Novembro de 2015: em uma das regiões mais movimentadas de São Paulo, Marcela Nogueira dos Reis, então com 18 anos, travou o trânsito ao lado de outros alunos da Escola Estadual Fernão Dias Paes, depois de meses ocupando a unidade de ensino em que estudava. Organizados, foram ao cruzamento das avenidas Faria Lima e Rebouças com cadeiras da sala de aula para chamar a atenção da população sobre a pauta daquele que ficou conhecido como o "movimento dos secundaristas".
Março de 2022: 7 anos depois, estamos de volta com Marcela no mesmo lugar da foto que marcou a vida dela - e de tanta gente. Naquela época, Marcela era uma das meninas mais expostas nas manifestações em oposição àquilo que o governo do estado chamou de "reorganização" das escolas. Atravessando a avenida para reviver o clique emblemático, ela lembra que, após seu rosto estar na capa de jornais e sites de notícias, ficou também na memória dos policiais militares de Pinheiros, bairro em que estudava e morava. "Você não é a menina da ocupação?", ouviu deles, conta, durante alguns anos.
2015 também foi o ano da "Primavera feminista": além de movimentos na rua, a internet abrigou levantes como a hashtag #PrimeiroAssédio, em que foram publicados relatos de assédio sexual. Um dos estopins para a mobilização feminina foram as mensagens de teor sexual que Valentina Schulz, então com 12 anos, recebeu após sua participação no programa de TV MasterChef Júnior.
O movimento secundarista não era essencialmente ou estritamente feminista. Para Marcela, no entanto, foi naquele cenário que se reconheceu como uma "mulher de luta". Por isso, o convite de Universa para recontar sua história a tocou tanto; antes de topar, a jovem confirmou com a terapeuta se seria uma boa ideia mexer em memórias de dias de muito amor, mas também de repressão e resistência.
Nesta reportagem especial no Mês das Mulheres, ela e outras jovens contam como a luta as transformou. E falam também quais as mudanças que querem para o mundo, especialmente para as mulheres.