O apartamento Alto de Pinheiros tem 380 m². Originalmente, o dúplex não existia, em seu lugar havia dois apartamentos simples que foram unificados pela antiga moradora. O novo imóvel tem, além do privilégio da metragem generosa, a vantagem de ocupar os dois andares mais baixos do edifício, ao nível do térreo, com jardim externo, piscina e área para refeições e churrasco.
O projeto de reforma dos arquitetos baianos Gabriel Magalhães e Luiz Cláudio Souza, desenvolvido ao longo de 11 meses de muitas viagens entre São Paulo e Salvador, teve como ponto de partida essa linha divisória inicial e agora imaginária: determinou o piso inferior como área social e de lazer e o superior como espaço íntimo e familiar.
Assim, no térreo, o jardim com piscina ganhou a companhia da cozinha gourmet integrada ao living e de um home theater, que está diretamente ligado a um spa com hidromassagem de onde é possível acompanhar toda a programação no telão.
O piso superior conta com uma cozinha menor, living privativo e sala de almoço, além de quatro dormitórios com seus respectivos banheiros. Nesse pavimento também está a área de serviços, posicionamento que facilitou o trato com as roupas.
Luz e cor
A proposta era que o apartamento fosse amplo, claro, e que tivesse um estilo contemporâneo, “pero no mucho”. A base deveria ser sóbria, mas tal sobriedade poderia ser quebrada em determinados momentos, tornando a composição dos espaços mais divertida e colorida.
Assim, os arquitetos investiram nos detalhes. Uniformes, mas não tão neutras as pastilhas de vidro foram o principal recurso utilizado para distribuir diferentes matizes pelos ambientes, especialmente nos banheiros.
Com o “fundo” neutro em salas e quartos – ora cinza, do cimento queimado, ou branco, da pintura acrílica simples; ora amadeirado e muito claro, pela madeira raspada, previamente tratada com ácidos, dos decks e pisos -, tecidos, papéis de parede, objetos e mobiliário também tomaram a frente no desfile das cores.
“Foi bastante trabalhoso, pois o nível de detalhamento na definição de cada ambiente era alto e teve de ser pensado e amadurecido, mesmo porque havia vários móveis e peças de decoração a serem aproveitados”, relata Magalhães.
Quebra-cabeças
Se o projeto levou quase um ano para ficar pronto, a execução da obra não poderia ter levado menos tempo, mesmo porque muita coisa foi artesanal. Por exemplo, ao invés de comprar cobogós já prontos para desenhar o guarda-corpo da circulação entre os pavimentos, os arquitetos resolveram desenvolver, eles mesmos, seus próprios blocos.
Encomendaram fôrmas metálicas e produziram, dentro do apartamento, as unidades em argamassa armada. “Depois lixamos cada um e passamos verniz fosco”, lembra o arquiteto.
Outra solução “concreta” foi a estante que separa, no piso térreo, o lavabo da área de estar. No lugar ocupado pelo móvel, havia um “dente” que precisava ganhar alguma utilidade. Nele, a estante foi encaixada e seus nichos são usados para guardar toalhas e sais de banho.
A estrutura foi executada com blocos de concreto encontrados no mercado, em três tamanhos, compostos como se fossem um jogo de peças de montar. O resultado foi um exemplar rústico e que traz aspecto praiano ao apartamento Alto de Pinheiros. Quem disse que não é possível ser sério e familiar, sem deixar passar o colorido da vida?