Marco de Canaveses é um pequeno município no norte de Portugal, conhecido por seu relevo acidentado, com colinas e serras que chegam a 900 metros de altitude. Nesse local, terra natal da luso-brasileira Carmem Miranda, uma casa de veraneio brota de forma quase natural do solo. Projetada pelo arquiteto Nuno Graça Moura, a construção de aproximadamente 370 m² de área integra-se de forma discreta ao cenário bucólico, combinando uma linguagem contemporânea e o modo de viver do século 21 às tradições construtivas locais.
As complexas características do terreno, constituído por plataformas horizontais suportadas por grandes muros de granito que chegam a 5, 6 metros de altura, foram determinantes para que Graça Moura tomasse algumas decisões. O arquiteto conta que a primeira dificuldade foi escolher o local exato para implantação.
O plano inicial era projetar uma moradia mais convencional com portas e janelas recortadas nas paredes, mas logo após os primeiros estudos sobre a região, isso se mostrou inviável. "Naquele momento, conclui que o melhor seria partir para um desenho mais abstrato, mas mantendo a preocupação de que o resultado final não deixasse de parecer uma residência", resume Graça Moura.
A solução acabou sendo integrar a casa a um dos muros de granito existentes, tirando proveito do terreno acidentado. O resultado foi um bloco retangular que, apesar das linhas ortogonais, parece ser uma extensão da rocha.
Outra estratégia adotada pelo arquiteto foi criar espaços e aberturas que permitissem, aos usuários, contemplar o rio e as montanhas no entorno. Isso fica evidente, por exemplo, na generosa varanda voltada ao poente, viabilizada pela estrutura da casa, concebida em concreto armado com lajes nervuradas e parcialmente em balanço.
Casa no subsolo
Como a RF House foi construída no terreno escavado, uma das particularidades da casa se apresenta logo na entrada, localizada no nível da cobertura: o acesso se dá por uma escada esculpida na pedra no patamar mais elevado. No pavimento superior foram alocadas as áreas privativas abertas para um pátio. Recuado, o piso inferior forma uma marquise de onde se tem vista para o rio e o horizonte. Nesse nível distribuem-se as áreas de uso coletivo (salas de estar e jantar, cozinha), voltadas para a face oeste e para a vista do jardim e do vale.
Graça Moura conta que, de forma geral, o projeto procurou privilegiar soluções muito convencionais e econômicas. Para reduzir a necessidade de meios mecânicos de condicionamento de ar, buscou-se, por exemplo, favorecer a ventilação natural com a criação de aberturas, em quartos e salas, em direções opostas. Além disso, tais cômodos abrem-se ao exterior por meio de grandes panos de vidro protegidos por pátios e varandas.
Alguns cômodos localizados no interior da planta, também se conectam com o exterior e recebem luz natural por meio de claraboias. Entre os revestimentos, destaca-se o uso de ardósia no piso. Em grandes placas, a rústica pedra brasileira está presente em salas de estar e de jantar, cozinha, banheiro, despensa e varanda.