No dia 17 de março de 2017, encontrei o Arlindo inconsciente no chão do banheiro da nossa casa, na Barra da Tijuca. Ele teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral) enquanto tomava banho. Saí na ambulância junto com ele e só voltei oito meses depois. Foram meus filhos que levaram meus pertences para o hospital, como roupa e documentos. E lá no hospital me cederam um quarto, no mesmo andar do CTI (Centro de Terapia Intensiva) onde ele foi internado.
O Arlindo ficou 18 meses em coma. Era tudo muito imprevisível. Os médicos me chamavam e diziam: "Babi, reúne seus filhos porque ele não passa de hoje, a infecção está generalizada". Além do AVC e da infecção, Arlindo teve embolia pulmonar, eu via sangue saindo pelo nariz e pela boca dele.
Durante esse tempo, comecei a definhar. Caíam placas de cabelo e minha cabeça ficou pelada, tive que cortar muito curtinho.
Voltamos para casa no início de julho de 2018, lembro que era Copa do Mundo. O Arlindo estava ainda muito inchado da medicação, já tinha passado por quatro cirurgias na cabeça. Mas, quando chegou no quintal de casa, reconheceu tudo imediatamente. Dei um beijo na boca dele e uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Falei: 'Eu disse que você voltaria para casa'.
Nesse dia, eu tinha pedido para servirem bobó de camarão, e o Arlindo, assim que sentiu o cheiro, abriu a boca e comeu tudo. Fazia um ano que ele não sentia o sabor de nada, por causa da sonda que usava no hospital.