Estudo diz que quase 70% dos vídeos do YouTube são sexistas e banalizam violência contra mulheres
Homens viris, mulheres sedutoras: a maior parte dos vídeos do YouTube veicula estereótipos de gênero, e um quarto deles mostram violências e insultos sexistas e sexuais. Os dados constam de um estudo realizado pela ONG francesa Fundação das Mulheres, em parceria com a universidade Sciences Po de Paris.
Homens viris, mulheres sedutoras: a maior parte dos vídeos do YouTube veicula estereótipos de gênero, e um quarto deles mostram violências e insultos sexistas e sexuais. Os dados constam de um estudo realizado pela ONG francesa Fundação das Mulheres, em parceria com a universidade Sciences Po de Paris.
Para chegar a essa conclusão, os 200 vídeos mais populares do YouTube na França nos dois últimos anos (100 em 2019 e 100 em 2020) foram analisados para a pesquisa, cujos resultados foram divulgados nesta quinta-feira (26). No total, 68% deste material veicula um conteúdo sexista, especialmente clipes de música (74%), que representam três quartos dos vídeos mais acessados por internautas franceses.
Dentro do conteúdo analisado, 57% apresentam estereótipos masculinos, "associados a valores positivos (como poder e coragem)". Além disso, 39% trazem estereótipos femininos, "com conotação negativa, como a sentimentalidade e a submissão".
Segundo o estudo, mais de 20% do material mais visualizado no YouTube exibe mulheres "sexualizadas", que protagonizam "movimentos eróticos" ou "poses lascivas". Além disso, 35% dos vídeos analisados mostram "uma imagem degradante das mulheres". Muitas têm um papel apenas "estético e inativo", aparecem sendo alvo de assédio de rua ou são filmadas com um enquadramento focalizado nos quadris ou bustos aponta a pesquisa.
"Esses vídeos comunicam a ideia de que as mulheres devem parecer e se comportar de uma certa maneira para serem atraentes, reforçando assim a imagem da mulher objeto", denuncia a ONG francesa.
Sequências problemáticas
A Fundação das Mulheres também aponta "sequências problemáticas" nos clipes musicais, em que garotas jovens são alvo de insultos sexistas e comentários misóginos. Em um dos vídeos analisados, o vocalista "evoca sua intenção de embebedar uma mulher para poder ter relações sexuais com ela", uma prova, segundo as autoras do estudo, "da normalização da cultura do estupro". Em outro clipe, o personagem principal, um homem, canta ao lado dos cadáveres da ex-namorada e seu amante, ambos envoltos em um plástico transparente.
"Essas violências e preconceitos vão além do que é tolerável", afirma Sylvie Pierre-Brossolette, jornalista e uma das coordenadoras do estudo. Para ela, "essas imagens fazem sucesso, mas também prejudicam, porque apresentam uma noção enviesada do macho dominante e da mulher dominada", que, salienta, "incitam as violências na vida real".
Por isso, ela pede que as autoridades se mobilizem para lutar contra o que classifica como "o sexismo livre" na internet. Ela propõe, por exemplo, que as plataformas audiovisuais não exibam conteúdos sexistas ou degradantes devido ao sexo ou à identidade de gênero. Também sugere que organismos públicos de apoio às produções, como o Centro Nacional do Cinema ou o Centro Nacional de Música da França, não se engagem no financiamento de obras que exibam esse tipo de estereótipo.
Boa conduta e privação de financiamento
Outra sugestão é que as plataformas numéricas se comprometam a respeitar uma "cartilha de boa conduta", com o objetivo de observar o material online e apagar as sequências ofensivas. "Essas obras que contam com sequências extremamente degradantes para as mulheres deveriam ser privadas de financiamento", avalia Sylvie Pierre-Brossolette.
A jornalista elogia os progressos importantes nos últimos anos pelo Conselho Superior do Audiovisual na França contra a incitação do ódio na internet e a pedopornografia. Mas "pedimos que façam o mesmo agora para a proteção das mulheres", salienta.
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