Elas revolucionaram
a sua vida

(e talvez você nem saiba)



Texto: Giuliana Bergamo
Ilustrações: Kiki Tohmé

Fazer um raio-x e um filho. Conectar-se a uma rede wi-fi e cair no samba. Faturar uma grana nas redes sociais e agir como der vontade, independente de ter 20 ou 80 anos. Por mais que, nos últimos séculos, a história tenha privilegiado feitos e transgressões masculinas, a verdade é que, não fosse o trabalho - e as ousadias - das mulheres, nossa vida seria diferente. Para pior.

Inovações comandadas por cientistas, atrizes, jornalistas e educadoras levaram a progressos - nas ciências, na política e no comportamento - que reverberam até hoje. Infelizmente, algumas permanecem desconhecidas de muitos. Neste 8 de março, Universa apresenta dez dessas mulheres.

Maria Firmina
dos Reis

(1822 -1917)


É considerada a primeira romancista do Brasil. Na obra "Úrsula", de 1859, expôs a crueldade da escravidão, bem antes de Castro Alves fazer o mesmo em "O navio negreiro", de 1869. Em 1880, oito anos antes da Lei Áurea - que decretou o fim da escravidão no Brasil -, montou a primeira escola mista em Guimarães, no Maranhão, sua cidade natal. Não há registro conhecido do rosto da escritora. Sabe-se que era negra.

Arethuza de Aguiar

(1939)


Ela foi a primeira mulher a divorciar-se no Brasil, em dezembro de 1977 - e também a primeira a ocupar o cargo de juíza de paz no país. Resultado de uma luta que mobilizou setores mais progressistas da sociedade - nos quais Arethuza estava engajada - a sanção da lei do divórcio permitiu que mulheres voltassem a se casar após o fim de uma ou mais uniões civis.

Dercy Gonçalves

(1907-2008)

Mesmo dizendo que feministas eram umas babacas, Dercy passou seus 101 anos de vida desafiando expectativas de gênero. Boa parte das jovens que libertaram os peitos no último Carnaval talvez não saibam, mas bem antes do movimento "free the nipples" ela encantou o Brasil exibindo os seios na Sapucaí - no Carnaval de 1991, aos 83 anos, ano em que a escola de samba Viradouro a homenageou.

Tia Ciata

(1854-1924)

Aos 22 anos, Hilária Batista de Almeida e uma filha pequena deixaram o Recôncavo Baiano rumo ao Rio de Janeiro. Na cidade, ela se casou, teve outros 14 filhos e se tornou mãe de santo, a Mãe Pequena. Em sua casa - localizada na rua Visconde de Itaúna, 117, no Centro - recebia os principais músicos da época. Sob os auspícios de tia Ciata foi composto "Pelo telefone", gravado por Donga, em 1917, e tido como um marco das origens do samba.

Leolinda Daltro

(1859-1935)

A educadora é considerada uma das primeiras sufragistas (ativistas pelo direito ao voto das mulheres) e precursora do feminismo no Brasil. Fundou o Partido Republicano Feminino, três jornais para as mulheres e foi uma das criadoras da Linha de Tiro Feminino Orsina da Fonseca, onde elas treinavam com armas de fogo. No fim do século 19, viajou pelo Brasil divulgando ideias como a educação laica e os direitos indígenas.

Marie Curie

(1867-1934)

Em 1903, esta polonesa se tornou a primeira mulher a receber o Prêmio Nobel de Física. Oito anos depois, levou o Prêmio Nobel de Química pela descoberta de dois elementos da tabela periódica: o polônio e o rádio. Tais achados permitiram, por exemplo, a criação dos exames de raio-X, ainda hoje fundamentais na medicina.

Miriam Menkin

(1901-1992)

Foi a responsável pela experiência bem-sucedida de fecundar um óvulo fora do corpo humano. A façanha se deu em fevereiro de 1944, no Free Hospital For Women, em Brookline, Massachusetts (EUA). Nascida na Letônia, Miriam tinha 43 anos quando demonstrou ser possível encontrar soluções para a infertilidade.

Ada Lovelace

(1815-1852)

Se você já encontrou um amor, refez uma amizade, emplacou um negócio ou divulgou sua arte em uma rede social, de certa maneira, deve isso a esta mulher. No início do século 19, no Reino Unido, ela previa que os computadores pudessem fazer mais do que cálculos. Assim criou o primeiro algoritmo a ser processado por uma máquina. Sua mãe, Anne Isabella Milbanke, foi quem transmitiu a ela o gosto pela ciência.

Hedy Lamarr

(1914-2000)

Durante a Segunda Guerra, junto do também inventor e compositor George Antheil, desenvolveu nos Estados Unidos um aparelho de interferência em rádio para despistar nazistas. Décadas mais tarde, a criação serviu de base para a tecnologia wi-fi. Na época, porém, o equipamento não chegou a ser usado. Somente em 1962 foi aproveitado pelas tropas americanas em Cuba, durante a Crise dos Mísseis, e, anos mais tarde, na Guerra do Vietnã (1955-1975). Hedy - que também fez carreira como atriz de cinema - só seria reconhecida pela invenção em 1997, três anos antes de morrer.

Nellie Bly

(1864-1922)

No início de 1890, a jornalista americana Nellie Bly (pseudônimo de Elizabeth Cochran Seaman) deu uma volta ao mundo em menos tempo do que Phileas Fogg, o personagem de Júlio Verne em "A volta ao mundo em 80 dias". Para isso, teve de convencer seu editor no "New York World" a delegar a missão a ela e não a um homem. Ela concluiu a viagem em 72 dias.

Publicado em 8 de março de 2023.
Texto: Giuliana Bergamo
Edição: Adriana Negreiros
Ilustração: Kiki Tohmé