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Elas
marcaram
nosso ano



Giuliana Bergamo
Colaboração para Universa

Política e futebol tomaram conta de 2022, com eleições e Copa do Mundo. Mas não teve essa de "coisa de homem": nas duas áreas, mulheres cavaram seus lugares e se mostraram aptas — tanto quanto eles — a brilhar.


Nas eleições, Simone Tebet (MDB) desbancou Ciro Gomes (PDT) e abocanhou o terceiro lugar da disputa presidencial. E Erika Hilton (PSOL-SP) se tornou a primeira trans negra eleita deputada federal.


No futebol, foi bonito ver Neuza Back pisar em campo como a primeira árbitra brasileira em uma Copa e Ana Thaís Matos comentando jogos do mundial pela primeira vez.

Mas as áreas são várias: música, entretenimento, moda, negócios, ativismo ambiental, cinema.... e por aí vai.


Universa fez uma lista com as 22 mulheres que fizeram deste um ano para celebrarmos e prestarmos homenagens.


Confira:

Simone Tebet


Em número de votos, a então candidata Simone Tebet (MDB) ficou bem longe da possibilidade de assumir a Presidência do Brasil. Mas saiu vitoriosa com o terceiro lugar: apresentou mais propostas do que seus adversários, trouxe pautas femininas para o centro das discussões e se manteve longe da bipolaridade e da pobreza de conteúdo das discussões entre os dois líderes da disputa. No segundo turno, foi firme no propósito de combater os ataques à democracia. Aos 52 anos, se consolidou como a mulher mais importante da política em 2022.

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Erika Hilton


Não é de agora que Erika Hilton (PSOL-SP) vem quebrando tabus. Em 2020, foi não apenas a primeira pessoa transgênero eleita pela Câmara de Vereadores de São Paulo --ela se identifica como travesti--, como a mulher mais votada em todo o país, com mais de 50 mil votos. Em 2022, ela foi além. Eleita deputada federal por São Paulo com 257 mil votos, aos 30 anos, se torna a primeira mulher trans do Congresso Nacional, que ainda é majoritariamente masculino e branco.

Neuza Back

Apesar da longa lista de críticas à Copa no Qatar, temos uma conquista a comemorar: a presença de Neuza Back, primeira brasileira a atuar como árbitra no mundial. A catarinense de 38 anos faz parte do quadro da Fifa desde 2014 e já havia participado de outros campeonatos internacionais. No Qatar, compôs o primeiro trio completamente feminino liderado pela francesa Stéphanie Frappart.

Ana Thaís Matos

De origem humilde, nascida no Glicério, na cidade de São Paulo, Ana Thaís Matos se tornou a primeira mulher a comentar jogos da Copa do Mundo em TV aberta. Nas primeiras transmissões, porém, espectadores apontaram que ela foi ignorada por Galvão Bueno. A jornalista de 37 anos, no entanto, se manteve ativa e firme nos comentários, focada no próprio desempenho, e ganhou reconhecimento e elogios do colega na cobertura da final: "Você abriu portas", disse o veterano.

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Janja

Rosângela Silva, a Janja, já disse que dispensa o título de primeira-dama e prefere ser chamada pelo apelido. Parceira do presidente eleito Lula (PT) desde os tempos em que ele estava preso, a socióloga de 56 anos se destacou na campanha, ao participar de eventos e comícios em prol do marido, e há quem diga que sua atuação tem incomodado o partido. Ainda não se sabe qual será o seu papel no governo, mas ela já prometeu abraçar causas urgentes para o país, como fome, racismo e violência contra mulher.

Anitta

Anitta causa com hits à prova de tabus, posicionamentos sem medo de perder fãs e declarações quentes. Neste ano, chegou a muitos lugares inéditos para uma artista brasileira. Foi a primeira a ganhar um prêmio no MTV Video Music Awards, nos Estados Unidos, um dos mais importantes da música, e subiu ao palco do evento, em agosto, com uma apresentação de tirar o fôlego. Outro feito foi entrar para o Guinness ao alcançar, em março, o primeiro lugar como artista latina no ranking global do Spotify com "Envolver", com mais de 6,3 milhões de plays em 24 horas. Ainda foi, em novembro, a primeira brasileira indicada a uma categoria principal do Grammy — não ganhou, mas fez história.

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Patricia Vanzolini

A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) é uma das instituições mais importantes do país. Vigente desde 1930, não apenas credencia os formados em direito para atuar na profissão, como funciona como baliza legal no cenário nacional. Neste ano, foi fundamental na defesa da democracia, com a leitura de uma carta em agosto, antes do primeiro turno das eleições. Representando o órgão estava a advogada criminalista Patricia Vanzolini, de 50 anos, a primeira mulher eleita presidente da OAB-SP, a maior seccional da entidade.

