Maria da Penha, Larissa Manoela e mais: as mulheres que inspiraram leis

Um projeto de lei aprovado na Câmara dos Deputados na última semana foi elaborado a partir de uma denúncia feita por Larissa Manoela, 24, em relação a seus pais. Caso o PL seja aprovado no Senado e sancionado pelo presidente da República, a lei será mais uma entre as que foram inspiradas em casos reais vividos por mulheres brasileiras.

Veja abaixo exemplos desse tipo de lei e relembre os casos.

Lei Larissa Manoela

O PL 3914/23 visa proteger crianças e adolescentes da violência patrimonial. Para amparar a denúncia de eventuais injustiças patrimoniais sofridas por jovens que tenham atividade remunerada, o projeto permite a cobrança de prestação de contas aos pais ou responsáveis até dois anos após a vítima completar a maioridade.

Caso a lei entre em vigor, o Ministério Público ou o próprio jovem poderão denunciar má administração que comprometa o patrimônio. Segundo o projeto, medidas podem ser tomadas pelo juiz caso seja encontrada alguma irregularidade na gestão dos recursos.

O PL é inspirado no rompimento de Larissa Manoela com os pais, que atuavam como administradores de sua carreira. Em entrevista ao Fantástico em agosto de 2023, a atriz revelou que, mesmo após completar 18 anos, não era informada sobre suas questões financeiras e que recebia apenas uma mesada dos pais. Na ocasião, ela também declarou que havia decidido abrir mão do patrimônio avaliado em R$ 18 milhões para romper, de fato, a relação com os pais.

Lei Maria da Penha

Maria da Penha deu nome a uma das leis mais importantes para a proteção da mulher no Brasil
Maria da Penha deu nome a uma das leis mais importantes para a proteção da mulher no Brasil Imagem: 7.ago.2024-José Cruz/Agência Brasil

Um dos principais marcos na proteção à mulher foi sancionado em setembro de 2006. A lei n.º 11.340/2006, mais conhecida como Lei Maria da Penha, foi criada para reprimir a violência doméstica e familiar contra a mulher e prevê mecanismos como medidas restritivas e punições para os agressores. Novos aparatos ao longo dos anos fizeram com que a lei fosse complementada a favor da vítima.

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Entre os tipos de violência previstos pela lei, estão: a física (agressões como socos, tapas, empurrões e ferimentos com armas); a psicológica (qualquer conduta que cause dano emocional, como xingamentos, ameaças e manipulação); a sexual (qualquer ato sexual sem consentimento); a patrimonial (dependência financeira criada pelo agressor, que controla todos os recursos, ou destruição de bens); e a moral (qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria).

Hoje, a Lei Maria da Penha é considerada uma das três mais avançadas do mundo pela ONU. Em fevereiro deste ano, o Supremo Tribunal Federal decidiu que a Lei Maria da Penha também se aplica a casais homoafetivos formados por homens e a mulheres travestis e transexuais.

Maria da Penha Maia Fernandes lutou para que seu marido, o professor universitário Marco Antonio Heredia Viveros, fosse condenado pelas agressões contra ela. A farmacêutica sofreu duas tentativas de homicídio em 1983: na primeira, Viveros usou uma espingarda contra a então esposa, e o tiro a deixou paraplégica. Ao retornar do hospital, Maria da Penha estava tomando banho quando Viveros tentou eletrocutá-la.

A brasileira lançou um livro contando sobre as violências que sofreu e procurou organizações que pudessem ajudá-la, até que seu caso chegou à OEA (Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos), em 1998. Em 2001, o Estado brasileiro foi condenado pela Comissão por omissão, negligência e tolerância em relação à violência doméstica contra mulheres.

Lei Carolina Dieckmann

Episódio vivido por Carolina Dieckmann em 2011 inspirou lei em homenagem à atriz
Episódio vivido por Carolina Dieckmann em 2011 inspirou lei em homenagem à atriz Imagem: Reprodução/Instagram
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A lei 12.737/12 promoveu alterações no Código Penal Brasileiro para definir crimes cibernéticos no Brasil. Sancionada em novembro de 2012, a norma tipifica como infração uma série de condutas no ambiente digital, principalmente em relação à invasão de computadores, e prevê crimes que se caracterizam pelo uso indevido de informações e materiais pessoais na internet, como fotos e vídeos.

