As mulheres levam em consideração a vida fora do trabalho. A empresa também está atenta a isso?
Com certeza. A empresa te dá todas as condições de ser flexível. Mas isso também vai depender muito do funcionário, porque você pode ser uma pessoa que não consegue gerenciar bem o seu tempo. Ou que acha que se falar que vai precisar sair mais cedo vai pegar mal. E aí entra a questão da diversidade na cabeça dos gestores.
Uma das suas dicas é impor a sua agenda. Como você vê isso na sua vida de maneira prática?
Assim que comecei a trabalhar com a minha antiga chefe, percebi que ela tinha um ritmo diferente do meu. Ela mandava e-mails e mensagens no domingo e esperava resposta. Na primeira vez eu respondi, mas na segunda, não mais, e ela entendeu. A gente nunca conversou sobre isso.
Espero que meus funcionários resolvam as coisas. A melhor coisa que você pode fazer é dar autonomia para as pessoas, porque se não, você não consegue ter a própria vida. Se você quer centralizar tudo, esquece. E tem gente que gosta de ser assim, mas eu prefiro delegar, eu sei que o time é preparado, tem que ter um time competente. É a melhor coisa para um gestor. E se não consegue tomar uma decisão naquele momento, espere o dia seguinte. Será que não é melhor realmente esperar 7 horas de sono da pessoa? Se você ficar 24 horas ligado, ninguém se desconecta.
Minha regra é que, se tiver algo emergencial, manda WhatsApp, porque não vou entrar em e-mail. É uma questão de educação.
E como você administra a rotina com seus filhos?
Comecei a ouvir sobre pais que queriam que as escolas abrissem aos sábados também para que eles pudessem descansar. Uma vez eu li uma matéria que dizia "se você não tem tempo para seus filhos, não tenha filhos". Cheguei na minha filha de 16 anos e perguntei se ela achava que eu era uma mãe presente. Morrendo de medo da resposta. Ela falou que achava sim. Ela reclamou que eu às vezes pego o celular para ver coisas de trabalho quando estamos juntas. Vi, então, que tinha um ponto de atenção e comecei a deixar o celular longe.
As cobranças do mercado são diferentes para uma mulher em uma posição de liderança?
Sendo mulher, a gente costuma ter que mostrar mais no começo do que um homem. Ainda existe, no mercado, essa dúvida sobre se uma mulher é competente mesmo para estar naquela posição. Tem um pouco ainda dessa pegada. Primeiro você mostra que é competente e depois está todo mundo igual. Não é que você chega e, de cara, está todo mundo igual. No ponto de partida, a mulher está um pouco para trás. Tem que se provar um pouco mais para igualar.
E quando isso acontece?
Pode ser na primeira reunião. Nos primeiros cinco minutos da reunião. Às vezes demora um pouco mais do que isso.
Qual é a melhor maneira de lidar com esse primeiro momento?
Eu, pessoalmente, procuro estar preparada, porque sei que isso pode acontecer. Preparada para o assunto, então sei que isso vai passar mais rápido. Esse primeiro choque. Mas já aconteceu de, por exemplo, eu trocar de roupa porque vi na agenda que a reunião teria apenas homens. Porque a pior parte que pode acontecer com uma mulher é passar a impressão de que conseguiu alcançar uma posição por causa da aparência. É uma coisa que talvez eu não me preocuparia se estivesse em um fórum só de mulheres. Seria diferente, porque uma não está tentando ver se a outra realmente sabe do que está falando. A outra mulher tem a mesma sensação. Chega apenas para discutir o assunto.
Ainda é natural isso acontecer. E, do meu lado, ainda é natural eu saber que isso vai acontecer. Eu tenho essa cautela. Mas talvez as próximas gerações já cheguem chutando a canela.