Qual é o seu perfil de liderança?
Eu já fui muito uma líder modeladora, que lidera pelo exemplo. Mas aprendi que nem sempre isso é bom, porque você acaba impondo a sua forma de liderança. Por isso, procuro alinhar a visão e dar liberdade para o time desenvolver seu próprio caminho, sempre buscando apoiar o desenvolvimento de cada pessoa. Além disso, temos um ritmo de trabalho muito puxado aqui, pela intensidade do varejo e pela nossa obsessão de entregar com excelência. Mas incentivo muito as diretoras nesse balanço entre o profissional e o pessoal. Então, se o momento do negócio está mais tranquilo, estimulo a sair mais cedo, buscar o filho na escola. Eu mesma faço muito isso. É essencial para conseguir ter equilíbrio.
Olhando para trás, o que você identifica como fundamental na sua trajetória para que tenha chegado onde chegou?
Acho que o segredo é muito a confiança e a autoestima. Minha mãe nasceu no interior de Pernambuco e, inspirada na figura do pai dela, que era médico, saiu de lá para fazer medicina. Veio morar sozinha em São Paulo e fazer residência no Hospital das Clínicas. E foi quando conheceu o meu pai, que também veio de uma família que lutou muito. Ele começou a trabalhar com 12 anos e sustentava a casa. Ele trabalhava durante o dia e estudava à noite, e assim fez faculdade de medicina na Pinheiros - sendo que os pais dele mal tinham feito o primário.
Então eu sempre tive muito exemplo em casa, de acreditar que cada um de nós tem essa força interna. Nunca me coloquei nessa posição de inação frente a um contexto adverso. Além disso, meus pais sempre me deram muita liberdade para escolher o que eu queria fazer. Na época de entrar na faculdade, aliás, eu queria fazer Belas Artes, medicina ou economia. Acabei estudando na Fundação Getúlio Vargas.
Você logo foi trabalhar com consultoria e fez uma carreira importante na McKinsey. Em um ambiente tão masculino, existe algum tipo de apoio para as mulheres?
Lá, já no ano 2000, havia vários grupos para discutir diversidade, de mulheres, de LGBT, negros. Isso vinha muito da tradição americana. Ali também encontrei outras mulheres que foram muito importantes para o meu desenvolvimento, caso da australiana Tracy Frances, que hoje é senior partner da empresa e continuou minha amiga.
Como ela te inspirou?
Um dos valores caros à McKinsey é que todos devem ser ouvidos, independentemente de sua posição. E ela, especialmente, estimulava muito isso. Lembro que eu era analista, tinha acabado de me formar, e ela estava para virar sócia. Estávamos em um cliente, fazendo uma apresentação para o presidente e o conselho - todos homens. Éramos só eu e ela de mulheres na sala. E ela me incentivou a apresentar o projeto final, mostrou que eu tinha todas as condições de fazer aquilo e me deu muita confiança.
Depois que saiu da McKinsey, você entrou no mundo da moda, de onde não saiu mais. Como chegou à Arezzo?
Passei seis anos na C&A e depois fui convidada para ir para a Dafiti, onde pude pensar o e-commerce e todo esse novo mercado. O grande objetivo deles era se tornar "o" destino de moda online da América Latina, e para isso entendiam que era preciso investir em marcas próprias. Entrei para isso e era também responsável pelas marcas de terceiros, ou seja, as marcas da Arezzo & Co, que, na época, não eram vendidas lá. Foi quando um headhunter me procurou para falar de uma vaga na Arezzo. Só que eu estava na Dafiti fazia só um ano e meio, não pretendia sair. Acabei topando conversar com o Alexandre, porém, porque queria convencê-lo a vender as marcas da Arezzo na Dafiti. Só que ele que me convenceu a vir para cá, com desejo de construir algo maior a longo prazo.