Estreita e comprida, casa 4x30 tem soluções criativas para distribuir e iluminar os ambientes
Quando mal projetada, a iluminação natural de uma casa tende a se tornar um problema. A residência dos arquitetos Lourenço Gimenes (um dos sócios do escritório FGMF) e Clara Reynaldo (do escritório CR2), em São Paulo, é um exemplo de como um bom planejamento pode reverter esses fatores desfavoráveis. Nela, a luz intensa que inunda todos os ambientes e que, a priori, constituía o principal entrave a ser solucionado no projeto, acabou por se tornar sua maior atração.
O lote com apenas 4 x 30 m, ou seja, estreito e comprido, situado num renque de casas geminadas no bairro do Jardim Europa, na capital paulista, por si só já era um grande desafio. Afinal, como iluminar os interiores de uma casa a ser construída num terreno com características tão limitadoras?
Luz para todos
“O projeto se resume na busca pela luz e na integração dos ambientes. Por isso, projetamos volumes que criam vazios e usamos materiais que refletem a luz natural”, diz Lourenço Gimenes. Pensando nessas premissas, os arquitetos conceberam a casa em dois blocos distintos e, num só tempo, unidos por um jardim na área central, que cria três fachadas banhadas de luz.
Embora pequeno, o jardim possui o charme agradável dos espaços ao ar livre com plantas miúdas de várias espécies e até mesmo uma pitangueira. Deste respiro verde, o ponto de maior importância é a total interação com a sala de estar, da qual é separado somente por portas corrediças e retráteis de vidro, que oferecem excelentes condições de luz e ventilação cruzada.
Ampla, embora estreita
Com 160 m² de área construída, a casa apresenta soluções originais e inusitadas, como o modo pouco convencional de distribuir os ambientes. É o caso da cozinha que se volta à fachada frontal, algo que resultou em um efeito de grande beleza no projeto. Essa escolha, segundo os arquitetos “foge à tradição do programa da casa pequeno-burguesa” que posiciona costumeiramente o ambiente nos fundos.
O acesso à morada se dá por uma passarela elevada na lateral da cozinha. Embora tenha sido rebaixada em 75 cm, a cozinha mantém uma continuidade visual com o nível da sala de estar graças à altura da mesa de jantar, que se estende até um móvel com forno embutido.
Com pé-direito de 3,21 m e armários brancos de vidro leitoso, o espaço acabou por se tornar o ponto de encontro da casa, visto que os proprietários reúnem sempre os amigos em torno do fogão: uns sentam em torno da mesa, outros na passarela de acesso e, assim, vão se espalhando até a sala de estar e o jardim.
No espaço junto à cozinha fica a sala de estar que por sua vez é integrada ao jardim
“A cozinha na entrada da casa foi a solução que permitiu a relação com o espaço externo. Quisemos tornar a cozinha um experimento espacial, rebaixando seu piso e dando um sentido diferente de perspectiva e volumetria”, relata o arquiteto Lourenço Gimenes.
Branquinha, a casa
O pavimento superior da casa foi construído em balanço, ou seja, avança 90 cm além da fachada do térreo. O andar abriga a suíte do casal e a de hóspedes. “O primeiro e o segundo pisos formam o que chamamos de caixa flutuante”, esclarece a arquiteta-proprietária. Parte dessa caixa é atirantada (ou seja, recebe um apoio extra) para suportar a sobrecarga do balanço.
O volume do piso superior tem fechamento lateral de vidro, o que deixa à vista o painel de ladrilho hidráulico desenhado por Fábio Flaks, aplicado sobre toda a parede lateral da casa, do térreo ao segundo pavimento, também do lado interno
Os banheiros das suítes recebem iluminação zenital através da claraboia instalada na cobertura. Trata-se de uma área com solário e algumas plantas, além dos equipamentos de ar-condicionado e aquecimento de água. “Esse espaço é, sobretudo, uma oportunidade de lazer. Para nós que vivíamos em apartamento, qualquer centímetro quadrado ao ar livre já é uma grande conquista”, diz Clara Reynaldo.
Os fundos, valorizados
Uma passarela executada em malha expandida liga os dois blocos e reforça a entrada da luminosidade natural. O segundo bloco, nos fundos, é composto por um estúdio com mesa de trabalho e estante (no primeiro pavimento) e uma sala de TV com confortável futon (no segundo pavimento).
A estrutura metálica empregada nesta porção da casa é relativamente simples. Vigas metálicas cruzam o espaço e apóiam-se em pilares embutidos nas empenas laterais; lajes de painel “drywall” complementam o sistema construtivo.
A garagem, na fachada frontal, é totalmente aberta e tem piso permeável com deck na lateral para o acesso à casa. “Um exercício de generosidade com a paisagem da cidade, sempre agredida pelos muros altos”, finaliza o casal de arquitetos e donos da residência.
O projeto da Casa 4 x 30 recebeu vários prêmios:
- Menção honrosa no 10º Prêmio Jovens Arquitetos (2011)
- 2º Lugar no III Prêmio Lafarge Gypsum (2011)
- Premiado na II edição do Prêmio Casa Claudia de design de interiores (2012)
- Selecionado para participar da VIII Bienal Iberoamericana de Arquitetura e Urbanismo a ser realizada em Cadiz, Espanha (2012)
Ficha técnica
Casa 4x30, São Paulo (SP)
Projeto de FGMF Arquitetos e CR2 Arquitetura
Detalhes do projeto- Área do Terreno 4 x 30 m
- Área Construída 160 m²
- Início do Projeto 2008
- Conclusão da Obra 2011
- Projeto Lourenço Gimenes e Clara Reynaldo
- Colaboradores Fernando Forte, Rodrigo Marcondes Ferraz, Ana Luíza Galvão, Bruno Araújo, Marcela Aleotti e Marília Caetano (arquitetos), Mirela Caetano, Rafaela Arantes e Wilson Barcellone (estagiários)
- Projeto de Arquitetura FGMF Arquitetos + CR2 Arquitetura
- Projeto de Paisagismo Studio Ilex
- Projeto Estrutural - Concreto Oppea Engenharia
- Projeto de Instalações Elétricas Ramoska & Castellani