Ela não anda só

Head de marketing da Coca-Cola no Brasil e na América Latina, Poliana Sousa quer levar mais mulheres ao topo

Caroline Marino Colaboração para Universa Ricardo Borges/UOL

Poliana Sousa, de 46 anos, é head de marketing da Coca-Cola para o Brasil e América Latina — posto que assumiu em janeiro deste ano — e quer mais mulheres líderes nas empresas. A pauta de igualdade de gênero, aliás, é uma de suas paixões. Atualmente, é apoiadora do grupo de Igualdade de Gênero da Coca-Cola Brasil, integra o Movimento Mulher 360, e figurou a lista brasileira "Women To Watch" da Forbes em 2020. A executiva trabalha ativamente, desde o início da carreira, para aumentar a presença feminina nos cargos de decisão.

"Já fui discriminada por ser a única mulher em uma sala, já fui interrompida e até me mandaram ficar quieta em uma reunião. Isso sem falar nas cantadas", relata. Na época, década de 1990, ela achava que essas eram situações normais, mas passou a questionar os bastidores desrespeitosos e lutar para que episódios assim não mais se repetissem.

"Ainda bem jovem, comecei a me envolver em grupos de gênero, de apoio à igualdade e à diversidade. Quanto mais avançava, mais percebia que minha voz tinha força. Foi assim que comecei a criar movimentos para mudar o cenário", relembra.

Antes de ingressar na Coca-Cola Brasil, Poliana teve cargos de liderança na Procter & Gamble por mais de 19 anos. Iniciou a carreira na sede da empresa, em Ohio, e ocupou postos em várias unidades de negócios nos Estados Unidos e em Porto Rico. De volta ao mercado brasileiro em 2009, trabalhou com as principais marcas da P&G, como Gillette, Koleston e Duracell. Na empresa, esteve na cadeira de diretora de marketing, comunicação e mídia de 2015 a 2018.

Ricardo Borges/UOL

"Tive uma infância humilde, sem viagens ou almoços em restaurante"

Poliana precisou driblar dificuldades para ascender, mas sempre teve o apoio e os ensinamentos dos pais. Nascida em Formosa, uma cidadezinha perto de Brasília, mudou com a família ainda pequena para o Mato Grosso. "Tive uma infância humilde. Nos primeiros anos em Cuiabá, morávamos em um centro habitacional na periferia da cidade. Só depois de algum tempo, meus pais conseguiram comprar uma casa simples em um bairro de classe média", conta.

Segundo a executiva, apesar de se esforçarem para pagar uma escola particular para ela e os irmãos, os pais não tinham condições financeiras para proporcionar muito mais do que isso. "Não tive viagens de férias, almoços em restaurantes, presentes caros, peças de marca iguais às roupas das minhas amigas da escola. Mas tive uma infância muito feliz. Meus pais, apesar de não frequentarem faculdades, eram muito cultos."

A vida profissional começou a se desenhar aos 17 anos, quando foi para um intercâmbio cultural em Iowa, nos Estados Unidos, por meio de uma bolsa do Rotary Club. Ela chegou a voltar para Cuiabá, mas conquistou uma nova bolsa, desta vez para cursar faculdade fora do país. Assim iniciou a trajetória profissional em Ohio, também nos Estados Unidos.

Ricardo Borges/UOL Ricardo Borges/UOL

"Se nós, diretoras, não fizéssemos a diferença, ninguém faria"

O primeiro emprego de Poliana foi na Procter & Gamble, multinacional americana de bens de consumo. "Eu sempre quis atuar na área de marketing e trabalhar para melhorar a vida das pessoas. Tinha como objetivo chegar à P&G. Quando a companhia abriu processo seletivo, me inscrevi e passei", diz. Foram vinte anos de atuação, sendo dez fora do país e outros dez no Brasil.

Foi lá que sua veia ativista floresceu. Em 2013, fundou um grupo com mais cinco diretoras para trabalhar a pauta de igualdade de gênero. "Se nós, como diretoras, não fizéssemos a diferença, ninguém faria", diz. Segundo ela, o começo foi difícil, visto com desconfiança, mas grupo foi tomando forma e virou uma grande aliança.

Quando saí da empresa, 50% da diretoria era composta por mulheres. Isso me inspirou a não parar

Poliana carregou os aprendizados para a Coca-Cola, onde ocupa a cadeira de vice-presidente de marketing atualmente. Desde que entrou na companhia, em 2018, o assunto foi amplificado. "Apesar de já existirem grupos de diversidade anteriores, a iniciativa era mais tradicional, com discussões e políticas de RH. Quis ampliá-la e conectá-la com todas as lideranças", explica.