A lei define também que o crime existe quando o usuário não autoriza o acesso ao aparelho ou quando o criminoso "instala vulnerabilidades para obter vantagem ilícita". A lei estabelece, ainda, uma pena para o crime de invasão de dispositivos, que pode variar de multa à detenção.

Em 2011, a atriz foi vítima de uma extorsão devido a fotos íntimas. À época, um hacker invadiu o computador de Carolina e teve acesso às imagens. "Ou eu pagava a quantia pedida, ou minhas fotos seriam publicadas. Me recusei a pagar o dinheiro pedido pelos criminosos e tive essas fotos íntimas divulgadas na internet", lembrou a atriz no aniversário de 10 anos da lei.

Lei Mariana Ferrer

O caso envolvendo a influenciadora Mariana Ferrer gerou revolta e provocou a sanção de uma lei em homenagem à jovem
O caso envolvendo a influenciadora Mariana Ferrer gerou revolta e provocou a sanção de uma lei em homenagem à jovem Imagem: Reprodução/Redes Sociais

A Lei 14.245/2021 visa garantir a integridade física e psicológica da vítima em casos de crimes sexuais. Sancionada em novembro de 2021, a norma prevê punição para atos contra a dignidade de vítimas de violência sexual e das testemunhas do processo durante julgamentos. A lei proíbe, por exemplo, perguntas sobre a conduta sexual e os hábitos da vítima e a utilização de ofensas e linguagem imprópria com o intuito de desestabilizar a vítima durante o processo.

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A lei aumentou a pena para o crime de coação no curso do processo, que já existia no Código Penal. O ato é definido como o uso de violência ou grave ameaça contra os envolvidos em processo judicial para favorecer interesse próprio ou alheio.

O conteúdo foi inspirado no caso da influenciadora digital Mariana Ferrer, que denunciou ter sido dopada e estuprada durante uma festa em 2018. Durante o julgamento, a defesa do acusado, o empresário André Camargo Aranha, fez menções à vida pessoal de Mariana, inclusive apresentando fotografias íntimas da vítima.

À época, um trecho da videoconferência foi divulgada pelo The Intercept Brasil. As falas geraram indignação no público, sobretudo entre as mulheres. O advogado Cláudio Gastão da Rosa Filho ataca Mariana diversas vezes, a chama de mentirosa e diz: "Não adianta vir com esse teu choro dissimulado, falso e essa lágrima de crocodilo". Na ocasião, Aranha foi inocentado por falta de provas.

Lei Joanna Maranhão

A ex-nadadora Joanna Maranhão lutou para que outras atletas não sofressem o abuso vivido por ela
A ex-nadadora Joanna Maranhão lutou para que outras atletas não sofressem o abuso vivido por ela Imagem: Divulgação

A Lei Joanna Maranhão, n.º 12.650/2012, mudou o prazo de prescrição de abuso sexual de crianças e adolescentes. Com a norma, o prazo passou a ser contado a partir da data em que a vítima completa 18 anos. Antes desta lei, o prazo para prescrição tinha início na data do crime em si.

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Em 2008, Joanna revelou que havia sido abusada sexualmente pelo treinador Eugênio Miranda. Na época, ela tinha apenas nove anos. Joanna se aposentou das piscinas em 2018 e atualmente é membro do Conselho de Ética do Comitê Olímpico do Brasil (COB), onde a equipe responsável pelo tema atua na recepção de denúncias de abusos sexuais no esporte e auxilia as vítimas em seus processos judiciais.

Em caso de violência, denuncie

Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie. Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares. Também é possível realizar denúncias pelo número 180 —Central de Atendimento à Mulher— e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.

Em 2023, o 180 ganhou seu canal de atendimento via WhatsApp, o que pode ser útil para quem teme a ligação, mas precisa ter acesso aos serviços acima. Basta entrar em contato através do número (61) 9610-0180.