Alice Pataxó

Como o país que abriga a maior parte do território amazônico, o Brasil tem papel central nos debates globais sobre clima. Na última COP26, em Glasgow, na Escócia, além de Lula (PT) e Marina Silva (Rede-SP), outra presença marcante foi a da ativista indígena Alice Pataxó, de 21 anos. No dia a dia, ela, que é jornalista, usa as redes sociais para reverberar os direitos dos povos originários. Ela foi indicada pela ativista paquistanesa Malala a compor a lista das cem mulheres mais influentes do mundo feita pela BBC. "O compromisso inabalável da Alice na luta que envolve mudanças climáticas, equidade de gênero e direitos indígenas me dá esperança de que um mundo mais igualitário e sustentável está ao nosso alcance", disse Malala.

Elza Soares

Aos 91 anos, Elza Soares morreu em janeiro, encerrando uma vida de resiliência, sobrevivência e brilho. Uma das cantoras mais importantes da música mundial, cresceu em uma favela, foi mãe pela primeira vez aos 13 anos, perdeu quatro filhos (um deles aos 9 anos), foi vítima de violência doméstica e ficou viúva aos 21. Eleita "voz do milênio", acumulou dezenas de prêmios, incluindo um Grammy Latino. Uma trajetória encerrada como as divas merecem: com comoção nacional. Será lembrada eternamente.

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Gal Costa

Foi um susto. Em 9 de novembro, Gal Costa, ícone da canção brasileira, morreu, aos 77 anos. A exemplo de seus antigos amigos e parceiros de carreira, Bethânia, Caetano e Gil, a cantora vivia, na maturidade, um novo auge criativo. Havia gravado com novos artistas recentemente, tinha agenda de shows cheia e um filho adolescente para criar. A causa da morte não foi revelada, mas sabe-se que ela havia sido submetida a uma cirurgia para retirada de um nódulo na fossa nasal em setembro.

Juliana Vicente

A cineasta Juliana Vicente, de 38 anos, tem a luta nos olhos. Criada em uma família que ascendeu à classe média alta negando o racismo que vivia, ela decidiu deixar tudo explícito. Na faculdade, produziu o premiado filme "Sobre Cores e Botas", em que conta a história de uma menina preta que quer ser paquita. Depois, fundou a Preta Portê Filmes, focada em produções negras. O documentário "Racionais: das Ruas de São Paulo pro Mundo" (Netflix), dirigido por ela, é resultado de um trabalho de quase uma década acompanhando o grupo liderado por Mano Brown. Agora, se prepara para outra missão: dirigir a nova novela das 21h na Globo.

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Isabel Teixeira

Durante a maior parte da carreira, a atriz Isabel Teixeira, de 49 anos, priorizou os palcos às telas. Mas foi na TV que seu talento ganhou o Brasil. Na pele de Maria Bruaca no remake de "Pantanal", representou uma personagem que, maltratada pelo marido, levou o tema da violência doméstica para o horário nobre com maestria, ao mesclar sofrimento com humor e leveza. O amor dos espectadores foi tanto que ela até ganhou apelido nas redes, Mary Bru, e os fãs viraram os Bruaquers. No fim da novela, mais do que um novo amor, ela conhece a paz de ficar bem consigo. Quem dera esse desfecho se multiplicasse.

Lidiane Jones

É de se comemorar o anúncio da brasileira Lidiane Jones como CEO do Slack a partir de janeiro de 2023, o que a torna uma das únicas mulheres a ocupar a liderança de uma empresa de tecnologia global. Formada em ciência da computação pela Universidade de Michigan, ela vive em Boston, é casada, mãe de duas crianças e tem mais de 20 anos de experiência no mercado de inovação, com passagens por gigantes como Microsoft e Apple. Da zona leste de São Paulo, ela credita seu sucesso aos esforços da mãe em lutar por sua educação.

Vera Magalhães

Vera Magalhães, de 50 anos, não se intimidou com os ataques de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) durante a corrida presidencial. Inclusive o próprio presidente respondeu a uma pergunta de Vera em um debate dizendo que ela "dorme pensando nele". Entre outros episódios, a apresentadora do "Roda Viva", da TV Cultura, foi abordada pessoalmente pelo deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos-SP), que a gravou após um debate, enquanto a insultava.

