Você hoje ocupa uma posição de liderança no Twitter. Teve modelos nos quais se inspirar?
Eu ressignifiquei muito o que é ser bem-sucedida. Duas pessoas foram fundamentais para isso. Primeiro, eu sempre vou falar sobre a fortaleza que era a minha mãe. Ela foi a maior administradora, professora, filósofa, economista que conheci na vida. E, embora tenha tido uma relação de abandono com os estudos, tinha uma concepção "paulofreiriana" de que a educação era transformadora. E me impunha isso como único modo de sobrevivência.
Por outro lado, meu pai trabalhava em emissoras de TV como Globo e a extinta Manchete. E sempre foi do estudo. Ele me levava para passear nas emissoras e aquilo era muito inspirador. Participei de muito Xou da Xuxa, tenho foto com o New Kids on the Block [risos]. Às vezes encontrava Antonio Pitanga, Zezé Motta e outras pessoas conversando e rindo e ficava pensando: nossa, olha essa gente!
Minha infância teve muito sonho. Eu não fazia parte das coisas, mas sabia que existiam. E saber que elas existem, de certa forma, é metade do caminho para fazer parte delas, porque você sabe que é possível.
Você fez faculdade de moda, mas acabou enveredando para outro caminho. Como foi isso?
Meu projeto original era ser advogada. Mas, no último ano antes do vestibular, dou esse "plot twist" e falo que vou fazer moda. Na época, era sobre pertencimento, não exatamente sobre moda. Fiz moda muito porque queria fazer parte daquilo, criar estéticas para que elas fossem validadas a partir da minha perspectiva. E entro na faculdade e ela me é revolucionária. Fiz Santa Marcelina, para criadores. Mas eu era uma péssima estilista. Ainda mais porque sou da geração do Dudu Bertholini, Adriana Barra, Igor de Barros, Wilson Ranieri, uma turma bem "high potential".
Quando entrei na Levi's, passei a fazer uma coisa que todo mundo odiava: viajar com o time de vendas pelo Brasil. Fui do Oiapoque ao Chuí. E voltava e falava: "Não adianta a gente fazer casaco assim, faz muito calor em tal lugar". Montava relatórios e mandava para o global. Isso me levou para o marketing e, mais tarde, para a comunicação.
Houve algum episódio que você considere que foi essencial na sua carreira, o pulo do gato?
Foi quando fui para a Avon, depois de passar pela Estée Lauder. Estávamos fazendo tutoriais e eu sentia um incômodo no estúdio e não sabia por quê. Até que fui a um show da banda Uó. Sentada com a minha breja na mão, olhei a Mel [a vocalista, negra e trans] e pensei: caraca, é isso que está faltando. Está faltando essa beleza, essa cremosidade, essa garota. E entendi o que me incomodava: aquelas pessoas que estavam sendo fotografadas, ditando a beleza, não eram como eu. Falei para minha diretora: "Tem um mundo aqui fora e a gente está fazendo beleza como se fazia há dez anos". E ela: "Vamos fazer diferente, o que de pior pode acontecer? A gente ser demitida?"
Em uma semana a gente estava no estúdio de novo com a própria Mel para filmar. Foi uma loucura. Estou falando de 2015, uma época em que esse debate não estava posto. Muita gente não entendia por que era tão relevante.
Vou ser honesta: nem eu entendia muito. Botamos a campanha no ar com consciência de que era algo importante, mas sem noção do quanto seria essencial depois. Foi o primeiro grande conteúdo orgânico da história da marca. E a Mel passou a ser meu amuleto da sorte.