Sob "casca" de concreto, casa em SP tem espaços fluidos e muita luz natural
Com arquitetura inspirada nas formas de Oscar Niemeyer, a Casa Milan tem uma cobertura curva, feita de concreto que, mesmo muito delgada, atravessa o terreno vencendo o vão livre de 33 m para abrigar espaços abertos, generosos tanto na área quanto na altura máxima do pé direito.
Projetada em 1972 por Marcos Acayaba, pouco tempo depois de graduar-se, sua construção leve e arejada levou três anos para ser concluída. “A Casa Milan foi a primeira oportunidade que tive de fazer um projeto com muita liberdade. Encomendada por minha cunhada Betty Milan, ocuparia 450 m² em terreno de 2.150 m², com muito espaço para jardins. Por isso, escolhi uma solução que garantisse o maior contato entre interiores e o entorno, valorizando a paisagem”, conta o arquiteto.
A casca de concreto encontra apoio em quatro extremidades, atravessada por uma grande laje nervurada transversal. A partir deste eixo principal, no nível dos quatro dormitórios, a residência se desdobra em três semipavimentos que permitem a organização do programa em setores – esquema frequente na arquitetura paulista de fins dos anos 50, iniciado por João Batista Vilanova Artigas na Residência Olga Baeta (1957).
Para tanto, o terreno foi trabalhado em taludes que demarcam os três meios-níveis – no inferior, ficam os serviços, estúdio, jantar e acesso para garagem; a ala social ocupa o intermediário, na mesma cota da superfície da piscina; e a área íntima é a mais alta.
Para executar a cobertura, de concreto armado fundido em loco, foi necessária uma forma de madeira de difícil execução, que pediu carpintaria complexa, artesanal, uma estrutura de suporte densa e enorme quantidade de matéria-prima.
"Para fazer a concretagem num único dia, foi utilizada uma técnica, naquele momento nova no Brasil - a do bombeamento e lançamento de concreto em altura”, diz Acayaba. Ainda hoje sofisticada, é difícil imaginar o uso deste procedimento em obras unifamiliares, já que os custos de uso do equipamento e dos materiais necessários são altos.
Sob a casca de concreto
Fluidez dos espaços e transparência são as principais características da Casa Milan, o que favorece a circulação contínua, por percursos variados entre interiores e área externa, e por consequência a nova forma de vida em família, sem barreiras.
“Ambientes obrigatoriamente fechados, os banheiros estão contidos em duas torres, que concentram as instalações hidráulicas, com caixas d'água por cima. Os lavatórios ficam para fora, numa varanda de circulação, que percorre a frente dos quartos”, conta o arquiteto.
A caixilharia é outro ponto de destaque da arquitetura: tinha que atender, ao mesmo tempo, grandes panos envidraçados da fachada e ainda acompanhar o movimento de contração e dilatação da casca de concreto, em função da variação da temperatura (frio e calor).
Frente a outros requisitos estruturais de resistência ao vento, Acayaba optou por tubos retangulares de chapa de aço dobrada como montantes verticais (esquadrias), que foram galvanizados e se mantém, há 40 anos, intactos.
Com a obra em andamento, Betty Milan separou-se do marido e foi morar na França. Desde 1974, fica parte do ano em Paris, parte em São Paulo, e foi o próprio arquiteto Marcos Acayaba, e sua esposa, Marlene Milan Acayaba, que passaram a ocupar a residência. “Para mim, morar nesta casa foi sempre uma experiência muito rica, um aprendizado permanente. Tem sido, desde o início da obra, um verdadeiro laboratório”.
Ficha técnica
Casa Milan, São Paulo (SP)
Projeto de Marcos Acayaba
Detalhes do projeto- Área do Terreno 2.150 m²
- Área Construída 791 m²
- Início do Projeto 1972
- Conclusão da Obra 1975
- Projeto Marcos Acayaba
- Projeto de Arquitetura Marcos Acayaba
- Projeto de Paisagismo Marlene Milan Acayaba
- Projeto de Fundação Engesolos
- Construção Cenpla
- Projeto de Instalações Elétricas Olavo M. Campos e Antônio G. Marques
- Cálculo Estrutural Yukio Ogata e Antônio J. Martins