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Brasileira cria kits para testes de doenças e fatura alto no Reino Unido

Flavia Araujo-Rankin é dona de um laboratório de exames clínicos em franco crescimento no Reino Unido Imagem: Arquivo pessoal

Vivian Oswald;

Correspondente da RFI em Londres

12/10/2023 04h00

Empreendedora desde criança, Flavia Araujo-Rankin é movida a novos projetos. Assim pretende mudar o mundo. Recentemente, lançou-se no maior empreendimento de sua vida. É dona de um laboratório de exames clínicos em franco crescimento no Reino Unido.

Com mais de cem pontos de coleta e centenas de milhares de clientes, o London Medical Laboratory é um bom negócio, não resta dúvida, sobretudo num país em que o sistema nacional de saúde pública está em crise. Mas é também fruto da curiosidade desta pernambucana e de sua vontade de fazer sempre mais.

Ainda jovem montou uma banca para vender bobagens em frente de sua casa, trabalhou como palhaça, abriu uma loja de decoração de festas. Também se virou para arrecadar fundos para orfanatos no Recife, sua cidade natal, morou por seis meses no Maraã, município em plena floresta amazônica, onde foi voluntária em um hospital, assim como, mais tarde, em uma instituição especializada em tratamentos de câncer na capital pernambucana, onde aprendeu a cuidar dos pacientes.

A ideia de sua empresa surgiu pouco depois de descobrir que a filha de três anos tinha diabetes tipo 1. Inconformada, Flavia foi estudar ciências médicas para entender como poderia tornar a vida da menina mais fácil. Começou a levantar fundos para pesquisa sobre a doença. Pensou em abrir uma clínica só para diabéticos, com tudo o que é necessário, desde exames frequentes, podólogos e outros serviços. Tudo em um mesmo lugar.

Até que ela e o marido, clínico geral, se deram conta de que as pessoas de modo geral não faziam exames periódicos. Com as longas filas no sistema de saúde no Reino Unido, onde mora há 25 anos, e os preços altos de quem recorre à medicina privada no país, era a oportunidade de oferecerem à população a possibilidade se testar de maneira rápida e simples.

"Resolvemos montar o laboratório achando que seria só mais um outro empreendimento. Foi super difícil por causa dos regulamentos". Hoje temos todas as licenças necessárias para trabalhar como laboratório de análises clínicas. Foi um crescimento e um aprendizado enormes", conta em entrevista à RFI.

A iniciativa começou com um espaço pequeno, um cientista e um contador. Investiram na novidade. Abriram um curso de flobotomia, foram atrás das farmácias, que vinham perdendo clientes para a internet e tinham espaço físico disponível. Treinaram os farmacêuticos. Esses estabelecimentos não pagavam nada por isso, mas acabavam por se tornar uma espécie de franquia do laboratório, que ficaria a cargo das análises. Foi uma visão de futuro.

Hoje, o laboratório vende seus kits em farmácias, no aplicativo das clínicas nacionais da família e em uma grande loja de produtos médicos britânica. Faz todos os tipos de exames clínicos de sangue, doenças sexualmente transmissíveis e de covid. A empresa desenvolveu uma metodologia mais simples para fazer seus testes. Qualquer um pode acompanhar seus indicadores sem a burocracia de esperar atendimento médico. Pode também, a partir dos resultados, recorrer a ajuda médica.

O salto do laboratório aconteceu durante a época da covid, quando o trabalho foi incessante e a empresa chegou a contar com 350 funcionários. O Brexit e a pandemia trataram de reduzir ainda mais a mão-de-obra disponível na área médica do Reino Unido. Era preciso agilidade.

Flavia lembra que há 16 milhões de diabéticos não diagnosticados no Brasil. Ela tem ideias para o país, projetos para agilizar a realização de testes. Não quer vender laboratórios, mas criar a conscientização de que exames periódicos podem salvar vidas.

A trajetória da executiva foi longa. Enfrentou preconceitos por ser mulher e estrangeira no Reino Unido. Até mesmo dentro da sua própria empresa.

"Ainda existem esses fatores salariais, de inclusão. Imaginei que, aqui na Inglaterra, não existiriam, por se tratar de país de primeiro mundo. Meu esposo também não imaginava que houvesse tanta discriminação até trabalhar junto comigo. Não só pelo fato de ser mulher, mas estrangeira, pelo fato de o inglês não ser meu primeiro idioma, por eu ser da América do Sul", diz.

Mas nada disso abalou a empresária, que conhece bem os percalços do empreendedorismo.

"Empreendi em várias áreas. Foram aprendizados tremendos. Alguns empreendimentos deram um pouco certo, outros deram muito errado, outros deram muito certo. É assim a vida do empreendedor. A gente aprende não só com o nosso sucesso, mas com as nossas falhas e o nosso fracasso", destaca.

A filha cresceu e é motivo de orgulho. Aos 18 anos está fazendo faculdade de ciências médicas.

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