Formada em direito, Adriana Mori, 45, trabalhava como gerente geral da área jurídica de uma grande empresa, há alguns anos, quando seu diretor saiu. Ela ficou quase um ano tocando o departamento e, sempre que os colegas diziam que ela deveria assumir a diretoria, respondia que não estava preparada. Até que contrataram uma outra pessoa para o cargo sem nem consultá-la.
"Eu estava esperando que viessem e falassem: 'Adriana, presente: você vai ser a head agora do jurídico'", diz a executiva. Passados os meses, ela percebeu que seu novo diretor não era mais qualificado do que ela. Aprendeu a lição.
Tempos depois, quando já trabalhava na Samsung, a mesma coisa aconteceu. Ela não teve dúvida: disse para seu superior que estava preparadíssima para ocupar o cargo de diretora e que queria essa chance. O executivo gostou da coragem e da ousadia e hoje ela é a líder da área de Legal & Compliance da empresa sul-coreana, responsável por contratos, proteção de dados, propriedade intelectual, direito ambiental e contencioso (área que cuida dos interesses da empresa) além de prestação de consultorias internas.
Adriana sabe que o departamento jurídico das empresas tem fama de duro e de chato. "Esse é um dos desafios da minha profissão, as pessoas acham que o jurídico barra tudo. Vivo falando: 'Gente, eu sou legal e dá para a gente fazer tudo, é só agir de acordo com o compliance [diretrizes ética da empresa]'", ela brinca. Para provar isso, implementou o que chama de "jurídico mais aberto" na Samsung. "Hoje as outras áreas me procuram muito. Tentei deixar tudo um pouco mais leve: quando chegam aqui, a gente bate papo, dou minhas opiniões, apresento argumentos", afirma. "Me sinto muito mais próxima do business, das pessoas."
Adriana também sentiu na pele como as coisas costumam ser mais difíceis para as profissionais. Por ser mulher ou por ser jovem, sofreu tentativas de intimidação e olhares de menosprezo. Sentiu-se na obrigação de provar mais, por isso estudava muito, se preparava melhor.
Para evitar que esse ambiente tóxico persista ou se instale, criou um comitê feminino, o Women's at Samsung, que reúne mulheres para discutir coisas como plano de carreira, medos, ansiedades. Homens são bem-vindos, até para que entendam os anseios e evitem comportamentos machistas. "Vendo e ouvindo mulheres inspiradoras, a gente se fortalece e, assim, acaba motivando mais mulheres para cargos de liderança. Porque, às vezes, o que falta é mesmo motivação."