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'Amei até o último suspiro': ela perdeu marido 18 dias após casamento

De Universa, em São Paulo

28/01/2025 05h30

A gerente de supermercado Camila Martins, 28, conheceu o agente de saneamento Édson Silva, 36, por um aplicativo de relacionamento em maio de 2023.

Como o irmão de Camila trabalhava no mesmo lugar que Édson, ela tratou de se certificar que ele era uma boa pessoa. Com uma resposta positiva no mesmo final de semana em que deram match, eles combinaram de sair.

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'Meu instinto dizia que algo ia acontecer'

A relação deu certo e o pedido de casamento veio em fevereiro de 2024, em um show de uma dupla sertaneja de que o casal gostava em Conceição da Aparecida (MG). "Quando ele pediu, eu fiquei feliz e surpresa, mas com o coração apertado", afirmou Camila a Universa.

Camila e Édson se conheceram em 2023 Imagem: Arquivo pessoal

No dia, achei que era por deixar trabalho e meus pais para morar longe, com ele. Mas hoje acredito que já era meu instinto dizendo que algo ia acontecer.
Camila Martins

Camila mora em Areado (MG) e Édson morava em Conceição da Aparecida (MG), a meia hora de distância. Por ele ser filho único e acostumado com a roça, o casal achou que o que faria mais sentido seria ela se mudar para acompanhá-lo.

Eles se casaram no civil no dia 28 de junho de 2024. No dia seguinte, foi a cerimônia religiosa e a festa.

"Fechamos a garagem com lonas e enchemos de colchão para todos dormirem lá. Hoje, vejo que foi uma grande despedida."

'Uma semana depois, teve pneumonia'

Com a correria dos eventos, o casal ignorou alguns sinais de que a saúde de Édson não estava tão boa. Perto do casamento, eles notaram algumas bolinhas no peito dele, que foram colocadas na conta de uma possível alergia a um perfume novo.

Uma mancha roxa na batata da perna também passou batido, já que eles mesmos fizeram a decoração do casamento e acreditavam que poderiam ter se machucado cortando árvores e enfeites. Também saíram aftas escuras na boca dele.

"Uma semana depois do casamento, ele teve uma pneumonia. Suava demais à noite e teve muita febre. Levei ele ao médico, receitaram antibiótico e voltamos para casa", lembra ela.

Mas Édson não parecia melhorar mesmo seguindo as recomendações médicas: vivia deitado, com falta de ar, sonolento e suando muito. Na noite de 13 para 14 de julho, ele não conseguiu dormir.

Camila o levou para um hospital particular de Alfenas (MG) e, depois dos primeiros exames, constataram que suas plaquetas estavam baixas e ele foi levado para o CTI. "Ele achava que estava com dengue hemorrágica", ela lembra.

No domingo, ao visitar Édson, o médico falou para ela que ainda não tinham fechado o diagnóstico. Mas havia risco de ser leucemia ou outro tipo de câncer agressivo. O casal foi transferido para Belo Horizonte, em um hospital mais bem equipado.

O médico disse para eu não transparecer para o Édson o que estava acontecendo. Fui visitá-lo, abracei, chorei demais, me declarei. Ele me pedia para ter calma e que iria dar tudo certo.
Camila Martins

Eles se casaram no final de junho do ano passado Imagem: Arquivo pessoal

Quando chegaram em Belo Horizonte, Camila deu banho no marido e o colocou para dormir. Ela acordou com ele reclamando de uma dor de cabeça muito forte, falando que iria morrer. Quando ela perguntou se ele estava ouvindo, ele fez um joia com a mão e apagou.

"Ele teve uma parada de 14 minutos. O coração dele voltou, mas ele já não reagia mais. Ele foi intubado e eu vivi um pesadelo", lembra ela. Camila avisou a família, que enfrentou seis horas de viagem até a capital mineira.

"O médico falou comigo, disse que o Édson teve um aneurisma e não estavam conseguindo estancar o sangramento. Se ele sobrevivesse, provavelmente ficaria vegetando para o resto da vida."

No dia 17 de julho, entrei para visitá-lo novamente e conversei com ele. Falei para ele deixar Deus levar seu coração, que eu ia ficar bem. E, enquanto o pai dele estava se despedindo, ele partiu.
Camila Martins

"Meu chão caiu. Até hoje, me vejo como uma pessoa que perdeu tudo. Ele se foi e levou um pedaço de mim", completa ela. Édson foi enterrado no dia 18 de julho sem saber seu diagnóstico.

No dia seguinte, ligaram do hospital com os resultados dos exames e falaram para Camila que ele teve uma leucemia aguda. "[A doença] Despertou e, em 30 dias, o matou. Acredito que nos casamos para ele ser feliz até o último momento."

'Amo como se estivesse aqui'

Camila tenta seguir sua vida. Nos primeiros dias, não conseguia nem comer. "Só chorava." Dois meses depois, ela ouviu o filho mais velho, de outro relacionamento, dizer que não iria ver o pai porque precisava cuidar dela.

"Ele falou que não podia me deixar sozinha, que eu estava ficando doente e ele não queria me perder como perdeu o Édson. Minha família, meus amigos e meus filhos são quem me mantêm de pé hoje."

Tem dias que eu choro muito, mas sempre com o coração e a alma em paz. Eu o amei até o último suspiro, e o amo como se ele estivesse aqui. A dor da partida é a mais doída que já senti.
Camila Martins


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