Reforma liga apartamentos para formar dúplex de 416 m² com clima da década de 1950
O edifício, na região da Avenida Paulista, é de arquitetura típica dos anos de 1940. Já os interiores do Apartamento 40 evocam uma época um pouco mais moderna e dourada - os anos "50" do século passado aparecem em cadeiras, mesas e poltronas assinadas por designers consagrados. No entanto, como a reforma é recente, nada fica sem um ar mais contemporâneo: "O primeiro contato da família proprietária foi para alterações no apartamento 61, há mais de cinco anos; depois, eles compraram o imóvel no andar de cima (71), e nos encomendarm um segundo trabalho, que transformasse as duas unidades em um duplex", conta o arquiteto Fernando Forte, da Forte, Gimenes e Marcondes Ferraz (FGMF).
"Tivemos conversas com síndicos e condôminos, para saber como faríamos a obra, e onde seria possível integrar as unidades", relata. Assim, cálculos estruturais indicaram os pontos de perfuração e rasgos nas lajes para a instalação de uma escada entre os andares inferior [social e cozinha] e superior [íntimo, home theater e lavanderia], promovendo a união vertical. Também é possível chegar aos dois níveis pelos elevadores.
O eixo de circulação entre andares produz um vazio com pé direito duplo de aproximados 6,3 metros. Nele fica a escada, estruturada em aço corten (de aspecto enferrujado), com degraus de freijó. "O pé direito duplo fica junto às grandes janelas do edifício que, unidas, potencializaram a entrada de luz natural em todo o apartamento", explica o arquiteto. Tudo foi executado sem alterações da fachada.
Mesmo assim, não se pôde evitar o quebra-quebra geral, visto que todas as funções dos dois andares foram readequadas. No piso superior ficaram três dormitórios, dois banheiros, um lavatório, uma suíte principal, sala íntima, home theater e uma lavanderia -esta última, aproveitando o que seria área de serviços original do apartamento de cima. "Foi uma boa saída para não ter que circular com roupas sujas pela casa", justifica Fernando Forte.
Setorização
Embaixo estão a cozinha, a sala de jantar, dois ambientes de estar e um o escritório, além de mais um dormitório com banheiro e o quarto de empregada, também com lavabo/banheiro.
O arquiteto explica que, no apartamento de baixo, foram derrubadas paredes para obter uma sala mais ampla e integrada, o que também melhorou a distribuição de luz natural. A cozinha, farta, tem grande ilha central para reunir amigos e família.
O estilo anos de 1950 também aparece na circulação entre os ambientes, e não só nas peças de decoração. Da cozinha para as salas, foram instaladas janelas do tipo ideal, também conhecidas como guilhotina, feitas de madeira – que integram ou separam, de acordo com o momento.
Divisões integradas
Entre o escritório e as salas de estar giram portas-estantes para livros. Pivotantes, elas se voltam ora para um ambiente, ora para outro, e foram feitas do mesmo material usado nas escadas: aço corten para pivôs e estrutura, freijó nos fechamentos e prateleiras.
Elegante, a solução também oferece mais privacidade a quem precisa trabalhar ou estudar no escritório, sem a interferência das crianças. "São quatro portas-estantes: a primeira tem giro independente, enquanto as outras três ficam conectadas por uma corrente". No andar superior, o home theater também pode se integrar à área íntima, a partir de uma grande porta de correr de madeira de várias tonalidades e tipos.
A área de dormitórios ganhou um corredor de circulação mais largo e iluminado. Os quartos originais, profundos, perderam alguns metros quadrados de área e ainda puderam manter tamanhos avantajados. Com isso, a circulação, que hoje abriga um piano terá, no futuro, mesa de estudos para os filhos do casal de proprietários.
Estrutura exposta
A luz que chega ao futuro corredor de estudos também é natural, e entra pelas janelas dos quartos, passando à circulação através de grandes vidros sobre as portas dos dormitórios.
A diminuição do tamanho dos quartos expôs pilares e vigas de concreto deixado aparente, com apenas aplicação de resina para proteção. O uso de elementos estruturais como artifício decorativo compõe com harmonia com os pisos de cumaru, no apartamento superior.
Numa obra como essa, alterações em hidráulica e elétrica são inevitáveis. "No andar superior, as tubulações ainda eram de ferro e tiveram de ser trocadas; a cozinha virou quarto, e foi preciso pensar na interligação de pontos elétricos para que se pudesse apagar a luz das escadas dos dois apartamentos", descreve Fernando Forte.
As persianas que cobrem as grandes janelas do pé-direito duplo são elétricas, e há ainda caixas de som distribuídas por todo o dúplex. "Muitas das adaptações hidráulicas e elétricas passaram pelos forros de gesso, o que diminuiu muito a sujeira da obra", diz Forte.
O conceito de um dúplex informal, com a possibilidade de integrar ambientes, salas amplas, setorização do programa de uso entre áreas social e íntima e muita iluminação natural resultou num projeto estilizado, de elementos contemporâneos e rústicos.
O toque final ficou por conta do artista Fabio Flaks, que providenciou dois painéis de ladrilhos hidráulicos exclusivos para o projeto, e que trazem de volta os volumes e as texturas dos anos 50, em nova leitura. (Giovanny Gerolla, colaboração para o UOL)
Ficha técnica
Apartamento 40, São Paulo
Projeto de FGMF Arquitetos
Detalhes do projeto- Área Construída 416 m²
- Início do Projeto outubro 2006
- Conclusão da Obra fevereiro 2008
- Projeto Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz
- Colaboradores Adriana Junqueira, Ana Paula Barbosa, Nilton Rossi, Ivo Magaldi, Paloma Delgado e Ana Paula Junqueira
- Projeto Estrutural - Concreto Edson Bispo Ferreira
- Construção Forte, Gimenes e Marcondes Ferraz (FGMF)
- Projeto de Instalações Elétricas Tecnocasa
- Projeto Luminotécnico Forte, Gimenes e Marcondes Ferraz (FGMF)