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Ela pulou de prédio para não ser morta pelo marido: 'Era a única saída'

Jhenipher foi ameaçada com uma faca e decidiu pular para se salvar - Arquivo pessoal Jhenipher foi ameaçada com uma faca e decidiu pular para se salvar - Arquivo pessoal
Jhenipher foi ameaçada com uma faca e decidiu pular para se salvar Imagem: Arquivo pessoal

Simone Machado

Colaboração para Universa, em São José do Rio Preto (SP)

07/04/2025 05h30Atualizada em 07/04/2025 17h25

"Eu não podia ser mais um número." É dessa maneira que a empresária Jhenipher Sabriny de Oliveira, 31, define a atitude que teve no dia 12 de fevereiro.

A mulher pulou da janela de um prédio, de uma altura de sete metros, para fugir do companheiro que ameaçava esfaqueá-la. O caso aconteceu em Contagem (MG), e o suspeito, de 32 anos, está foragido. Com fraturas nas pernas, braços e na bacia, Jhenipher se recupera em casa dos traumas vividos nos últimos dias.

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'Pegou uma faca e veio até mim'

Ela conta que seu então companheiro se alterou após ela se negar a entregar a ele uma quantia de R$ 10 mil.

O dinheiro, em espécie, estava no quarto do casal e havia sido retirado da conta da empresa que os dois tinham juntos e que seria para o pagamento de contas no dia seguinte.

Eu estava no quarto e ele entrou alterado pedindo o dinheiro. Quando recusei, ele foi até a cozinha, pegou uma faca e veio em minha direção. Ele ameaçou me matar caso eu não entregasse o dinheiro e trancou a porta do quarto.
Jhenipher Sabriny de Oliveira

Sem ter como sair do apartamento e com medo de ser assassinada, Jhenipher aproveitou um momento de distração do homem e pulou pela janela do quarto, caindo de uma altura de aproximadamente sete metros.

Ele me ameaçava a todo momento e eu tentava falar com ele em tom baixo de voz para que ele não ficasse ainda mais nervoso. Eu nunca tinha visto ele daquela maneira e me olhando daquele jeito. Quando percebi que eu não sairia viva dali, me aproximei da janela e, quando ele olhou para o lado, lancei meu corpo para fora. Foi a única saída.
Jhenipher Sabriny de Oliveira

'Apertou com força meus pés'

A queda resultou em fraturas nos pés, bacia, fêmur e punhos. Ouvindo os pedidos de socorro da mulher, vizinhos tentaram socorrê-la, mas o homem não deixou, alegando que a mulher estava "delirando". Ele mesmo a pegou do chão, a colocou no carro e a levou até um hospital da cidade.

Durante o trajeto, ela conta que ele continuou a ameaçá-la, dizendo que mataria seu filho e sua mãe caso Jhenipher denunciasse a agressão.

"Eu tentei fazer o jogo do amor para que eu pudesse ser socorrida. Eu disse que jamais o denunciaria e que tudo havia sido um acidente", lembra.

Jhenipher foi internada no Hospital Municipal de Contagem, onde permaneceu por 12 dias, período em que o homem a acompanhou e continuou com as ameaças.

Mesmo dentro do hospital, ele impedia que familiares a visitassem, mantendo-a sob constante vigilância, segundo ela relata. O homem também proibiu que ela utilizasse o próprio celular e não deixava ela usar o aparelho sem que ele estivesse supervisionando.

Em uma noite, após passar por uma cirurgia na bacia, eu estava com muitas dores. Meus pés estavam imobilizados, mas a cirurgia neles ainda não havia sido feita. Ele se aproximou da minha cama, falou diversos palavrões por eu estar com dores e apertou com toda força meus pés. Eu gritava de dor.
Jhenipher Sabriny de Oliveira

Após o episódio, médicos e enfermeiros chegaram no quarto, mas a empresária não contou o que havia acontecido.

"Eu estava muito fragilizada e com medo. Ele ameaçava me matar, e também matar minha mãe e meu filho", diz.

'Estou viva para lutar'

Ela fraturou as pernas e teve de passar por cirurgia Imagem: Arquivo pessoal

Quase duas semanas após dar entrada no hospital, Jhenipher conseguiu denunciar o companheiro ao convencê-lo a deixar o aparelho celular no quarto enquanto ele deixava o local para visitar um cliente.

O aparelho foi deixado longe da cama da empresária, mas ela pediu para que uma enfermeira lhe entregasse o equipamento.

Com o telefone em mãos, ela ligou para uma advogada, que até então não conhecia, e relatou tudo o que havia vivido nos últimos dias.

A profissional percebeu a gravidade da situação, foi até o hospital visitar a empresária e ao deixar o local foi até a delegacia registrar um boletim de ocorrência e pedir uma medida protetiva para Jhenipher, além da prisão preventiva do suspeito por tentativa de feminicídio.

A Justiça acatou os pedidos, mas ele já havia fugido e atualmente é considerado foragido.

Para aumentar a proteção, Jhenipher teve a sua identidade trocada e ganhou escolta policial no hospital.

Após ter alta médica, a empresária foi para a casa de amigos, onde segue se recuperando. Por medo, o local é mantido em sigilo até mesmo de familiares.

Desde que tudo aconteceu, eu consigo dormir apenas 2 horas por noite, então você imagina a minha situação. Ainda não consigo colocar os pés no chão e sinto dores, mas estou viva para lutar por mim e também espero ser voz para outras mulheres.
Jhenipher Sabriny de Oliveira

'Nunca para por aí'

Jhenipher faz alerta para que outras mulheres fiquem atentas às agressões Imagem: Arquivo pessoal

Jhenipher e o marido estavam juntos havia nove anos. Segundo a empresária, o homem já havia dado sinais de ser uma pessoa violenta, mas nunca a tinha ameaçado.

Nós, mulheres, devemos ficar atentas a todos os sinais, por menores que pareçam. Um grito, um apertão no braço, nunca para por aí. Começa assim e depois eles tentam tirar a nossa vida.
Jhenipher Sabriny de Oliveira

O que diz a polícia

Em nota, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que as medidas para proteger a vítima foram tomadas e que o caso segue em investigação.

"Na data dos fatos, foram adotadas todas as providências de urgência cabíveis, como o requerimento das medidas protetivas para a vítima, e as diligências estão em andamento na Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher, em Contagem. Outras informações serão divulgadas em momento oportuno para preservar a investigação."

Como procurar ajuda

Mulheres que passaram ou estejam passando por situação de violência, seja física, psicológica ou sexual, podem ligar para o número 180, a Central de Atendimento à Mulher. Funciona em todo o país e no exterior, 24 horas por dia.


Violência contra a mulher