'Casa árvore' se equilibra em três pontos para preservar a floresta
Em meio à densa vegetação da Mata Atlântica, uma clareira revela uma construção original, que se confunde com as árvores ali existentes: é a casa Tijucopava que o arquiteto Marcos Acayaba construiu para seu próprio uso. Por suas inusitadas características, a obra recebeu o Grande Prêmio na Bienal Internacional de Arquitetura realizada em São Paulo, em 1998. Aparentemente distinta, a residência - porém - faz parte de um conjunto de dezoito casas similares concebidas pelo arquiteto em meados dos anos 1980. Todas pensadas para condomínios contíguos situados no litoral norte do estado de São Paulo e para terrenos com topografia difícil.
Perto da praia, junto ao mar e na encosta de uma pequena serra, a casa está em uma área sujeita a frequentes deslizamentos de terra. O terreno amplo com 2.000 m² tem declividade média de 45º, mas o que parecia um obstáculo quase intransponível para uma edificação econômica e segura, constituiu-se em uma oportunidade criativa.
Pré-fabricada
A constituição quase exclusiva por peças pré-fabricadas de madeira – leves e de pequenas dimensões –, diminuiu sensivelmente o impacto que seria causado pela obra em um ambiente tão delicado. A intervenção mínima sobre o solo frágil e a densa vegetação permitiu “não cortar uma árvore sequer, nem ferir a cobertura vegetal”, conforme ressalta o arquiteto.
A montagem da casa, em quatro meses, foi feita sem o auxílio de equipamentos pesados, sendo executada por apenas quatro operários. A madeira empregada é o jatobá de reflorestamento. Duríssimo, o lenho é capaz de fazer frente a um meio extremamente agressivo pela alta umidade e pela ação da maresia que traz os riscos de infiltração e apodrecimento.
Pirâmide invertida
O local escolhido para a casa, ainda determinaria a forma invertida e piramidal, bem como a alteração na disposição natural dos pisos, com o pavimento dos dormitórios abaixo do patamar com estar. Esta última mudança implicada pela necessidade de acesso entre a cota da rua e a ala social. Tais particularidades geraram uma espécie de “casa árvore” que acabou por se tornar leve “em desafio permanente às forças da gravidade”, como aponta Acayaba.
O sistema de apoio dos dois pisos principais (social e íntimo) compreende 18 pilares, que são “reduzidos” através de um complexo que transmite a força e o apoio a apenas três (na parte de baixo da obra). Estes são os únicos executados em concreto armado, dada a intensa umidade do solo.
Diferente, mas nem tanto
A casa Tijucopava compreende em seus quatro pavimentos todas as dependências de uma residência comum. Os pisos são interligados por escada em caracol (helicoidal), com degraus de madeira suspensos por tirantes de aço. A arquitetura ganhou formato hexagonal e é travada por grelhas de piso triangular, com o propósito de garantir maior rigidez ao conjunto.
Na cobertura composta por placas pré-moldadas de concreto leve, a água da chuva é captada por seis condutores aparentes, que a obrigam a se infiltrar novamente no terreno, através de poços cheios de pedra. Dali de cima, se avista o mar e isso faz os finais de semana na casa Tijucopava esplendorosos. “Especialmente pela manhã, quando o nascer do sol promove um espetáculo indescritível”, afirma Acayaba.
Para se alinhar ao espírito da natureza, a Tijucopava leva “o mínimo de meios e procura atingir sua maior eficiência, conforto e beleza, conclui o arquiteto. Nela nada sobra, nada falta. E quase 20 anos após sua edificação, mantém-se vanguardista.
Ficha técnica
Casa Tijucopava, Litoral norte de São Paulo
Projeto de Marcos Acayaba
Detalhes do projeto- Início do Projeto 1996
- Conclusão da Obra 1997
- Projeto Marcos Acayaba
- Equipe Marcos Acayaba, Suely Mizobe, Mauro Halluli e Fábio Valentim
- Projeto de Arquitetura Marcos Acayaba
- Projeto de Fundação Luis F. Meirelles Carvalho
- Projeto Estrutural - Aço Ita Construtora (madeira)
- Construção Marcos Acayaba e Ita Construtora
- Cálculo Estrutural Engº. Hélio Olga de Souza Jr.