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Klara Castanho

Sofrer um estupro, engravidar, só descobrir quando a gestação já está avançada e, por isso, passar pela aterradora decisão de doar a criança para a adoção seria drama suficiente para a vida de uma mulher. Mas o suplício da atriz Klara Castanho, de 22 anos, foi muito além. Ela enfrenta na Justiça os três formadores de opinião (Leo Dias, Antônia Fontenelle e Adriana Kappaz) responsáveis por tornar pública sua história. Sua luta é para que sejam responsabilizados por violação de privacidade. "Pensei que levaria essa dor e esse peso somente comigo", escreveu a atriz em uma carta aberta publicada logo após o caso vir à tona.

Lethicia Bronstein

Queridinha de famosas por suas rendas, bordados e tecidos exclusivos, a estilista carioca celebrou os 15 anos de sua marca com a inauguração de uma loja de 900 m² na rua Oscar Freire, em São Paulo. Aos 42 anos, ela é CEO e diretora criativa de um grupo que conta com três marcas: Lethicia Bronstein Atelier, Pietra by Lethicia e Le Bronstein. O negócio, avaliado em R$ 40 milhões, passou a contar com um conselho consultivo e recebeu aporte financeiro de terceiros neste ano. O próximo objetivo é a internacionalização das vendas, começando pela Europa.

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Gabriela Ádie

Por cerca de cinco anos, a influenciadora digital Gabriela Ádie, 19, expôs seu delicado processo de transição de gênero nas redes sociais. De Caratinga (MG), ela afirma que, no começo, não tinha grande consciência do que estava fazendo. Post a post, foi ganhando seguidores e encampando uma luta contra a transfobia e a favor da representatividade. Com mais de um milhão de seguidores no TikTok, ela se tornou modelo e estreou nas passarelas da São Paulo Fashion Week, em outubro, ao desfilar pelas marcas Neriage e Martins.

Jojo Todynho

O jeito marrento e debochado da cantora Jojo Todynho, 25, diverte não só ouvintes, mas também seguidores e espectadores. Forte voz da internet —só no Instagram são 24 milhões de seguidores—, estreou na TV aberta comentando a Copa do Mundo na Globo. Enquanto seu trabalho crescia, ela se casou, tirou satisfação pessoalmente sobre ofensas sofridas na internet, se separou e ainda fez festa para comemorar. Encerra o ano após denunciar o ex-marido por violência psicológica, sem medo de falar sobre o assunto, incentivando outras a fazerem o mesmo, e se prepara para uma cirurgia bariátrica: "Não vai diminuir minha luta contra a gordofobia", disse no "Domingão com Huck".

Linn da Quebrada

"Tudo que eu construí até hoje foi com o fracasso", afirmou Linn da Quebrada após ter sido eliminada do Big Brother Brasil 2022. Sua atuação na casa, porém, está bem longe disso. Linn, de 32 anos, escancarou em rede nacional sua luta contra a transfobia em todas as oportunidades que teve. Nos primeiros dias do reality, deu lição nos colegas que insistiam em chamá-la por pronomes masculinos. "Ficou na dúvida? Lê, que aí vocês lembram que eu quero ser tratada nos pronomes femininos". Por atitudes assim, recebeu o título de "campeã moral" do programa.

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Bruna Marquezine

A TV brasileira ficou pequena demais para o brilhantismo de Bruna Marquezine. Este ano, ela foi escalada para atuar em Hollywood. A atriz de 27 anos está em "Besouro Azul", adaptação de um quadrinho da DC Comics, que deve estrear em 2023. Ela dá vida a Jenny, a protagonista feminina do filme, e contracena com o herói Jaime Reyes, vivido pelo ator norte-americano Xolo Maridueña, conhecido por seu papel como Miguel Diaz, na série "Cobra Kai" (Netflix). Cobiçada por grifes internacionais, ela esteve presente nos principais desfiles das semanas de moda europeias.

Fernanda Paes Leme e Giovanna Ewbank

"Quem Pode, Pod", o podcast apresentado por Giovanna Ewbank, 36, e Fernanda Paes Leme, 39, nasceu em julho e tem o mérito de trazer a público a vida pessoal, incluindo a sexual, dos famosos de forma descontraída, bem-humorada e sincera. Com isso, elas contribuem para diminuir o tabu sobre o assunto, desfazendo preconceitos e mentiras sobre a vida íntima das celebridades. A dupla já conseguiu arrancar revelações de nomes como Eliana, Deborah Secco e Angélica.

Publicado em 22 de dezembro de 2022

Edição: Andressa Zanandrea e Camila Brandalise

Design: Juliana Caro