Deitada na maca, de máscara, era a terceira vez em que eu via meu leite saindo não pelo bico do peito, mas pela lateral superior da mama esquerda —extraído por uma seringa e com uma cor esverdeada. Foi isso mesmo que você leu: leite verde. Urgh! Ainda assim, o médico comemorou: "Desta vez, foram só 18 mililitros". Das outras, ele tinha aspirado 80 ml e 50 ml de líquido purulento da minha mama. "Vamos torcer para esta ser a última vez. Se não, você pode ter que fazer uma cirurgia. Ou desmamar."
Depois de sentir dor, muuuita dor, eu chegava à minha segunda mastite com um abscesso que insistia em não ir embora. Mas minha bebê só tinha três meses e, apesar de estar ralando nessa tarefa desde o início, não passava pela minha cabeça parar. Por sorte, o terceiro procedimento fez efeito, o abscesso se escafedeu e pude me concentrar, enfim, nos outros tantos perrengues do 'panderpério' (um puerpério em meio à pandemia do coronavírus). Nina está com 1 ano e 8 meses e seguimos firmes na amamentação —e, agora, curtindo.
As vantagens do leite materno são imbatíveis. Ele protege contra infecções e alergias e reduz o risco de mortalidade infantil. Estudos indicam que mamar no peito pode aumentar, ainda que de forma modesta, o QI da criança. Para a mãe, diminui o risco de câncer de mama e de ovário e ajuda a superar a depressão pós-parto. Para a dupla, ajuda a criar um vínculo entre mãe e bebê que nem sempre é automático. A Organização Mundial de Saúde recomenda o aleitamento materno exclusivo até os seis meses. E que o leite da mãe siga como alimento complementar até a criança completar dois anos.
Tudo lindo na teoria. Mas o que a OMS, a sua avó e a maioria das suas amigas não te contam é que, na prática, amamentar, além de um direito, é também um esforço que vai muito além de acertar a pega do bebê.
"Colocaram a amamentação como uma responsabilidade exclusiva da mulher, quando não deveria ser", diz a psicóloga perinatal Carla Mantovani. Para algumas mães, dar de mamar pode ser fácil, divino, maravilhoso. Mas, para muitas, envolve uma sequência de sufocos —físicos, psicológicos e até financeiros— ainda maior do que a minha.