De Zumbi a Marielle
Zumbi dos Palmares, ao ser morto, teve sua cabeça cortada, salgada e exposta em praça pública, para que fosse desmentida a lenda de que ele era imortal.
O líder negro comandou por 15 anos o Quilombo dos Palmares, maior reduto de resistência à escravidão do período colonial, que chegou a ter o tamanho de Portugal e contar com 30 mil escravos fugitivos de fazendas, senzalas e prisões.
Sua morte aconteceu no dia 20 de novembro de 1695, num território que hoje pertence a Alagoas. Naquele ano, Pedro II de Portugal premiou com 50 mil réis o capitão responsável pelo assassinato.
Desde 2011, a data de sua morte passou a ser "celebrada" como o Dia da Consciência Negra e um convite para que reflitamos sobre a inserção do negro na sociedade brasileira.
De que "inserção" estamos falando?
Marielle Franco, ao ser morta, teve sua cabeça atingida por três tiros, e o pescoço, por outro. O caixão em que foi enterrada precisou ser lacrado porque seu rosto ficou desfigurado. Marielle está presente. E não é lenda.
Negra, intelectual, política, bissexual, mãe e favelada, Marielle cresceu no Complexo da Maré e em 2016, com mais de 46 mil votos, foi a quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro. Formada em Sociologia e mestre em Administração Pública, sua dissertação, intitulada "UPP - a redução da favela a três letras: uma análise da política de segurança pública do estado do Rio de Janeiro", revelava alguns dos temas com os quais se preocupava, como direitos humanos e moradores de favelas. Mas Marielle ainda usava sua voz potente, seu sorriso largo, os cabelos black power e coloridos vestidos na defesa do feminismo e das populações LGBT e negra. Por incorporar tantas bandeiras e ocupar um espaço majoritariamente tomado por homens brancos, ela incomodava muita gente.
No dia 14 de março deste ano, ela foi assassinada junto com o motorista Anderson Gomes, quando voltava de uma palestra. Mais de oito meses depois, o crime segue sem elucidação. A polícia carioca trabalha com as hipóteses de que policiais, ex-policiais, milicianos e empresários do jogo bicho estejam envolvidos com os crimes.
Neste dia da Consciência Negra, Universa presta uma homenagem a Zumbi, a Marielle e a mais 11 mulheres negras, brasileiras e da contemporaneidade que tiveram papel dos mais importantes no espaço em que escolheram e batalharam para atuar. Estamos juntas.