Brasileira acusa polícia francesa de ter provocado seu aborto
A brasileira Débora A., de 23 anos e grávida de 4 meses e meio, diz ter sido jogada violentamente contra um muro por uma policial que a controlava por não respeito do uso de máscara. O caso foi revelado pela imprensa francesa.
A agressão aconteceu em 10 de dezembro de 2020, em um shopping de Garges-Lès-Gonesse, na periferia de Paris. Onze dias depois, ela perdeu o bebê.
O jornal "Libération" entrevistou Débora, cujo sobrenome não foi revelado. O diário diz que a brasileira, "com rosto de criança", custa a achar as palavras para responder às perguntas dos jornalistas. Seu advogado, Vincent Brengarth, explica que esta "é a primeira vez que ela fala com a mídia sobre o caso, que ainda a faz sofrer muito. Sua recuperação apenas começou".
A suposta agressão aconteceu no final da tarde de 10 de dezembro de 2020. Débora vai com uma prima, Céline H., e uma amiga buscar a comida encomendada em um restaurante chinês do centro comercial Arc-em-Ciel. Quando elas estavam saindo do local, um policial pediu que colocassem as máscaras, o que elas afirmam ter feito sem protestar.
Multa, agressão e detenção temporária
No entanto, uma outra policial se aproximou e resolveu, de "maneira agressiva", multá-las. Quando as jovens deixavam o shopping, de máscara e com as multas nas mãos, elas foram bruscamente freadas pela policial que alega ter ouvido insultos contra ela, detalha o "Libération". Débora disse que o grupo estava "apenas brincando".
A prima Céline H., foi jogada no chão para ser algemada. Débora tentou defendê-la, mas foi empurrada. Ela contou que a policial chegou a jogá-la violentamente três vezes contra a parede, apesar de ter gritado que estava grávida.
As jovens foram levadas para a delegacia de Sarcelles, detidas temporariamente até às 21h30, e indiciadas por ultraje. A brasileira já foi convocada para uma audiência no dia 6 de julho de 2021.
Dores e hospitalização
No entanto, o pesadelo estava apenas começando. À noite, Débora começou a sentir forte dores no ventre. No dia seguinte, na emergência da maternidade, os médicos constataram "uma contusão lombar e metrorragia".
A brasileira recebeu uma licença médica de oito dias e foi aconselhada a repousar. Mas, na noite seguinte, as dores abdominais se intensificaram, ela foi hospitalizada e perdeu o bebê —uma menina— em 21 de dezembro. Era a sua primeira gravidez.
O advogado de Débora A., Vincent Brengarth, entrou com uma queixa "por violência tendo provocado uma mutilação ou uma enfermidade permanente por uma autoridade pública". Uma investigação preliminar foi aberta na polícia pelo Tribunal de Pontoise, periferia de Paris.
"A relação de causa e efeito entre a violência policial cometida em 10 de dezembro e a morte do bebê é coerente. Existe inclusive uma presunção de culpabilidade", acredita o advogado. Ele ressalta que a gravidez corria bem até então.
Justiça para a filha
Fotos de Débora no momento da suposta agressão a mostram visivelmente grávida. A polícia, contatada pelo jornal "Libération", afirma que "ela não sofreu nenhum golpe" e que a investigação está demorando porque várias testemunhas da cena ainda não se apresentaram.
Abalada, a jovem brasileira pede "justiça para a sua filha" e exige que uma autópsia seja feita no bebê natimorto. Se comprovada, a agressão viria alongar a lista de violência policial na França.
"A meu conhecimento, esta seria a primeira vez que um caso de violência policial teria provocado a morte de um bebê", salientou o advogado à rede BFMTV.
A RFI entrou em contato com o advogado de Débora, Vincent Brengarth, mas até agora não obteve resposta.
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