Nazareth Sojo, 37, veio da capital da Venezuela, é caraquenha de nascença. Lá viveu até decidir cruzar a pé a fronteira do país com o Brasil, em 2018. Não por vontade de abandonar seu próprio chão, mas por medo da fome e pelo impulso de proteger sua família. "A gente estava muito desesperado."
Desde então, é professora de idiomas na ONG Abraço Cultural, em São Paulo, em que refugiadas e refugiados atuam como professores de idiomas e cultura. É assim que ela ajuda a manter sua família em solo venezuelano, inclusive agora, em tempos de pandemia.
Há oito meses, celebrava o Carnaval com a família que visitava o Brasil, sem imaginar que o vírus se aproximava da região. Pouco tempo depois, tudo mudou. O primeiro caso de covid-19 em solo latino-americano foi confirmado em 26 de fevereiro, após um brasileiro voltar de viagem da Itália. Rapidamente, a contaminação se tornou comunitária e, em março, diversos países já começavam a sentir os abalos sociais e econômicos da crise sanitária e social.
Desde junho, a América Latina se tornou um dos epicentros da pandemia. Dos mais de 50 milhões de casos e das mais de 1,2 milhão de mortes pelo mundo, ao menos 21 milhões de infectados e mais de 659 mil mortes estão na região das Américas, conforme mostra relatório de 8 de novembro da Organização Panamericana de Saúde.
"Já é difícil estar fora de seu país por uma situação que te impulsionou a sair. Agora, além das saudades de lá, não posso nem ver a família que fiz aqui", diz Nazareth. Com a pandemia, a distância dos alunos e a necessidade de se adaptar às aulas online fizeram com que a solidão e a saudade aumentassem. Para cuidar do emocional, Nazareth recebe apoio psicológico voluntário. "O mais difícil é ficar completamente isolada. Não sabia da importância desse suporte psicológico", diz.