Lidiane Maia Martinelli, fotógrafa, 32 anos, de Vila Velha (ES)
"Estamos completando 13 anos juntas. Foi meu primeiro namoro e será para sempre.
Quando a gente se conheceu, percebemos muitas coisas em comum como gostar de maquiagem, de lápis de olho. E ela era apaixonada pelas minhas roupas, amava um vestido, uma renda, ficava deslumbrada. Mas até então não notamos nada.
O nascimento do nosso filho, Bryan, foi o estopim. Ele tinha seis meses de vida quando a Nicole falou que não estava feliz com o corpo que tinha, e minha cabeça deu um nó. Falava que tinha nojo do próprio corpo, e eu não entendia.
Cheguei a procurar psicólogos, mas, infelizmente, alguns demoraram a entender, outros falaram que era mais fácil me separar. Mas não era o que eu queria.
Eu poderia ter terminado, mas é um amor muito forte, de alma, que não tem como descrever. Foi um trabalho aprender a falar o nome e passar por tudo isso.
Olhava para ela e não via uma mulher. E Bryan era bebê. Pensei no futuro, na escola dele, no mundo preconceituoso.
Algumas pessoas falaram que ela estava sendo egoísta comigo, pensando somente nela. Mas foi uma escolha. E escolhemos estar juntas.
Fomos conversando, ela foi me mostrando sugestões de nomes franceses, pedia minha opinião, e decidimos por Nicole. Nada em relação à sexualidade mudou. E nosso amor, carinho e afeto permaneceram.
Mas muitos amigos se afastaram da gente. Foi uma fase difícil. A gente ia ao shopping com a criança, e todo mundo olhava. Tínhamos muito medo e sentíamos aquela energia pesada. Fotografava muitos casamento, famílias, e os clientes sumiram quando souberam.
Houve um período em que ficamos muito trancadas, com medo de julgamentos.
Nosso filho está com seis anos. Ele é um amor. Crianças são puras, nem tentam compreender. Para ele, sempre fomos duas mamães, apesar de saber da verdade, porque já viu fotos antigas. Na escola, a professora dele é psicóloga e foi maravilhosa nesse processo.
.
A ideia de um novo casamento veio quando descobri um concurso em que o casal com a melhor história ganharia uma cerimônia. Gravamos um vídeo e assim renovamos os nossos votos.
Foi muito simbólico. A Nicole chorou horrores. Foi muito importante para ela, principalmente porque, na primeira vez, nos casamos somente no cartório.
O diálogo e a resiliência fazem parte do relacionamento. Mesmo que a escolha fosse não estarmos mais juntas, o amor prevalece."