De hora em hora, mais ou menos, o celular de Joyci Lin, a mulher tida como a mais poderosas da indústria ótica do país, dispara um alarme para lembrá-la de ter "cuidado com a precipitação". E o aviso vale para o trabalho e para a vida pessoal. "Quero resolver tudo rápido. Às vezes, começo a ouvir um áudio de dois minutos, e já vou pedindo informações, antes de ele acabar, sendo que a resposta para elas estava na segunda parte da mensagem. Isso acontece comigo o tempo todo; e no ambiente de trabalho, principalmente, é extremamente prejudicial".
Nascida em Wenzhou, a chinesa Joyci Lin, CEO da GO Eyewear, empresa que fabrica os óculos vendidos em 12 mil óticas do Brasil, entre eles, os gigantes Cartier Lunettes, Gucci, Bottega Venetta, Puma, Alexander McQueen/McQ, Stella McCartney, Speedo e Ana Hickmann, conta que, há alguns anos, o mesmo alarme era programado para desviá-la da distração, problema já superado, segundo ela.
A empresária de 43 anos veio para o Brasil aos sete, com os pais, e, desde o começo, já os ajudava no Bazar Ling Ling, lojinha de produtos variados que tinham no Rio de Janeiro. "O sonho de todo chinês da parte oriental era se mudar para uma terra que tivesse liberdade", diz ela, explicando a migração. Fluente em um dos 100 dialetos chineses, mas evidentemente sem falar português, ela entrou em um colégio público e rapidamente virou a tradutora dos pais. Com a experiência de fazer de um tudo no bazar - contas, telefonemas, pagamentos e muito mais - aos 20 anos, abriu seu primeiro bazar de traquitanas chinesas. Rapidinho, eles viraram quatro. Mas quebraram.
Joyci resolveu vir para São Paulo com o marido e as duas filhas. E estudar mais. Formada em Administração de Empresas, fez um MBA Executivo. Aos 29 anos, começou a trabalhar na GO Eyewear, na equipe que conduzia a transição familiar da empresa. Em quatro anos, se tornou a primeira mulher CEO no segmento ótico brasileiro.
Hoje, a empresa é nove vezes maior desde que ela se tornou presidente. O negócio cresceu, em média, 30% todos os anos. Em 2014, a CEO investiu R$ 30 milhões em uma fábrica, localizada em Palmas, no Tocantins, para acabar com a dependência de produtos importados. Suas primeiras férias --da vida --ocorreram só em 2009. "Não sou uma líder democrática", diz ela. "Líder que é democrático demais se isenta da responsabilidade e se ampara no 'venceu a maioria'". Conselhos de uma CEO chinesa bem conhecida.