Quais erros você cometeu como chefe? E o que aprendeu com eles?
Eu não entendia que cada pessoa tinha uma forma de lidar com o trabalho. Meu estilo era o de pressionar. Mas aprendi que tem gente que lida muito bem com pressão e tem gente que não. Como trabalhei na Europa por muito tempo, peguei um pouco o estilo dos europeus. Lá, é muito prático. O feedback era: "Isso aqui está ótimo" ou "isso aqui está horroroso por esses motivos. Refaça". E tudo bem. No Brasil, preciso ter mais tato.
Na sua área, quais vantagens uma chefe mulher leva?
Na área da beleza, a vantagem é que a mulher usa todos os produtos que a empresa fabrica. Por mais engajado que seja um homem, ele não se maquia, e não testar o produto que você vende é uma limitação. Quando a P&G foi lançar os absorventes ultrafinos no Brasil, eu avisei que o formato teria de ser menor do que o padrão mundial, porque as calcinhas das brasileiras são muito mais finas. Não me ouviram. Então, quando o presidente da marca veio para o Brasil, eu fui até uma loja de lingerie e comprei todas as calcinhas, uma de cada tamanho. Passei a tarde com a minha equipe colando absorvente em mais de 500 peças. Coloquei todas elas na mesa do presidente. Quando ele chegou, eu disse: "Aqui está o mercado de lingerie brasileiro. Me mostre uma calcinha em que o absorvente encaixa perfeitamente". Resultado: o projeto foi adiado por nove meses porque tiveram de recriar o produto.
Quais são os seus principais feitos como chefe?
Ver pessoas que trabalharam comigo crescendo profissionalmente. Na semana passada, descobri que a ex-diretora regional de maquiagem da Avon, que trabalhou comigo por quatro anos, se tornou presidente da Sephora Brasil. Escrevi para ela dizendo que estou sentindo um orgulho imenso. Para mim, ser chefe é como ser professor. Inclusive, tive um professor de matemática que, uma vez, me disse: "Danielle, você é autoconfiante demais. Vai se dar muito mal na vida".
Com quem uma chefe mulher normalmente pode contar dentro da empresa?
Eu conto com meus pares, mas não há regra. As relações são muito particulares, mas é sempre importante contar com alguém em quem você confie. Outro dia, pedi conselhos para o diretor financeiro; na semana passada, desabafei com o diretor de Recursos Humanos.
Na sua experiência, mostrar fraquezas ajuda ou atrapalha uma mulher?
Hoje, eu acho que ajuda. Para ter empatia, precisamos mostrar que temos fraquezas. Mas, há dez anos, eu responderia que não. Era uma época em que mulher chorar no trabalho era mal visto. E, mesmo assim, eu chorava. Quando eu estava em Genebra, muito infeliz, chamei meu ex-chefe para conversar. Disse: "Esse é o emprego dos meus sonhos, mas estou miserável". Eu tinha acabado de me separar, estava me sentindo sozinha e queria ser transferida. Durante a conversa, eu desabei de chorar. Ele estava sentado e, inconscientemente, foi virando a cadeira para trás. Depois de uma meia hora de conversa, ele estava de costas para mim, só com a cabeça virada. Ele não sabia lidar com aquilo.
Qual a sua estratégia para cuidar bem da sua filha, ter hobbies, namorar e estudar?
Ter disciplina e impor limites a mim mesma. Se eu quisesse, ficaria no escritório todos os dias até meia-noite porque trabalho não falta. É uma escolha dizer "chega" e priorizar as tarefas. A gente nunca vai conseguir fazer tudo. Quando virei vice-presidente de marketing da Avon Brasil, eu disse para a minha filha que viajaria menos, mas que chegaria mais tarde em casa. Faz três semanas que não faço lição de casa com ela, quem faz é a babá. Faz parte. Mas, quando estou com ela, não trabalho. Ela mesma diz: "Mamãe, agora é a minha hora. Desligue seu telefone". Eu já me casei, me separei, e agora tenho um namorado. Não pretendo me casar de novo. Os homens estão perdidos, ser uma mulher bem-sucedida e independente assusta. Viajamos aos fins de semana e está ótimo.
Você já enfrentou preconceito?
Sim, quando cheguei na Europa, precisei provar o tempo todo que eu era boa profissional. As pessoas demoraram a confiar em mim. Mas o preconceito não era só por eu ser mulher, mas por eu ser brasileira, porque, na época, a maioria das brasileiras na Europa eram prostitutas. Minha ex-sogra me deu de presente um livro do Paulo Coelho, "Onze Minutos", que contava a história de uma brasileira que ia morar em Genebra e virava prostituta. Eu morava em Genebra nessa época. Pensei: "Qual mensagem ela quer mandar para mim?".