A carioca Leila Velez aprendeu com a mãe o pai, trabalhadores humildes, que a educação era o atalho para que ela conseguisse ser o que quisesse na vida. Ele era porteiro, e ela, empregada doméstica. Leila estudou em escolas públicas e se esforçava para achar bolsas de estudos e cursos gratuitos. Começou a trabalhar ainda criança, entregando roupas que a mãe lavava e, jovenzinha, fez faxina numa escola de línguas em troca de aulas de inglês. No começo da vida adulta, entrou como atendente no McDonald´s e, de tanto empenho no trabalho --que incluía ler manuais da empresa referentes a cargos que nem eram os dela -- , se tornou a gerente mais jovem da rede no mundo todo.
Foi um colega de trabalho, Rogério Assis, que a apresentou a Zica Assis (irmã dele), de quem Leia ficou amiga. Zica tinha sido babá e também faxineira. Tinha cabelos crespos e só conseguiu emprego depois que, contra sua vontade, os alisou. Mas não se conformava com essa realidade e a vontade de mudá-la foi o que faltava para ela investir em outra profissão: a de cabeleireira.
Nos idos de 1993, Leila e Zica decidiram empreender juntas e abrir o salão Beleza Natural, no bairro periférico da Muda, no Rio de Janeiro. As duas contaram com o apoio --e as economias-- de Rogério. E também, com a venda do Fusca do marido de Zica, que trabalhava como taxista, mas decidiu apostar no sonho da mulher.
O pequeno salão, hoje, é a maior rede do Brasil especializada em cabelos crespos, cacheados e ondulados. Tem cerca de 130 mil clientes mensais, que são atendidos em 40 salões, localizados em cinco estados brasileiros. A primeira unidade internacional foi aberta recentemente, no bairro do Harlem, em Nova York.
Leila é quem preside a empresa. O inglês, que ela ralou para aprender, foi essencial para que ela conseguisse fazer cursos em Harvard, Columbia e Stanford, nos Estados Unidos. Aos 44 anos, casada e com dois filhos, ela cumpre de dez a doze horas de trabalho por dia e, para dar conta do stress, cansa a beleza em corridas de rua e equitação. Além de reforçar a autoestima da mulher cacheada, ela replica em seus funcionários a lição que aprendeu com os pais: a educação é o caminho que leva para cima. Por isso, investe em treinamentos e incentiva os estudos, inclusive em faculdades, de sua equipe --formada 90% por mulheres.