As alianças eram de papel alumínio. O traje dos noivos, uniforme militar. O cenário, uma rede de túneis e bunkers em pleno front de guerra.
Em 5 de maio de 2022, três meses depois do início da invasão russa à Ucrânia, Valeria Karpilenko e Andrii Subotin se casaram no subsolo de uma usina siderúrgica cercada por tropas inimigas, em uma cerimônia simbólica que virou notícia internacional.
Ambos eram membros das forças de defesa ucranianas em Mariupol, cidade portuária que resistiu à incursão das tropas russas por quase três meses. O número de mortos é incerto — a ONG Human Rights Watch calcula que sejam ao menos 8.000.
Assim como milhares de militares e civis, Andrii e Valeria passaram semanas entrincheirados na gigantesca usina de Azovstal, enfrentando falta de água e comida e sob bombardeios. Um dos ataques atingiu Andrii, e Valeria passou de esposa a viúva em apenas dois dias.
Escritora, PhD em comunicação social e ex-professora da universidade pública de Mariupol, Valeria era chefe do setor de imprensa das forças de defesa na região de Donetsk (leste do país).
Em 17 de maio, ela foi capturada junto com seus compatriotas. Começou, ali, um calvário que durou 10 meses e 23 dias, até sua libertação em uma negociação para troca de prisioneiros, em abril de 2023.
Hoje com 35 anos, Valeria Karpilenko — que incorporou o sobrenome do marido e agora é Valeria Subotina— tornou-se ativista pela libertação dos prisioneiros de guerra e criou um grupo de apoio para os que passaram pela mesma experiência que ela.
A ucraniana contou sua história a Universa em Kiev, em fevereiro de 2024, mês em que o conflito completou dois anos.