Dias antes do anúncio do prêmio, no início do mês, a chef recebeu a notícia enquanto tomava café da manhã com Virgilio e o filho dos dois, Cristóbal, de cinco anos. Primeiro, veio a surpresa. Depois, um sentimento de gratidão. Ela tinha certeza de que o reconhecimento viria, só não sabia quando nem como.
"Quando alguém tem um trabalho constante, é muito perseverante, trabalha bem e está tranquila com si mesma e com o que faz, os resultados chegam em algum momento. Pode ser rápido ou não, mas chegam", diz, confortável na cadeira número um dentre as mulheres na cozinha.
Síndrome da impostora? Ela nunca tinha ouvido a expressão até ser questionada pela reportagem de Universa. "Sou uma boa líder para minha equipe. Sou segura e digo isso humildemente. Sim, tenho coisas para aprender e há coisas nas quais não sou boa. Há coisas em que sou melhor, definitivamente", avalia.
A adrenalina da cozinha é um combustível para ela, que gosta de encarar situações complicadas que exigem reações rápidas, mas equilibra essa tensão com um estilo de liderança participativo e alegre.
"A ideia na Casa Tupac [complexo que abriga o Kjolle, o Central, o bar Mayo e uma das sedes do laboratório Mater] é que você venha trabalhar contente e feliz. Não é um mar de rosas, não vou mentir, mas queremos que as pessoas venham contentes, com vontade. Sou muito amigável, escuto muito. Mas, quando tenho que ficar com raiva, eu fico. É necessário ser um pouco rígida na medida certa."
Outro traço da melhor chef do mundo é a determinação. Aos sete anos, começou a bisbilhotar a cozinha de casa para ajudar. Tempos depois, preparava sobremesas como tortas de cenoura e de chirimoya (fruta peruana da mesma família da fruta-do-conde e da pinha).
A mãe tinha uma empresa de catering e cozinhava muito bem. Assim, o gosto por comer rico, como se diz no Peru, passou para todos os filhos. "Ela foi um exemplo pra mim de trabalho árduo, de ser muito perseverante e responsável", conta. Quando terminou o colégio, já estava claro que iria estudar gastronomia. Foi quando se inscreveu na Le Cordon Bleu de Lima.
Se de um lado Pía sempre foi determinada e confiante, a melhor chef do mundo teve que travar uma batalha interna contra uma forte timidez que as pessoas confundiam com antipatia. Fez muita "terapia interna" e contou com a ajuda do marido e da cunhada Malena, que dirige o centro de pesquisas Mater. "Converso muito com eles. Isso foi minha terapia. Passou um tempo, fui melhorando e agora já consigo curtir conversar com alguém que não conheço", revela.
Prova disso são as entrevistas que passou a dar com mais frequência e a participação na série de culinária infantil Waffles e Mochi, da Netflix, produzida por Michelle Obama. A cada episódio, os dois fantoches que dão nome à série apresentam frutas e verduras de forma lúdica ao lado de chefs convidados. Pía gravou em Cusco e levou o filho, que entrou em algumas cenas.