Italianas lutam contra machismo no futebol e na sociedade, diz Libération
A Copa do Mundo de Futebol feminino tem sido um sucesso de público, audiência e repercussão internacional. O evento trouxe à tona a situação marginal das atletas que se dedicam a um esporte até então visto como essencialmente masculino. O jornal Libération desta terça-feira (25) analisa o sexismo arraigado na Itália, que faz aflorar o comportamento misógino diante do sucesso da seleção italiana.
"A classificação às oitavas de final da Squadra Azzurra, que enfrenta hoje a China, vai mudar as mentalidades? ", pergunta o jornal francês. "Ainda hoje, a presença de mulheres no futebol suscita declarações misóginas", explica o diário.
Libération cita a declaração, em fevereiro, de Fulvio Collovati, ex-titular da Squadra Azzurra, campeã do mundo em 1982. "Quando ouço uma mulher falar de tática, isso me embrulha o estômago. Não passa", disse o ex-jogador da Inter de Milão, do Milan AC e do Roma, hoje comentarista de TV.
Collovati disse mais ainda: "Se ela falar só da partida, como ela aconteceu, tudo bem". E acrescentou: "Mas ela não pode falar de tática, pois uma mulher não pensa como um homem".
As declarações não passaram despercebidas, conta Libération, e a RAI (TV pública italiana) suspendeu Collovatipor duas semanas. Mas o incidente, avalia o jornal francês, mostra como, muitas vezes na Itália, futebol rima com macho. As atitudes no futebol italiano contra as mulheres vêm também dos clubes, das federações e jogadores.
"O estádio se tornou talvez o último templo masculino, onde o homem exprime sua primazia", diz a escritora Natalia Aspesi para Liberation. "No meio da frustração geral, as mulheres começam a incomodar, a serem consideradas como usurpadoras de direitos", continua.
Último bastião masculino
"A ideia geral na Itália é que o futebol é o último bastião masculino", acrescenta a treinadora da equipe feminina Milena Bertolini.
"O sexismo no futebol é mais claro que no resto da sociedade, mas infelizmente é o reflexo de um país ainda atrasado", diz Carolina Morace, advogada, ex-jogadora (12 vezes campeã da Itália) e treinadora. Para ilustrar o quadro nacional, ela cita a disparidade de salários e a ausência de mulheres nos cargos de poder, principalmente na política.
Mas o sucesso inquestionável da Copa pode mudar a situação, aponta Libération. Foram 7,3 milhões de espectadores no jogo contra o Brasil, na semana passada. "O próximo passo é a chegada dos patrocinadores", diz Carolina Morace. Ela acredita ainda que a nova geração de dirigentes também vai mudar o comportamento no futebol.
Oficialmente, as jogadoras italianas não são consideradas profissionais. Em 2015, lembra Libération, Felice Belloli, ex-presidente da liga nacional amadora interrompeu uma discussão sobre o financiamento do futebol feminino. "Não podemos perder tempo falando de dar dinheiro para um punhado de lésbicas".
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