'É um grande Tinder': jovens de SP usam local de escalada para fazer dates

Eles não se conheceram em aplicativo de namoro ou em uma mesa de bar, também não foi no trabalho, nem durante uma viagem. Esses casais se conheceram dentro de um ginásio de escalada.

Há cinco meses, enquanto se preparava para escalar as paredes da Casa de Pedra, na zona oeste de São Paulo, Luíza Fried, 29, foi apresentada a Lucas Castro, 33. "Frequento a casa há muito tempo. Vi uma amiga aqui e fui dar oi. Ela só comentou que era a primeira vez dele aqui", conta a publicitária, que conheceu o então namorado no local.

Lucas, por acaso, já seguia Luíza nas redes sociais — a jovem posta fotos de natureza, fazendo trilha e, claro, escalando: tudo que ele também gosta de fazer. O primeiro date do casal foi na própria Casa de Pedra. "A gente se conheceu melhor nesse dia", diz o designer.

Clima de paquera no ar

Pode parecer estranho, mas a história de Luíza e Lucas não é tão incomum assim. A escalada, para além de todos os benefícios ao corpo, é utilizada como atrativo na hora de marcar um date — ou, quem sabe, até uma maneira de conhecer alguém.

Casa de Pedra fica em em Perdizes, na zona oeste de São Paulo
Casa de Pedra fica em em Perdizes, na zona oeste de São Paulo Imagem: Luiza Vidal/UOL

Eu, por exemplo, tenho amigas que adoram sair com homens que escalam, devido ao efeito do exercício principalmente nas costas. Ou elas simplesmente acham o ambiente diferente e interessante. Segundo elas, o clima fica mais leve e, se não rolar uma química, pelo menos você fez uma atividade física.

E foi assim que Universa foi visitar a Casa de Pedra em uma quinta-feira à noite. Tem clima de paquera, sim, mas também há quem fique totalmente focado na atividade — afinal, é um esporte que exige bastante atenção e cuidado.

'É um grande Tinder'

Conversando com os instrutores do lugar, um novo mundo se abriu. A escalada, dentro de um ginásio ou "na pedra" — como eles se referem a praticar o esporte fora dali — é quase como uma filosofia de vida.

Continua após a publicidade
Instrutores Gustavo Rachid (esquerda) e Jonathan Correa são coordenadores da Casa de Pedra
Instrutores Gustavo Rachid (esquerda) e Jonathan Correa são coordenadores da Casa de Pedra Imagem: Luiza Vidal/UOL

Então, é claro que a ideia de fazer um date ali depende do estilo de vida de quem recebe o convite, e principalmente se a pessoa tem ou não medo de altura.

Gustavo Rachid, 35, trabalha há três anos na Casa de Pedra. Ele convive e conhece de perto os alunos do local, e conta que sabe reconhecer, de longe, quando um casal está tendo um encontro. "É um nicho pequeno, todo mundo se conhece, então dá para saber quando é um encontro ou não", diz. Aliás, ele conheceu a namorada na escalada.

Muitos usam a escalada como um grande Tinder. Tem gente que é profissional nisso. Gustavo Rachid

O esporte costuma demandar um companheiro. Enquanto um está no alto, concluindo a escalada, é preciso ter alguém ali embaixo, ajudando com a corda. Por isso, é sempre em dupla. "Se alguém vem sozinho, indicamos fazer dupla com alguém, o que pode render alguma coisa", conta Gustavo.

Acredito que propor isso [de se encontrar na escalada] é diferente, porque todo mundo vai ao bar, geralmente. Acho que convidar para a escalada pode ser algo legal e diferente. Gustavo Rachid

Continua após a publicidade
Casa de Pedra estava cheia na quinta-feira à noite
Casa de Pedra estava cheia na quinta-feira à noite Imagem: Luiza Vidal/UOL

Jonathan Correa, 28, ou apenas "Jow", trabalha há oito anos no local. Assim com Gustavo, vê o romance começar ali. "Tem muitos casais formados aqui. Inclusive, conheci e namorei uma escaladora que conheci na pandemia", conta o coordenador da Casa de Pedra.

