Em região montanhosa, casa de concreto e vidro tem laje flutuante
A Casa PL está projetada no ponto mais alto de um terreno com 60% de inclinação, região montanhosa de Nova Lima (MG). Apesar das dificuldades inerentes ao declive para o acesso da atividade de construção, de longe, tudo parece muito simples. Trata-se de unidade maciça encravada no morro, coberta por laje flutuante e apoiada sobre um bloco de vidro e concreto que, por sua vez, se sustenta num segundo volume fechado e em concreto armado.
Os clientes queriam uma casa contemporânea, de arquitetura singular, adequada às recepções sociais. Em virtude da exuberante paisagem das áreas verdes preservadas na região metropolitana de Belo Horizonte, era para a PL ser construída “bem lá em cima”, como conta o arquiteto Fernando Maculan, que trabalhou em parceria com Pedro Morais.
“Chegamos a pensar numa primeira solução de acesso por elevador em plano inclinado, como num bondinho em linha contínua. A hipótese teria possibilitado implantação ainda mais alta, mas os clientes desistiram da ideia, em função dos altos custos de manutenção do equipamento”, revela Maculan.
Foi adotada então uma rampa em “S”, de duas inclinações diagonais, fator decisivo para definir a posição da casa em relação à via no ponto mais baixo do terreno de três mil m².
O concreto no verde
Relata-se a construção como um volume encravado porque esta é a impressão de quem a observa de baixo. A Casa PL tem, no entanto, uma base acima do nível do terreno. Ainda sobre a topografia acidentada, o solo firme não trouxe problemas de deslizamentos, mas as escavações foram mais complicadas, com grandes pedras soltas que tiveram de ser removidas. Os fundos da residência contam com um muro de contenção coberto de trepadeiras.
O bloco íntimo, no piso inferior, é de concreto armado compartimentado em um sistema de pilares e vigas. Nesta porção ficam os dormitórios, a área de serviço e a adega. Sobre sua laje, que funciona como um platô de acesso à residência, foram projetados dois volumes de concreto armado: são quatro paredes estruturais simples e de execução econômica sobre uma praça, e que delimitam a cozinha, de um lado, e a sala de TV, do outro. O largo espaço intermediário é livre, com fechamentos laterais em portas de vidro de correr.
“A geometria nos permitiu criar, na área de estar, jantar, cozinha e TV, volumes não ortogonais, inclinados, que conferem alguma tensão ao contexto arquitetônico”, define Maculan. A cobertura desta praça é feita com uma grande laje de concreto protendido, que se estende em direção à paisagem, com aberturas zenitais para melhor aproveitamento da luz do sol. A área de recepção está totalmente integrada à região montanhosa.
“Não digo que seja uma arquitetura de inspiração plástica na obra de Oscar Niemeyer. O que há é uma coincidência na forma de organizar os espaços”, defende o projetista, ao se referir à divisão funcional e menos convencional dos ambientes. A laje-praça é, assim, o resultado do estudo entre as condições do terreno e as intenções dos clientes.
"A abertura sobre essa laje encontra correspondência, em sua forma final, nas esculturas de aço do artista Amílcar de Castro*, que utilizava de maneira recorrente o corte e a dobra como estratégia para revelar o vazio entre os planos", aponta Maculan.
* Amílcar de Castro (1920-2002) é importante artista brasileiro, com obras em escultura, pintura e design gráfico. Participou também do Grupo Neoconcreto, de Hélio Oiticica, Lygia Clark e Franz Weissmann.
Ficha técnica
Casa PL, Nova Lima (MG)
Projeto de Fernando Maculan e Pedro Morais
Detalhes do projeto- Área do Terreno 3.000 m²
- Área Construída 350 m² (área interna) e 475 m² (área coberta)
- Início do Projeto 2002
- Conclusão da Obra 2007
- Projeto Fernando Maculan e Pedro Morais
- Colaboradores Leonardo Colucci, Ricardo Cordeiro e Roberta Vasconcellos
- Construção Grimaldi Engenharia
- Projeto de Instalações Elétricas Projeta
- Cálculo Estrutural Misa Engenharia
- Projeto Luminotécnico Fernando Maculan e Pedro Morais