A intuição sempre foi uma característica forte da personalidade de Luana Mafra, de 35 anos. Bastou que olhasse a expressão do médico que acompanhava o andamento da sua terceira gravidez enquanto fazia uma ultrassonografia para que pressentisse que uma notícia ruim estava a caminho. Naquele dia, só o que ouviu durante a consulta foi que o feto estava pequeno, mas que a situação poderia mudar em breve. Uma semana depois, recebeu a confirmação: Eva, fruto de seu casamento com o músico Bruno, não estava se desenvolvendo conforme o esperado.
Após mais exames, que se juntaram como "as peças de um quebra-cabeça", Eva foi diagnosticada com síndrome de Edwards, uma alteração genética que acontece quando a criança carrega três cópias do cromossomo 18 em vez de duas. A condição implica em más-formações que reduzem drasticamente as chances de sobrevivência: apenas 5% dos bebês resistem ao nascimento. Destes, poucos chegam ao primeiro ano de vida.
A lei brasileira permite o aborto se a gravidez se der por estupro, representar risco de vida à mulher ou em caso de anencefalia fetal, mas a Justiça tem dado o direito à interrupção em situações como a de Luana. Ela, no entanto, preferiu seguir com a gestação até quando foi possível. Mesmo sentindo mais dores do que o esperado, escolheu passar por um parto normal: trabalhando como doula, sabia dos benefícios do processo. Ela ainda presenteou Eva com um ensaio fotográfico e planejou com antecedência os detalhes de sua despedida: dos cuidados paliativos que poderia receber na UTI ao cemitério onde ocorreria sua despedida. "Só queria que ela se sentisse amada", diz.
A seguir, Luana conta sua história.