Vi vários diretores, antes considerados machistas ou 'isentos', que mudaram o comportamento e estão fazendo a diferença. Não se trata apenas de não ser machista e, sim, de ser antimachista

Ricardo Borges/UOL Ricardo Borges/UOL

Quem é ela no LinkedIn

O LinkedIn é, para Poliana, uma plataforma de comunicação, mas também inspiração.

Uso para compartilhar pensamentos que acho importantes sobre liderança feminina e cases interessantes. Também é essencial para dar visibilidade, reconhecer e valorizar mulheres que estão chegando em bons resultados

Ela também gosta de contar algumas pílulas da própria história para as que estão começando entenderem que é possível alcançar sonhos. "Conto como lidei com as dificuldades, o que aprendi com elas e o que eu faria diferente, se tivesse começado hoje. Acredito muito na parceria entre mulheres", argumenta.

Ricardo Borges/UOL Ricardo Borges/UOL

"O mundo não tolera mais pessoas que não agem com humanidade"

A construção de uma carreira bem-sucedida combina vários elementos, inclusive os mais abstratos, como valores de coragem e ousadia. Poliana reflete, por exemplo, que nunca teve medo de perseverar por seus objetivos, ainda que parecessem inalcançáveis.

Sempre lutei pelo que queria e nunca desisti dos meus sonhos, mesmo quando pareciam malucos. Caso contrário, nunca teria saído de Cuiabá

Ela também credita o êxito à oportunidade e o privilégio de encontrar mentores profissionais. "Não fazemos nada sozinhos e sempre tive muito apoio — de chefes, colegas, coaches. Fui construindo relações ao longo da carreira", afirma. Para ela, a vontade de realizar e criar as pontes necessárias para tanto é uma competência essencial para crescer.

A força de vontade para ir atrás dos resultados e buscar as pessoas certas para cada desafio é fundamental para minha trajetória

Não menos importante, se pudesse caracterizar a própria gestão, diria ainda que o olhar para as pessoas e as conexões são peças fundamentais. "Não é sobre mostrar crachás, é sobre conhecer o time. O mundo não tolera mais pessoas que não agem com humanidade."

Ricardo Borges/UOL Ricardo Borges/UOL

Uma puxa a outra

A executiva teve muitas inspirações femininas para chegar onde está hoje. A mãe, que faleceu há dez anos, foi a principal delas. "Não existe mulher mais inspiradora do que a minha mãe foi. Era batalhadora, presente e a maior apoiadora de todos os meus sonhos", diz. Poliana conta que a mãe costumava dizer que ela poderia ser quem e o que quisesse. "Mesmo quando não tínhamos dinheiro, ela me ajudava a pensar em uma solução para que eu fosse atrás do que queria", afirma.

Pensando em ambiente de trabalho, lembra com carinho de uma chefe que teve na P&G, Graciela Eleta, à época gerente geral da divisão de Porto Rico. "Ela tinha muita energia, garra e vontade de fazer diferente, de criar. Lembro que olhava para ela e dizia: 'nossa, um dia quero ser como a Graciela'". Juliana Azevedo, presidente da P&G no Brasil, também ocupa um lugar afetivo. "Ela me ensinou a ser firme em meus posicionamentos, estar sempre muito preparada e me organizar para entrar segura nas reuniões", conta.

Engana-se quem pensa que as inspirações só vêm da chefia, segundo Poliana.

É impressionante como a gente acha que está ensinando, desenvolvendo, mas toda interação com outra mulher do time ensina muito. É uma troca imensa

3 dicas para as mulheres que querem chegar à liderança

Crie uma meta ou pense no sonho de onde quer chegar. Se você não tiver clareza sobre o destino, será difícil encontrar o melhor caminho

Tenha visão de futuro

A rede de apoio é o que permite que a gente siga o dia com a certeza de que está tudo bem em casa

Busque uma rede de apoio

Tenha alguém que te ouça, ajude e guie ao longo da jornada profissional. Vale um amigo, uma ex-chefe ou até um coach profissional

Conte com uma mentoria

Ricardo Borges/UOL Ricardo Borges/UOL

Leia também:

Divulgação

Uma puxa a outra

Primeira mulher CEO da L'Oréal Brasil, An Verhulst-Santos deixou legado de mais de 50% de liderança feminina

Ler mais
Zô Guimarães/UOL

Ela quer entreter você

Tatiana Costa foi estagiária na Globo e hoje cuida de canais pagos da emissora, onde luta por mais diversidade

Ler mais
Simon Plestenjak/UOL

A missão Playboy

Primeira diretora de canais adultos no Brasil, Cinthia Fajardo quer pornô responsável e com olhar feminino

Ler mais
Topo