Projetada por Mendes da Rocha, casa dos anos 60 foi laboratório modernista
Um grande paralelepípedo de concreto desperta a atenção de quem passa, é a casa Butantã, uma construção cinquentenária, projetada por Paulo Mendes da Rocha para sua própria residência. Nascido em 1928, o arquiteto ocupa posição de destaque no cenário da arquitetura brasileira e, em 2007, foi o ganhador do prêmio Pritzker, considerado o Oscar da categoria.
Muito do que Mendes da Rocha aplica em seus projetos está na casa construída entre 1964 e 1967, em São Paulo. Nela, o arquiteto incorporou (quase) todos os princípios que fundamentavam o ideário moderno e transformou-a em um verdadeiro laboratório, onde a franqueza no emprego do concreto armado, deixado sem revestimento, expressa seus atributos de rudeza, austeridade e força.
Mas na Butantã o arquiteto foi além: utilizou o concreto não apenas como estrutura, mas na totalidade da construção das vedações externas ao mobiliário e seu “brutalismo” se manteve intacto. Atualmente em processo de tombamento, a casa encontra-se em perfeito estado de conservação e é moradia de seu filho, o fotógrafo Lito Mendes da Rocha.
Forma por forma
Construída em um lote de esquina com 760 m², a residência é uma caixa de concreto elevada do solo sobre pilotis, que cria uma área livre com 250 m², utilizada para o abrigo de carros e dependências de empregados. O número de pilares é reduzido, são apenas quatro, solução que não visava uma “ginástica estrutural”, mas a economia para as fundações que o solo encharcado e arenoso exigiria.
Todo o programa da casa se desenvolve no pavimento superior. Trata-se de um volume simétrico, com duas faixas contínuas, envidraçadas e protegidas por largos beirais. Estes elementos se destacam nas fachadas: um deles em especial, pelo prolongamento das vigas que formam o pergolado para a proteção, que se converte em elemento dotado de riqueza plástica.
Nas laterais, duas grandes empenas cegas, cada uma com 21 m, foram sobrepostas ao volume inferior e apoiadas laje de cobertura. Uma delas “espia” pela janela assimétrica, um recurso que atrai o olhar de quem espreita a casa.
Vocação moderna
Saudada como “a nova planta do habitat moderno”, a casa Butantã subverte todos os princípios há muito consagrados como componentes da casa tradicional, procurando a “confraternização explícita”. Assim, seus dormitórios são postos no miolo da construção – portanto, sem dispor de insolação direta dada pelas claraboias. As áreas de convívio são periféricas e recebem luz e ventilação diretas.
Há duas varandas: a mais estreita (três metros) é para uso informal e a mais ampla abriga os ambientes de estar com lareira suspensa, refeições e escritório (5,5 m), com seu “mobiliário imprescindível”, em concreto. Tal disposição elimina os corredores que invariavelmente separam as funções íntimas, sociais e de serviço.
Outra premissa básica é a continuidade espacial, caracterizando um modo de vida muito particular. Especialmente na solução dada para os cinco dormitórios (quatro deles com dimensões mínimas de 2,25 m), onde as delgadas divisórias de concreto não encostam no vigamento da cobertura e os fechamentos voltados para a sala de entretenimento são feitos com portas-veneziana de madeira.
A solução criou uma fresta com a altura da viga. “Lembro que, quando criança, ouvia, do meu quarto, as conversas dos adultos que se reuniam na sala”, conta Lito; referindo-se ao som que passava pelo vazio. Eram vozes não só de familiares, como de intelectuais, artistas, músicos que frequentavam a Casa Butantã e discutiam os rumos da sociedade brasileira.
Ficha técnica
Casa Butantã, São Paulo (SP)
Projeto de Paulo Mendes da Rocha
Detalhes do projeto- Área do Terreno 670 m²
- Início do Projeto 1964
- Conclusão da Obra 1967
- Projeto Paulo Mendes da Rocha e João De Gennaro
- Projeto de Arquitetura Paulo Mendes da Rocha