"Salário melhor encerraria mutilação genital feminina", diz sobrevivente
A mutilação genital feminina (MGF) não acabará a menos que as mulheres sejam tiradas da pobreza e os doadores parem de desperdiçar dinheiro em programas de ajuda ineficazes, disse uma ativista destacada de Gâmbia.
Jaha Dukureh é uma sobrevivente do casamento infantil e da MGF, um ritual antigo que envolve a remoção total ou parcial da genitália externa. Estima-se que 200 milhões de garotas e mulheres tenham sido submetidas à prática, que pode causar problemas de saúde graves.
A ativista de 30 anos levou sua luta para toda a África e os Estados Unidos, para onde foi enviada aos 15 anos para um casamento arranjado com um homem que não conhecia. Ela deixou o marido pouco depois e começou a fazer campanha pelos direitos das garotas.
"A melhor maneira de as mulheres defenderem a si mesmas e aos seus direitos é serem capazes de ganhar um pouco mais", disse Dukureh, que em 2013 fundou o grupo Safe Hands for Girls, que atua em Gâmbia, em Serra Leoa e nos EUA.
Acredita-se que o ativismo de Dukureh ajudou a persuadir o presidente de Gâmbia a proibir a MGF em 2015. Três quartos das meninas do pequeno país do oeste africana são sujeitadas à prática.
Mais recentemente, ela iniciou um programa de hortas comunitárias para cerca de 600 mulheres gambianas, o que lhes permitiu ter uma pequena renda com a venda de vegetais — e a se recusarem a permitir que suas filhas sejam mutiladas.
"Sempre me lembrarei do que uma das mulheres me disse. Ela disse 'agora tenho escolha. Sou capaz de me posicionar e dizer não a certas coisas para as quais antes não podia dizer não porque tenho dinheiro'", contou Dukureh.
Dukereh, que também é cidadã norte-americana, teve sucesso ao pleitear no site change.org para que o então presidente Barack Obama investigasse a prevalência da MGF nos EUA, onde meninas muitas vezes passam por "mutilações de férias" nos países de origem de seus pais.
A MGF é vista muitas vezes como uma questão religiosa, cultural ou de saúde, mas uma de suas causas centrais na verdade é a pobreza, disse ela, já que é frequente as mulheres africanas dependerem financeiramente dos homens.
"Não temos grandes salários, empregos que podem contribuir significativamente para o crescimento do nosso país", explicou Dukureh, que a revista Time elegeu como uma das pessoas mais influentes do mundo em 2016.
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