Jow também acha que o ambiente facilita a paquera.

É normal uma pessoa chamar atenção da outra. Rola troca de olhares. Se a pessoa está sozinha, a outra pode se oferecer para ajudá-la com a corda, dar dicas. Jonathan Correa

"Vai para a pedra?"

Cecília Araújo, 41, e Bruno Camargo, 44, estão juntos há dez anos e se conheceram na Casa de Pedra — época em que esporte não era tão popular como agora.

Continua após a publicidade

Bruno se lembra de ficar observando Cecília focada no esporte, principalmente porque ela já escalava em uma parede para os mais avançados.

Pensava: 'Preciso conhecer essa 'mina' de algum jeito'. Apareci na frente dela e perguntei se ela iria para a pedra. Ela me olhou desconfiada, mas foi assim que nós nos conhecemos. Bruno Camargo

Cecília e Bruno se conheceram na Casa de Pedra e estão juntos há dez anos
Cecília e Bruno se conheceram na Casa de Pedra e estão juntos há dez anos Imagem: Luiza Vidal/UOL

O casal acabou indo para São Bento do Sapucaí (MG) para escalar ao ar livre. "Ficamos lá pela primeira vez", conta Bruno que, assim como Cecília, trabalha com tecnologia da informação.

Frequentadores assíduos na Casa de Pedra, os dois costumam fazer várias viagens para praticar o esporte. Mas sabem que, caso terminem um dia, a convivência no mesmo lugar vai ficar difícil.

"Tem caso de amigos que se conheceram aqui, terminaram e deu briga", relata Bruno. "Tinha um cara que eu ficava aqui e, quando terminamos, ele precisou ver nós dois juntos. Ele alternava em horários que não iria me ver", fala Cecília. "Se a gente terminar, combinados de não ficar com ninguém da Casa de Pedra", brinca Bruno.

Continua após a publicidade

Date na escalada

Do lado dos solteiros, a escalada serve, sim, como um atrativo na hora de chamar o pretendente para o date. Silvester Natan, 34, faz escalada há sete anos e é um exemplo disso.

Silvester Natan, 34, já fez dates na Casa de Pedra
Silvester Natan, 34, já fez dates na Casa de Pedra Imagem: Luiza Vidal/UOL

Ele alterna entre os lugares que vai praticar o esporte em São Paulo. No dia em que Universa esteve no local, o jovem contou que tinha um date marcado, mas, de última hora, a moça precisou remarcar.

"Ela queria conhecer a escalada, mas não rolou", conta Silvester, que trabalha com trade marketing. "Aqui, você pode ir escalando e conversando. Dá para descer e tomar um café, por exemplo, e conversar", disse.

Mas antes de fazer um convite para alguém, é importante saber se faz sentido para a pessoa.

Continua após a publicidade

Às vezes, a pessoa pode ter curiosidade, mas não conhece ninguém para apresentar. Quando fiz dates, foram duas coisas: fazer um esporte e conhecer alguém novo. Silvester Natan

Silvester afirma que ter um date enquanto pratica o esporte "facilita a vida dele". "Gosto de dormir 22h e estar inteiro no dia seguinte para treinar. Então, não daria para sair com uma pessoa mais 'baladeira'. Como isso faz parte da minha vida, e é uma filosofia, é importante deixar claro no primeiro encontro", diz.

Já o professor de física Felipe Alves, 33, já teve bastante experiência romântica misturada com o esporte. "Conheci minha ex aqui na escalada. Fomos para a rocha juntos e namoramos por sete meses", conta.

No entanto, o local também é o momento de treino dele e, por isso, prefere evitar os dates no lugar. "É meu lugar para desestressar, então, já fiz muitos dates aqui, mas hoje prefiro evitar", diz.