Em São Paulo, casa com duas suítes e terraço custou apenas R$ 150 mil
A doméstica Dalva Borges Ramos, 74, vive na região da Vila Matilde, zona leste da capital paulista, há décadas. Ali, pertinho de sua casa estavam primos, tios, irmão e muitos amigos, mas sua casa apresentava graves problemas estruturais e de salubridade que foram se agravando com o tempo.
A ideia era continuar por aí, mas a situação foi ficando insustentável e o plano de comprar um apartamento esbarrava em um fator: na poupança havia apenas R$ 150 mil. Foi então que o filho dela, Marcelo Borges Ramos, 41, entrou em contato com o escritório Terra e Tuma Arquitetos, nos idos de 2011. Ele era conhecido do arquiteto Danilo Terra e lançou o desafio.
O escritório quis comprar a briga: “Sabíamos que uma vez iniciado o movimento, não haveria volta, tinha que dar certo até o fim. Tanto os projetos quanto a obra deveriam se adequar aos recursos da família”, conta o outro arquiteto da dupla, Pedro Tuma.
No início de 2014 a casa estava literalmente ruindo (sobre a cama de Dona Dalva) e a moradora precisou se mudar e começar a pagar aluguel. O novo panorama fez com que o passo se acelerasse ou Dona Dalva corria o risco de consumir todo o seu dinheiro vivendo em outro lugar.
Mão na massa
O primeiro passo para viabilizar a obra de baixo custo foi enxugar o projeto. “Foi um jeito que encontramos de simplificar a comunicação com a equipe que executaria o projeto, porque tudo tinha que ser feito rápido, com muito cuidado e qualidade e sem o risco de errar”, explica Pedro.
E não foi só: o escritório fez uso de sua experiência prévia no desenvolvimento de projetos de alvenaria estrutural, com blocos de concreto aparentes. O sistema tem investimento mais baixo e oferece maior controle das etapas da obra, além de agilidade. Com tudo programado, bastava “ficar no pé” dos pedreiros e dos fornecedores contratados.
Assim, a antiga residência foi demolida e, no intervalo de um ano, no terreno com 4,8 m de largura e 25 m de comprimento foi erguida uma casa com sala, lavabo, cozinha, área de serviço, jardim e duas suítes, para atender à demanda da moradora.
Os ambientes são articulados pelo jardim central que permite total entrada de luz e ventilação naturais. O recurso é importante, porque as paredes laterais são estruturais e servem de suporte para as lajes e, por serem de divisa, não possuem janelas.
Sobre o quarto de Dona Dalva, no pavimento superior, a arquitetura previu uma segunda suíte, para hóspedes, que se beneficia de amplo terraço, com horta disposta sobre a laje impermeabilizada.
Sem revestimentos, o aspecto da casa é rústico e moderno. “Deixamos preparado um projeto de ampliação. A estrutura está pronta para receber mais um cômodo sobre a sala de estar”, explica Pedro Tuma.
A casa cheia de plantas e luz agrada à moradora, mas Dona Dalva confessa que mudaria algumas coisas: “Não gosto do piso de cimento. Acho muito escuro. Gostaria de colocar cerâmica, mais brilhante. Mas gosto da casa, lá no terraço já plantei morangos e, agora, o lugar está cheio de pássaros”.
Para Pedro Tuma é impossível, como em qualquer outro projeto, controlar o que vai ser feito na Casa Vila Matilde. “Nossa maior preocupação era com o espaço. Tinha que ser iluminado, confortável, funcional. Os materiais mudam e a gente não vive com eles. A gente vive no espaço”, reflete.
Ficha técnica
Casa Vila Matilde, São Paulo (SP)
Projeto de Terra e Tuma Arquitetos
Detalhes do projeto- Área do Terreno 120 m²
- Projeto Terra e Tuma Arquitetos
- Equipe Danilo Terra, Pedro Tuma, Fernanda Sakano, Bruna Hashimoto, Giulia Sofia Galante, Jéssica Zanini, Lucas Miilher e Zeno Muica
- Projeto de Arquitetura Terra e Tuma Arquitetos
- Projeto de Paisagismo Gabriella Ornaghi Arquitetura da Paisagem
- Projeto Estrutural - Concreto Megalos Engenharia
- Construção Valdionor Andrade de Carvalho e equipe