Falência de marca francesa de vestidos de noiva indica mudanças no mercado
Foram sete décadas realizando os sonhos de jovens francesas e estrangeiras, que encontram em Paris o vestido de noiva ideal. A tradicional marca Pronuptia não conseguiu superar a crise iniciada em 2008 e vai fechar as portas nos próximos dias. A falência sinaliza mudanças mais profundas enfrentadas pelo mercado de casamento nos últimos anos - a começar pela queda do número de casais dispostos a festejar a união.
A Pronuptia fez sucesso ao propor, pela primeira vez, peças relativamente acessíveis, de em média € 1 mil (R$ 4,7 mil) a € 2 mil (R$ 9,4 mil), num mercado em que os vestidos feitos sob medida eram a regra e os aluguéis, um tabu. Rapidamente, a marca cresceu e chegou a 41 lojas em todo o país.
Até que a visão sobre o casamento começou a se transformar. De 1997 a 2017, o número de matrimônios despencou 25% na França, conforme estatísticas oficiais do Insee. Hoje, o orçamento daqueles que se animam a fazer uma festa é de em média € 13 mil (R$ 61 mil), uma cifra em ascensão - mas a fatia reservada para o vestido é cada vez menor. Um estudo especializado da consultoria Xerfi, feito em 2018, previa que o valor deveria cair até 15% em 2020.
"Grosso modo, uma parte importante dos consumidores, quase 60%, querem comprar melhor. E, para 38% destes, isso significa comprar menos", ressalta analista Véronique Varlin, do Observatório do Consumo. "O contexto do casamento ainda é muito especial e social e, neste caso, pode significar querer buscar uma exclusividade ou personalizar o seu vestido."
Vestidos minimalistas
Várias razões explicam a diminuição da importância da roupa da noiva. O perfil das festas é mais descontraído e muitas se autorizam a escolher modelos menos trabalhados, que possam ser utilizados em outras ocasiões. A moda "bohême chic", minimalista, contribui para essa tendência e foi apropriada em cheio por grandes lojas internacionais de prêt-à-porter, como H&M, que trouxeram peças a cerca de € 200 (R$ 946). É possível até encontrar um vestido de noiva no supermercado de classe média Monoprix, conhecido por oferecer roupas com um bom custo-benefício.
Em comum, essas alternativas a preços atraentes têm o local de fabricação, que costuma ser a China ou outro polo têxtil asiático. Sem contar que as próprias noivas podem comprar uma peça pela internet e, se necessário, fazer os ajustes com uma costureira na França.
"Ao fazer isso, encontramos essa ideia de se reapropriar daquilo que consumimos e colocar um toque bem mais pessoal no produto", nota Varlin.
Aluguel e compra de usados não é mais tabu
Para completar, as mudanças nos modos de consumo também derrubaram os preconceitos contra o aluguel do vestido de noiva ou a compra de um modelo usado. Essa opção ganhou impulso com plataformas que oferecem modelos de segunda mão de grifes de luxo, como Chanel ou Dior.
"A moda vintage pode ser uma chance de ter acesso a produtos de marcas de uma gama superior a que teríamos acesso se tivéssemos comprado um novo. E, de quebra, teremos um modelo único, em que não há a menor chance de encontrar alguém com o mesmo vestido", frisa a especialista. "É uma chance de reafirmar o próprio estilo, dando uma segunda vida a uma peça de roupa. Uma maioria de franceses hoje acha que o uso de um produto é mais importante do que a posse dele - e podemos supor que os vestidos de noiva entraram nessa tendência."
Gamas intermediárias em dificuldades
O setor de luxo, aliás, permanece inabalado. Quem sofreu mesmo foram as marcas intermediárias, como a Pronuptia. Outro nome forte do setor, a Cymbeline, aproveitou a ocasião para lamentar "a tristeza" pelo fechamento da concorrente e pioneira. Em um comunicado, a marca declarou que "o mercado de vestidos de noiva está terrível" no país e disse que, ao lado da Pronuptia, "era a única que conseguiu continuar sendo fabricada na França".
Depois de duas tentativas de recuperação judicial, a Pronuptia vai encerrar as atividades ao não conseguir honrar dívidas de mais de € 9 milhões (R$ 42 milhões). Além das razões evocadas acima, a direção acusou "a queda da demografia na Europa", com menos casamentos, e apontou a crise dos manifestantes coletes amarelos como o golpe de misericórdia na marca. Os 234 funcionários já estão sendo demitidos.
A Cymbeline também entrou em recuperação judicial em 2015 e, desde então, promoveu uma série de adaptações para se tornar mais competitiva. Por enquanto, a sobrevida parece funcionar.
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