Casa em Carapicuíba reúne moradia e escritório com total independência
Hoje eles têm escritórios separados, mas a parceria de Alvaro Puntoni e Angelo Bucci rendeu bons frutos à arquitetura brasileira, tanto no segmento residencial, quanto institucional e também na área de serviços. Graduados entre 1987 e 1988 pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, onde também cursaram mestrado e doutorado, trabalharam em conjunto durante 11 anos. Uma boa mostra da capacidade da dupla em criar e desenvolver espaços é este projeto intrigante, em Carapicuíba (SP), a 29 km da capital paulista, que rendeu aos sócios o primeiro lugar no 3º Prêmio Cauê de Arquitetura.
Ambientes flutuantes
Quando estamos tocando o solo, seis metros abaixo do nível da rua - característica crucial do terreno -, e olhamos o conjunto da obra, os ambientes parecem flutuar no meio do nada, tamanha é a leveza deste projeto, que apresenta cômodos interligados, porém absolutamente independentes entre si. Tão independentes, que conseguiram materializar, sem conflitos, a única exigência dos proprietários: unir no mesmo projeto casa e escritório – desde que o espaço de trabalho garantisse a privacidade da área reservada à habitação. E este foi o resultado: ambos estão no mesmo espaço, mas praticamente sem ligação, numa arquitetura que surpreende. “A casa pouco toca o terreno, isso aumenta as possibilidades”, explica o arquiteto Angelo Bucci.
Desnível no terreno
Para quem chega da rua, nada é convencional. No lugar de uma porta central, com uma sala e um corredor (a tradicional disposição da maioria das casas brasileiras), o que se vê em primeiro plano é um edifício de linhas retas – que comporta os escritórios do casal, cada um a sua maneira, com um espaço particular – constituído por duas lajes estruturadas por uma grande viga superior apoiada sobre dois pilares, e embaixo um espaço livre, que lembra uma praça. Este tubo com formas retas e dimensões de 3 metros de largura e 25m de extensão possui as duas extremidades abertas, o que permite o contato direto com o meio externo, sendo a rua, na parte da frente, e a vista da paisagem da mata, na parte de trás do terreno, objetivo traçado pelos arquitetos desde o início do projeto. “A vista do bosque era imprescindível nessa construção”, diz o arquiteto Alvaro Puntoni.
Este também é o único volume que se pode ver do nível da rua, já que o restante da casa é reservado aos níveis inferiores, dois pavimentos que se dividem nos seis metros abaixo do piso da entrada. “Essa era a topografia original do terreno, que tinha um grande desnível para baixo, e foi mantido intacto durante a execução do projeto. Assim, acabou sendo um bom recurso para separar a área de trabalho da habitação, solicitação expressa dos proprietários”, diz Puntoni. “Diferentemente do que se pensa, não foi feita nenhuma escavação. Pelo contrário, esse desnível de seis metros foi o ponto de partida para as idéias fluírem”, complementa Bucci.
Privacidade na área residencial
Com essa condição natural do terreno, foi possível criar um projeto com privacidade total da área íntima e social da casa em relação ao ângulo de visão da rua. Os mais desatentos podem até nem perceber que tem um mundo à parte lá embaixo, em dois pavimentos, que compreendem os dormitórios, a sala de estar, a cozinha, mais um terraço e a piscina linear. À medida que se desce as escadas, aparecem os ambientes reservados e com extremo conforto, em espaços que parecem levitar, por conta da predominância da cor branca e da transparência dos vidros.
O recurso de construção que marca tanto a independência dos ambientes de moradia e trabalho, quanto a divisão do térreo e pavimentos inferiores, é uma ponte de aço, de 10 metros, que também foi projetada para resolver o problema de acesso a casa, sendo o único meio para isso. Por meio dela, pode-se chegar aos respectivos acessos e subir para o home office ou descer para os ambientes da casa.
Praticamente toda a construção é de concreto armado, os pisos internos de granilite e os pisos externos de mosaico português. Não há detalhes ou diversidade, há predominância. Os materiais escolhidos foram instalados de acordo com a sua utilidade, sem variações, o que tornou as etapas da construção mais práticas e o orçamento controlado. “Não há praticamente nada de lojas, nem de marcas conhecidas, os corrimões são de ferro galvanizado, encomendados em serralherias. Os vidros, sem caixilharia, garantem luminosidade e ventilação aos ambientes. Optamos pelo mais simples possível”, conta Angelo Bucci. (Isabela Leal, colaboração para o UOL)
Ficha técnica
Casa em Carapicuíba, Carapicuíba (SP)
Projeto de Angelo Bucci e Alvaro Puntoni
Detalhes do projeto- Área do Terreno 450 m²
- Área Construída 415 m²
- Início do Projeto 2003
- Conclusão da Obra 2008
- Colaboradores Ciro Miguel, Fernando Bizarri e Juliana Braga
- Projeto de Paisagismo Klara Kaiser
- Projeto Estrutural - Concreto Ibsen Pulleo Uvo e Ruy Bentes
- Construção Alexsandro Bremenkamp
- Projeto de Instalações Elétricas Mauro Rodrigues Pinto