesma razão.

"Promovemos no LinkedIn o movimento #meufilhonocurriculo. Já no primeiro ano, mais de 40 mil pessoas aderiram só nos primeiros 15 dias. Nós entendemos que esse é um valor que as pessoas devem se apropriar para, com orgulho, criar uma nova perspectiva sobre os impactos da chegada dos filhos na carreira", conta Camila.

Mãe e gestora

Filhos ainda são vistos como uma barreira e ela precisa ser quebrada para que menos mulheres sejam demitidas por terem filhos ou para ascensão delas em cargos de liderança, por exemplo.

A maternidade ainda pode ser vista como problema ou impedimento, mas quanto mais mães a reforçarem como parte de sua jornada integral (inclusive profissional), mais chances de desconstruir essa perspectiva. Para construir uma realidade em que filhos possam ser percebidos como uma possibilidade de potência ao desenvolvimento daquele colaborador, time e empresa.

Segundo Camila, colocar os "filhos" no LinkedIn e o cargo "Mãe", como uma de suas funções, conta sobre os valores da pessoa, e isso é extremamente importante na busca por uma carreira que caiba mulheres por inteiro. As pessoas querem trabalhar onde possam ser elas mesmas e isso inclui falar dos filhos. Do que adianta entrar em uma empresa que não acolhe esse assunto quando esse é um valor para a profissional? A valorização desse tema por parte das empresas também será maior na medida em que mais pessoas passem a colocar esse valor destacado.

Uma consideração importante: cabe avaliar se essa informação poderá prejudicar quem esteja com uma necessidade de vaga de trabalho, independente do alinhamento aos valores pessoais. Se achar que pode te prejudicar, não precisa aderir. Só não esqueça que há empregadores que podem valorizar suas habilidades maternas, que não são poucas.

No exercício da parentalidade, na relação com um novo ser humano, nos deveres de educar, criar, nutrir e dar afeto, podemos desenvolver diversas novas habilidades que estão sempre sendo ranqueadas como as habilidades mais desejadas nos profissionais. Um filho atribui um novo cargo para as mulheres: é preciso se tornar uma líder para criar um filho. Mas não é possível exercer a liderança de qualquer maneira; é necessário ser empático, aprender sobre escuta e comunicação assertiva, e ajudar aquela criança a se desenvolver com saúde.

Além disso, diariamente somos convidadas, enquanto mães, a usar e ensinarmos nossos filhos a usar as emoções de forma inteligente. O treinamento de inteligência emocional está garantido. Resiliência, flexibilidade cognitiva, criatividade, adaptabilidade, produtividade, gestão de tempo, foco, gestão de crise, mediação de conflito são algumas outras habilidades que mães se tornam experts, frente aos convites e desafios que a vida com filhos apresenta.

Nascemos para provar que filhos agregam no currículo. O mercado corporativo busca e oferece inúmeros treinamentos de habilidades que podemos desenvolver em casa, com nossos filhos. Temos um MBA de softskills em tempo integral e sem folga.Camila Antunes

Ser uma profissional após ter filhos não é algo fácil, mas é uma verdadeira pós-graduação, cheia de aventuras e muitas emoções. Vai ter muito medo, muita dúvida e ansiedade, nem sempre você terá as respostas ou soluções, mas se encontrará sendo uma verdadeira resolvedora de problemas. Filhos podem ser um convite bonito para incluir seus desejos no mundo, provocar transformações potentes no seu trabalho.

Um filho muda tudo e não significa que mude para pior. Estar aberta a esses convites pode te tornar uma profissional e uma pessoa ainda melhor. É só você, em primeiro lugar, estar disposta a aprender a ressignificar e a desconstruir as barreiras que tem sobre esse assunto.

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