Thamyres Medeiros tinha 16 anos quando deu entrada em um hospital público de Carapicuíba, grande São Paulo, às 2h da manhã com 7 centímetros de dilatação ?a fase final do primeiro período do parto. A lembrança que ela tem é muito ruim. "Me deitaram em uma maca e me deram ocitocina [hormônio usado para acelerar o trabalho de parto]. Depois de cinco horas, a médica rompeu minha bolsa. Já estava exausta. Então, a enfermeira subiu na minha barriga para empurrar", conta. O bebê nasceu por via vaginal, mas o trauma foi tão grande que, em sua segunda gravidez, dez anos depois, Thamyres pediu uma cesariana. "Foi rápido, me trataram bem, não tenho do que reclamar."
A experiência de um parto normal pode mesmo ser traumática ?a mulher está em uma situação de extrema vulnerabilidade: com medo, com seu corpo exposto, insegura, sentindo dor. Ouvindo relatos como os de Thamyres, não é difícil concordar que o parto cesáreo ?sem dor, rápido, feito com hora marcada? pode ser a opção mais confortável e segura para a mulher.
Essa foi a lógica da deputada estadual Janaina Paschoal ao formular um projeto de lei que garante à gestante o direito de optar por ter um parto cirúrgico a partir da 39 semana de gestação, quando, em tese, o bebê já está pronto para nascer.
O projeto, aprovado pelos deputados e sancionada pelo governador de São Paulo em agosto, já está em vigor. Segundo a deputada, a lei aproximará as mulheres pobres das mulheres ricas que, no Brasil, já têm seus filhos via cesariana há pelo menos 40 anos.
Bom para todos, certo? Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Ministério da Saúde, as pesquisas mais recentes e os especialistas ouvidos nessa reportagem, não.