Uma piscina. Três espelhos d’água. Um denso jardim com filodendros e pândanos rasteiros. E, ainda, um solário. A casa, propriamente dita, veio depois. Os proprietários desta residência – ela, jornalista e empresária, e ele, professor de filosofia – propuseram ao escritório SPBR Arquitetos, um verdadeiro desafio. Desejavam construir em São Paulo uma residência exclusivamente para fins de semana – uma espécie de "praia urbana" –, como alternativa aos deslocamentos, especialmente críticos no período de verão, para o litoral.
Para erguê-la, em lugar de um bairro tranquilo, afastado das zonas de intenso movimento, o casal optou por uma região bastante central, próxima do apartamento onde reside. O terreno, localizado numa rua discreta e ocupado então por um antigo sobrado, tinha dimensões extremamente reduzidas (270 m², com dez metros de frente) e limitação de gabarito (seis metros de altura), além de estar confinado entre duas avenidas de grande porte.
O programa proposto pelo casal era também bastante peculiar. Atribuíam grande importância aos espaços externos, com piscina, solário e ampla área verde, que deveriam se constituir nos principais elementos da casa, enquanto os espaços internos reduziam-se ao essencial, daí resultando uma área construída de apenas 180 m², inferior ao índice ali permitido por lei.
Desafio maior, porém, era como posicionar a piscina. Equipamento normalmente pensado como um acessório no programa arquitetônico de uma residência, a piscina é aqui o centro de interesse. E o imbróglio a ser resolvido era como fazê-la calorosa, se a insolação é limitada pela forma e dimensão do terreno, encravado entre outras construções com empenas e muros altos.
A resolução
Assim, para que o tanque recebesse sol, fez-se o óbvio (e o difícil). A solução foi desloca-lo para cima e construiu-se uma raia afastada um metro do bloco também suspenso que abriga os dormitórios e cuja cobertura passaria a ser utilizada como solário. Ficava assim garantida a insolação permanente. O solário faria vezes de uma "pequena praia" e a raia de 17 m x 2,5 m teria as dimensões propícias para quem nada, uma vez que sua extensão corresponde à terça parte de uma piscina olímpica.
Para completar a morada, ocupando toda a largura do lote, foi posicionado no térreo o pavilhão com os ambientes sociais (estar, jantar, cozinha e lavabo) configurando um espaço integrado e voltado francamente para a área livre sob o bloco dos dormitórios. Isso garantiu o máximo de luminosidade e de ajardinamento, que se espalhou livremente pelo restante do terreno, “atitude raríssima nas casas de hoje, preocupadas com a maior ocupação possível”, como ressalta o arquiteto Angelo Bucci, no comando do escritório SPBR.
O enfoque do trabalho paisagístico, assinado por Raul Pereira, foi o de um “jardim informal e silvestre” com uma peculiaridade: sua área é duas vezes maior que a do lote, graças às superfícies verticais, onde uma tela permite que a vegetação suba, característica que Bucci considera “sem precedentes”.
Contribuindo para a construção de um ambiente bucólico e acolhedor, o arquiteto concebeu um “ciclo das águas” com um sistema contínuo assegurado pelo bombeamento (térreo) entre os espelhos d’água, distribuídos em diferentes níveis desde a piscina (que é o primeiro e maior), passando pela entrada do dormitório do casal e chegando “como cascata” às pequenas piscinas na área mais baixa do jardim, no térreo.
Aliás, nesse corpo elevado (20 m x 3 m), disposto ao longo do lote e que complementa o programa, as dependências íntimas dos moradores dividem espaço com o apartamento do caseiro, situado à frente e voltado para a rua. Ambos têm áreas iguais (30 m²).
Longe do solo
Com grandes porções suspensas, a solução estrutural tem nesta residência um papel relevante, postura recorrente nos projetos de Angelo Bucci, que ressalta o papel decisivo do engenheiro Ibsen Puleo Uvo na viabilização da obra. Nesta casa, em lugar da disposição tradicional viga-pilar, a proposta foi ousada e organiza os dois corpos em um sistema de contrapeso. As vigas que suportam esses dois volumes (bloco dos quartos e piscina), vencem um vão de 12 metros e se apoiam em pilares posicionados em direções opostas, de modo a travar horizontalmente a estrutura nos dois sentidos, sendo a dupla de concreto próxima à fachada o ponto determinante do apoio.
A ligação principal com o solário e a piscina tem papel significativo como protagonista espacial e se dá através de escada em um único lance, inserida no vão de um metro entre eles. Executada com peças metálicas delgadas, a estrutura permite uma generosa passagem de luz solar, o que além de garantir a continuidade visual e propiciar belos efeitos de luz e sombra, favorece a iluminação do jardim e sua distribuição por toda a largura do terreno.
Em essência, a casa é um quebra-cabeças dado pelo intrincado jogo de volumes capaz de gerar uma o uso diferenciado dos três níveis e de propiciar a criação de atmosferas (inclusive climáticas) distintas. O arquiteto reconhece o projeto como um desafio, “pois tudo era, por assim dizer, na contramão” e na contramão dos veranistas e da organização contumaz da casa, tornou-o o desejado refúgio paulistano através do uso de suas "ferramentas" básicas: concreto, metal e vidro.