Preconceito, assédio e até prisão: tatuadoras sul-coreanas vivem sob risco
Ler resumo da notícia
Prática restrita a quem tem licença médica, a tatuagem tem até mercado clandestino na Coreia do Sul, com profissionais se unindo para solicitar alterações na regulamentação. Quem sofre mais são as mulheres irregulares, muitas vezes alvo de preconceito e assédio sexual. Elas não podem denunciar comportamentos abusivos por medo de perder o trabalho.
Proibição e punição
Desde 1992, a tatuagem é considerada um procedimento médico no país. A medida, chancelada pela Suprema Corte, permite que punições sejam aplicadas a quem descumprir a lei: a multa aplicada pode chegar a 50 milhões de wons coreanos (cerca de R$ 200 mil conforme cotação atual), segundo a rede britânica BBC. Além de multa, o tatuador que trabalha sem uma licença médica pode ser condenado a até cinco anos de prisão.
Em março de 2022, o Tribunal Constitucional do país manteve a prática exclusiva aos médicos. De acordo com a Reuters, as associações de tatuadores iniciaram uma série de ações judiciais em 2017 contestando a lei, alegando que a proibição viola a liberdade de expressão e o direito de exercer uma profissão. No entanto, a votação da ocasião confirmou que a lei é constitucional.
Ao reavaliar o tema de 2022, o Tribunal rejeitou os processos de tatuadores não médicos. Além de não aceitar os pedidos dos profissionais, o Tribunal afirmou ainda que a tatuagem traz potenciais efeitos colaterais e problemas de segurança, segundo a Reuters.
O conhecimento e as habilidades médicas limitadas envolvidas na tatuagem [oferecidos por não médicos] não podem garantir os níveis de tratamento que os profissionais médicos podem fornecer, tratamento que pode ser necessário antes ou depois do procedimento Veredito do Tribunal Constitucional da Coreia do Sul via Reuters
Na Coreia do Sul, tatuadores sem licença médica trabalham em ambientes muitas vezes precários. Para não serem facilmente descobertos pelas autoridades, alguns estúdios mudam de localização periodicamente, além de não terem sinalizações explícitas de que ali funciona este tipo de estabelecimento.
Em um cenário em que a tensão por eventuais denúncias faz parte do dia a dia, as mulheres que trabalham como tatuadoras vivem, ainda, com o medo de assédios sexuais por parte de seus clientes. Conforme reportagem da BBC, muitas tatuadoras não médicas sofrem assédio durante ou após a sessão, mas não denunciam seus clientes por medo de serem descobertas pelas autoridades e punidas pela ausência de licença médica.
Segundo a Reuters, a maioria dos sul-coreanos apoia a legalização da tatuagem. No entanto, as associações médicas se opõem à eventual legalização, sob o argumento de que o uso de agulhas é um procedimento invasivo que pode causar danos ao corpo.
O preconceito em relação às tatuagens ainda é presente na Coreia do Sul, principalmente entre os sul-coreanos mais velhos. Os desenhos ainda são associados a gangues e são rodeados por estigmas, segundo a BBC. No entanto, a crescente procura por tatuagens fez com que um mercado alternativo ganhasse espaço no país, especialmente na capital Seul.
K-tattoo ganhou seguidores nas redes sociais
Mesmo com as restrições impostas pela legislação, o mercado de tatuagens é aquecido no país. Segundo a Reuters, há ao menos 50 mil tatuadores trabalhando de forma ilegal na Coreia do Sul, único país desenvolvido que tem uma proibição do tipo. No Japão, uma lei que estipulava a tatuagem como atividade médica foi suspensa em setembro de 2020.
Nas redes sociais, como fóruns no Reddit, internautas trocam dicas, recomendações e avaliações de estúdios em Seul. Embora muitos busquem "discrição" em seus pedidos e respostas, é possível encontrar perfis abertos que divulgam amplamente o trabalho dos tatuadores do local.
O estilo dos tatuadores sul-coreanos se espalhou entre os amantes deste tipo de arte. A popularidade das "K-tattoos" tem aumentado no país e no exterior nos últimos anos por conta do design com linhas finas, detalhes delicados e uso de cores fortes.
Embora as tatuagens sejam geralmente encobertas na televisão, muitas celebridades coreanas, incluindo membros de bandas de K-pop, as exibem nas redes sociais. Jungkook, membro da boy band coreana BTS, é um dos nomes famosos que compartilha suas tatuagens em público.
2 comentários
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.
Brunno Cesar de Paula Santos
Leis demais trás a quebra de leis essenciais por se tornar banal quebrá-las..
Thiago Ribeiro Brandão
Até pode ser preconceito, mas a questão aí é ser ou não procedimento médico, pelo risco potencial, não é minha posição, eu acho que se a pessoa é maior de idade e quer ser tatuado por alguém que não é médico, respeitadas condições de higiene, que seja.