13 de outubro de 1970. Angela Yvonne Davis, 26, está subindo para o quarto de um hotel em Nova York quando sente que uma pessoa se aproxima pelas suas costas. É segurada pelo braço por um "homenzinho frágil", que lança a ela uma pergunta que ouviria repetidamente de outros homens naquela cena: "Você é Angela Davis?". De frente para a "terrível inimiga comunista negra", o agente do FBI queria a confirmação de que ela era, de fato, a mulher que figurava na lista das dez pessoas mais perigosas do mundo.
A prisão de Angela Davis projetou seu nome para o mundo. A mulher negra que se tornou filósofa, ativista, intelectual e, na época, também integrante do partido comunista, foi presa por "assassinato, sequestro e conspiração" e, com a detenção, anexou em sua ficha o rótulo de figura pública. Angela virou tema de música dos Rolling Stones, "Sweet Black Angel", e de John Lennon com Yoko Ono, "Angela". Foi dada como integrante do Black Panther Party, o Partido dos Panteras Negras. Se tornou a voz entre os feminismos negros. E, durante quase um ano e meio em que esteve na cadeia até ser inocentada, mobilizou gente de vários países pela campanha "Free Angela Davis" (Libertem Angela Davis). A prisão transformou Angela em uma referência para a cultura pop.
Sua trajetória foi escrita por ela mesma em "Angela Davis - Uma Autobiografia" e lançada originalmente nos Estados Unidos em 1974. A versão brasileira chegou neste ano ao Brasil pela Boitempo, editora que agora traz a autora ao país para dois depoimentos sobre o tema "A liberdade é uma luta constante". A participação de Davis acontece dentro do Seminário "Democracia em colapso?", no Sesc Pinheiros, no próximo dia 19, e na plateia externa do Auditório do Ibirapuera, no dia 21, em São Paulo. Ela também irá ao Rio de Janeiro, no dia 23, para conferência aberta.
Nascida em Birmingham, a maior cidade do estado norte-americano do Alabama, Angela Davis vem ao Brasil não apenas como uma feminista negra. Ela também é uma voz em defesa do abolicionismo penal, uma mulher negra que se articula politicamente ao longo dos anos para denunciar as opressões de raça, gênero, classe e sexualidade e suas intersecções. E, claro, uma personalidade "pop" da luta pelos direitos humanos, que fez com que os ingressos para ouvi-la se esgotassem em poucas horas.